domingo, 30 de outubro de 2011

"Missa de Aniversário" - Poema de Ruy Belo


August Strindberg, Beach Party, 1873



Missa de Aniversário


Há um ano que os teus gestos andam 
ausentes da nossa freguesia 
Tu que eras destes campos 
onde de novo a seara amadurece 
donde és hoje? 
Que nome novo tens? 
Haverá mais singular fim de semana 
do que um sábado assim que nunca mais tem fim? 
Que ocupação é agora a tua 
que tens todo o tempo livre à tua frente? 
Que passos te levarão atrás 
do arrulhar da pomba em nossos céus? 
Que te acontece que não mais fizeste anos 
embora a mesa posta continue à tua espera 
e lá fora na estrada as amoreiras tenham outra vez florido? 

Era esta a voz dele assim é que falava 
dizem agora as giestas desta sua terra 
que o viram passar nos caminhos da infância 
junto ao primeiro voo das perdizes 

Já só na gravata te levamos morto àqueles caminhos 
onde deixaste a marca dos teus pés 
Apenas na gravata. A tua morte 
deixou de nos vestir completamente 
No verão em que partiste bem me lembro 
pensei coisas profundas 
É de novo verão. Cada vez tens menos lugar 
neste canto de nós donde anualmente 
te havemos piedosamente de desenterrar 
Até à morte da morte 


Ruy Belo, in “Aquele Grande Rio Eufrates”


August Strindberg, White Mare IV, 1901


"Quem não sabe o que é a vida, como poderá saber o que é a morte?"

Confúcio 
filósofo chinês 
(551 a.C. - 479 a.C.)


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