domingo, 11 de março de 2012

"Os sobreiros sonham" - Poema de Armindo Rodrigues





Sobreiro (Cortiça)


Os sobreiros sonham 


Os sobreiros sonham 
sonhos desvairados, 
que só os pastores 
e as pedras suspeitam. 

Sonham que são livres 
e vão pelo mundo, 
com raízes de água 
e cabelos soltos. 

No céu para lavrar, 
as nuvens são cardos 
e o sol um milhafre 
que esvazia os olhos. 

Dos sonhos só resta 
a angústia que os ousa. 
A angústia é concreta. 
Os sonhos são sombras. 

Seguros à terra 
com garras de bronze, 
os sobreiros sonham 
impossíveis rumos. 


Armindo Rodrigues
(1904-1993), 
in Obra Poética, vol. III 


Armindo José Rodrigues (Lisboa, 1904 – Lisboa, 8 de Agosto de 1993), foi um médico, tradutor e poeta português. Formou-se em Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e é considerado um escritor do movimento neo-realista português. Grande parte da sua infância foi passada no Alentejo. Colaborou em diversas revistas como a Colóquio-Letras (da Fundação Calouste Gulbenkian), a Seara Nova, a Vértice e em jornais como O Diabo e Notícias do Bloqueio. Tendo vivido durante o regime salazarista, e tendo ideias contrárias ao regime vigente, foi por diversas vezes preso. Na sua luta contra o fascismo, pertenceu a diversas organizações clandestinas. Participou nas campanhas eleitorais de Arlindo Vicente e de Norton de Matos, nos anos 1945, 1949 e 1958. Armindo Rodrigues fez parte do Movimento de Unidade Democrática (MUD). Foi um dos fundadores do PEN Club Português, juntamente com outros escritores portugueses de renome, tendo sido nomeado vogal. 
Fez traduções de autores como André Malraux, Alain-Fournier, Mikhail Cholokov e Oscar Wilde.





O sobreiro

O sobreiro, sobro, sobreira ou chaparro (Quercus suber) é uma árvore da família do carvalho, cultivada no sul da Europa e a partir da qual se extrai a cortiça. O sobreiro é, juntamente com o Pinheiro-bravo, a espécie de árvores mais predominante em Portugal, sendo mais comum no Alentejo litoral e serras Algarvias. 
É devido à cortiça que o sobreiro tem sido cultivado desde tempos remotos. A extração da cortiça não é (em termos gerais) prejudicial à árvore, uma vez que esta volta a produzir nova camada de "casca" (súber) com idêntica espessura a cada 9 - 10 anos, período após o qual é submetida a novo descortiçamento. O sobreiro também fazia parte da vegetação natural da Península Ibérica, sendo espontâneo em muitos locais de Portugal e Espanha, onde constituía, antes da acção do Homem, frondosas florestas em associação com outras espécies, nomeadamente do género Quercus. 
A finalidade da cortiça é o fabrico de isolantes térmicos e sonoros de aplicação variada, mas especialmente na produção de rolhas para engarrafamento de vinhos e outros líquidos. Portugal é o maior produtor mundial de cortiça. 
As folhas do sobreiro medem 2,5 a 10 cm por 1,2 a 6,5 cm, e são de cor verde escura e sem pelos. Têm forma denticular, uma nervura principal algo sinuosa e 5 a 8 pares de nervuras secundárias. 
O fruto, como em outros carvalhos é a bolota, também conhecida por lande ou ainda (mais corretamente) glande. 
Distribui-se essencialmente pela Península Ibérica e por alguns locais mais húmidos do norte de África. Em Portugal predomina a sul do rio Tejo, surgindo naturalmente associado: ao pinheiro-bravo nos terrenos arenosos da Península de Setúbal, Vale do Sado e no barlavento algarvio; à azinheira (Quercus ilex) nalgumas regiões do interior alentejano, zona nascente da serra algarvia, Tejo Internacional e Douro Internacional; ao carvalho-cerquinho (Quercus faginea) na Estremadura, Alentejo Litoral e Monchique; ao carvalho-das-canárias (Quercus canariensis) na região de Odemira-Monchique; ao carvalho-negral (Quercus pyrenaica) em alguns pontos da Beira Interior e Alto Alentejo, como as Serras da Malcata, São Mamede e Ossa. Surge ainda em alguns pontos de clima atlântico com pluviosidades extremamente elevadas, como na Serra do Gerês, onde predomina nas encostas mais soalheiras.
O sobreiro é uma espécie que requer humidade e solos relativamente profundos e férteis, embora também tolere temperaturas altas e períodos secos de três a quatro meses, típicos do clima do sul de Portugal. Nas regiões a sul do Tejo o sobreiro comporta-se como uma espécie de folhagem persistente e possui folhas mais pequenas, rijas e escuras; quando surge nas regiões do norte do país, onde é menos frequente, tem um comportamento ligeiramente marcescente, e folhas maiores, mais finas e claras. 
De uma forma geral, em Portugal o sobreiro predomina no Alentejo litoral, Península de Setúbal, Baixa Estremadura, serras algarvias (com excepção das regiões próximas do Guadiana) e parte do Ribatejo, tendo núcleos dispersos no resto do país.


Documentário: "Forest in a Bottle"
Espetacular documentário sobre a vida selvagem dos montados de sobreiros em Portugal. Defenda um dos ecossistemas mais ricos da Europa preferindo rolhas de cortiça. Se quiser saber mais sobre o assunto visite www.ecologicalcork.com


Sobreiro



“A cortiça em Junho, sai a punho; em Agosto, a mascoto”


(Provérbio)





Esta reportagem inclui uma entrevista ao produtor Mike Salisbury onde ele fala da importância deste ecossistema, único na Europa. Refere ainda as grandes audiências que este documentário teve aquando da sua transmissão no Reino Unido.

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