domingo, 15 de abril de 2012

"A Censura existe em todo o lado" - Texto de José Saramago


à Paris avec son père Leopold Mozart et sa sœur Maria Anna, c. 1763
 
 

A Censura existe em todo o lado


"Eu acho que a censura existiu sempre e provavelmente vai existir sempre. Porque a censura para o ser não necessita de ter claramente uma porta aberta com um letreiro, onde se diga que ali há pessoas que lêem livros ou vão ver espectáculos. Não! A censura existe de todas as maneiras, porque todas as pessoas, nos diferentes níveis de intervenção em que se encontram, por boas ou más razões, seleccionam, escolhem, apagam, fazem sobressair. E isso são actos de ocultação ou de evidenciação que, no fundo, em alguns casos, são actos formais de censura. 
Quanto à censura oficial dos tempos de ditadura, aquilo que a censura demonstrou e demonstra, em qualquer caso, é que felizmente os escritores, dependendo das situações em que se encontram, são muito mais ricos de meios, de processos de fazer chegar aquilo que querem dizer aos outros, do que se imagina. Evidentemente, numa situação de censura, o escritor é obrigado a usar a escrita para comunicar isto ou aquilo ou aqueloutro, de uma maneira disfarçada, subterrânea, oculta; mas o que é importante não é que a censura o esteja a obrigar a fazer isso. O que é importante é que ele seja capaz de o fazer. E isso não vai em abono da censura como agente capaz de estimular a criatividade de um escritor, vai, sim, no sentido de reconhecer no escritor capacidades de expressão que ele usará ou não consoante a situação concreta em que se encontre. Agora, se me pergunta: a escrita sai melhor de uma maneira ou sai de outra, eu diria que provavelmente alguns dos livros que escrevi numa situação de liberdade de expressão, provavelmente num regime de censura eu não pensaria em escrevê-los."
 

José Saramago, in "Diálogos com José Saramago"


Louis Carrogis Carmontelle, The Société du Palais-Royal, 1773-75


  • "Diz um antigo provérbio: censuram quem se mantém calado; censuram quem fala muito; censuram quem fala pouco, neste mundo ninguém está livre de censuras." - Textos Budistas

  • "É fácil censurar os outros; difícil é ser censor dos próprios actos." - Textos Judaicos

  • "A censura, feita por outro, atinge-nos e fere-nos na medida em que inconscientemente já a fizemos a nós próprios." - Textos Cristãos

  • "A censura é o imposto da inveja sobre o mérito." - Laurence Sterne


 


Laurence Sterne (Clonmel, Irlanda, 24 de novembro de 1713 — Londres, 18 de março de 1768) foi um escritor irlandês, famoso pelo seu romance A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy. 
 
Aos dez anos de idade, Sterne foi mandado para Halifax, na Inglaterra, para estudar. Anos mais tarde, estudou no Jesus College, Cambridge, e se tornou pastor da Igreja Anglicana em Yorkshire, eventualmente se tornando pastor remunerado da Catedral de York em 1733. O bisavô de Sterne fora ordenado arcebispo de York em 1664. 
 
A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy foi originalmente publicado em vários volumes, os dois primeiros aparecendo em 1759, e os demais no decorrer dos dez anos seguintes. 
Controverso, o livro teve reações dissonantes entre os escritores da época, mas o humor grosseiro foi bem aceite pela sociedade londrina. Hoje, o livro é tido como precursor do fluxo de consciência. 
Mais tarde, Sterne publicou Jornada Sentimental pela França e Itália (1768) baseado em suas viagens pela Europa, devido à tuberculose, além de diversos sermões.


Sterne by French artist Louis Carrogis Carmontelle, c. 1762
(Watercolour)
  

"A solidão é a mãe da sabedoria."

(Laurence Sterne) 
 

Keane - Silenced by the night

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