quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

"Carta ao Oceano" - Poema de António Nobre


Joseph Mallord William Turner (1775-1851), Calais, 1803, Tate Gallery, Londres



Carta ao Oceano


Ó Grande Alma trágica e sombria!
Quando hás de enfim, na campa repousar?
Após a luta persistente e fria,
Ah, quanto é bom morrer... dormir... sonhar...

Estrebuchas nas ânsias da agonia,
Há mil e tantos séculos, ó Mar!
E nunca cessas de lutar, um dia,
E nunca morres, Alma singular!

Mas, ao chegar teu último momento,
Quando zurzir nos ares a metralha
Da tua alma desfraldada ao vento:

Envolto nessa líquida mortalha,
Tu cairás prostrado, sem alento,
Como um guerreiro ao fim d'uma batalha! 


António Nobre, 
Poesia Completa,
Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2000 


António Nobre nasceu em 1867, no Porto, no seio de uma família de comerciantes oriunda do Douro, onde possuía propriedades rurais. Em 1888, iniciou estudos de Direito em Coimbra. Aí conheceu o poeta Alberto de Oliveira, com quem participou, no ano seguinte, numa das revistas fundadoras do simbolismo português, a «Boémia Nova». 
Depois do chumbo em dois anos consecutivos, partiu rumo a Paris em 1890 (ano da primeira edição do livro ) para se inscrever na Sorbona, onde obteve a licenciatura em Direito, três anos depois. Apresentou-se, então, ao concurso para o lugar de cônsul, em que seria aprovado. No entanto, a doença impediu-o de ocupar o lugar atribuído. 
Vítima de tuberculose, os restantes anos de vida do poeta foram passados entre Lisboa, o Porto, a quinta familiar no Douro, a Suíça e a Madeira, em busca de melhoras cada vez mais remotas. António Nobre faleceu em Março de 1900, na Foz do Douro.
 
Obras principais:
(1890 - 1ª ed.; 1898 - 2ª ed. revista pelo autor)
Despedidas (1902)
Primeiros Versos (1921) 


Sem comentários: