terça-feira, 2 de agosto de 2011

"As Palavras" - Poema de Eugénio de Andrade


Jorge Pinheiro, Sem título (da série "Mapas"), 1976, Tinta-da-china e aguarela sobre papel



As palavras


São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.

Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
 

Eugénio de Andrade
In Coração do Dia (1958)


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