terça-feira, 1 de maio de 2012

"A Mulher Madura" - Texto de Affonso Romano de Sant'Anna


Duma, Going to London


A Mulher Madura 


O rosto da mulher madura entrou na moldura de meus olhos.
De repente, a surpreendo num banco olhando de soslaio, aguardando sua vez no balcão. Outras vezes ela passa por mim na rua entre os camelôs. Vezes outras a entrevejo no espelho de uma joalheria. A mulher madura, com seu rosto denso esculpido como o de uma atriz grega, tem qualquer coisa de Melina Mercouri ou de Anouke Aimé.
Há uma serenidade nos seus gestos, longe dos desperdícios da adolescência, quando se esbanjam pernas, braços e bocas ruidosamente. A adolescente não sabe ainda os limites de seu corpo e vai florescendo estabanada. É como um nadador principiante, faz muito barulho, joga muita água para os lados. Enfim, desborda.
A mulher madura nada no tempo e flui com a serenidade de um peixe. O silêncio em torno de seus gestos tem algo do repouso da garça sobre o lago. Seu olhar sobre os objetos não é de gula ou de concupiscência. Seus olhos não violam as coisas, mas as envolvem ternamente. Sabem a distância entre seu corpo e o mundo.
A mulher madura é assim: tem algo de orquídea que brota exclusiva de um tronco, inteira. Não é um canteiro de margaridas jovens tagarelando nas manhãs.
A adolescente, com o brilho de seus cabelos, com essa irradiação que vem dos dentes e dos olhos, nos extasia. Mas a mulher madura tem um som de adágio em suas formas. E até no gozo ela soa com a profundidade de um violoncelo e a subtileza de um oboé sobre a campina do leito.
A boca da mulher madura tem uma indizível sabedoria. Ela chorou na madrugada e abriu-se em opaco espanto. Ela conheceu a traição e ela mesma saiu sozinha para se deixar invadir pela dimensão de outros corpos. Por isto as suas mãos são líricas no drama e repõem no seu corpo um aprendizado da macia paina de setembro e abril.
O corpo da mulher madura é um corpo que já tem história. Inscrições se fizeram em sua superfície. Seu corpo não é como na adolescência uma pura e agreste possibilidade. Ela conhece seus mecanismos, apalpa suas mensagens, descodifica as ameaças numa intimidade respeitosa.
Sei que falo de uma certa mulher madura localizada numa classe social, e os mais politizados têm que ter condescendência e me entender. A maturidade também vem à mulher pobre, mas vem com tal violência que o verde se perverte e sobre os casebres e corpos tudo se reveste de uma marrom tristeza.
Na verdade, talvez a mulher madura não se saiba assim inteira ante seu olho interior. Talvez a sua aura se inscreva melhor no olho exterior, que a maturidade é também algo que o outro nos confere, complementarmente. Maturidade é essa coisa dupla: um jogo de espelhos revelador.
Cada idade tem seu esplendor. É um equívoco pensá-lo apenas como um relâmpago de juventude, um brilho de raquetes e pernas sobre as praias do tempo. Cada idade tem seu brilho e é preciso que cada um descubra o fulgor do próprio corpo.
A mulher madura está pronta para algo definitivo.
Merece, por exemplo, sentar-se naquela praça de Siena à tarde acompanhando com o complacente olhar o voo das andorinhas e as crianças a brincar. A mulher madura tem esse ar de que, enfim, está pronta para ir à Grécia. Descolou-se da superfície das coisas. Merece profundidades. Por isto, pode-se dizer que a mulher madura não ostenta joias. As joias brotaram de seu tronco, incorporaram-se naturalmente ao seu rosto, como se fossem prendas do tempo.
A mulher madura é um ser luminoso, é repousante às quatro horas da tarde, quando as sereias se banham e saem discretamente perfumadas com seus filhos pelos parques do dia. Pena que seu marido não note, perdido que está nos escritórios e mesquinhas ações nos múltiplos mercados dos gestos. Ele não sabe, mas deveria voltar para casa tão maduro quanto Yves Montand e Paul Newman, quando nos seus filmes.
Sobretudo, o primeiro namorado ou o primeiro marido não sabem o que perderam em não esperá-la madurar. Ali está uma mulher madura, mais que nunca pronta para quem a souber amar. 

Affonso Romano de Sant'Anna, "A Mulher Madura",
Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1986, pág. 09.


Duma


Duma nasceu em Lisboa, em 1973. Vive e trabalha em Oeiras. Licenciada em Publicidade pelo IADE (Instituto de Artes Visuais, Design & Marketing). Frequentou os cursos de Desenho e de Pintura da Sociedade Nacional de Belas Artes em Lisboa. Expõe desde 1994. Encontra-se representada pelas seguintes Galerias: Nuno Sacramento - Arte Contemporânea (Aveiro) Galeria Quattro (Leiria) Galeria S. Mamede (Lisboa) e Private Gallery (Lisboa). 
Fonte: www.dumaarte.com 

Duma - Studio

"A figura feminina no meu trabalho é algo natural em mim, é como um bocado de mim mesma que se representa em cada tela. Gosto de mostrar ao espectador apenas uma pequena parte de todo o cenário, gosto de deixar espaço para a imaginação do espectador. Em cada enquadramento existe um universo ilimitado de acções, pensamentos e emoções, cada personagem mostra-nos apenas uma pequena parte da sua personalidade, é como um frame congelado de um filme ou um rápido momento captado por uma câmara fotográfica. Sempre me senti muito atraída por representar a figura feminina, particularmente o retrato. No entanto, o tipo de retrato que quero mostrar não é o de alguém em particular, não quero dar uma identidade específica, quero somente representar uma ideia de feminilidade. Retirando o olhar, a personagem fica envolvida em mistério, forçando o espectador a criar uma história à volta dela. Isso é complementado com o enquadramento que faço e com um fundo liso e simples, também sem referências ou identidade. Ao "forçar" a imaginação, cada personagem providencia uma experiência única e individual para cada espectador.A nível técnico apresento as minhas personagens de uma forma muito gráfica, limpa e quase minimal. As gradações de sombra são bem definidas e demarcadas como ilustrações vectorizadas em computador, cujo resultado final faz lembrar uma impressão. Sou muito influenciada pelo design gráfico, ilustração, fotografia, moda e pelo simples facto de ser mulher".
(Duma)


Duma, 1945


"...e mesmo a mais infeliz das existências tem os seus momentos luminosos e suas pequenas flores de ventura a brotar entre a areia e as pedras..."

(Hermann Hesse, in O Lobo da Estepe)


Duma


“Deixa o caráter ser formado pela poesia, fixado pelas leis do bom comportamento, e aperfeiçoado pela música.” 

(Confúcio)


Duma, Dream collector


"Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo de Deus." 

(Sócrates)


Duma, Ginger


"A esperança é um empréstimo que se pede à felicidade." 

(Joseph Joubert)


Duma, L'Artiste Parisienne


"Ensinar é aprender duas vezes."

(Joseph Joubert)


Duma, "Mushi, mushi?"


"Por mais humilde que seja, um bom trabalho inspira uma sensação de vitória."

(Jack Kemp)


Jack Kemp Jr. (Los Angeles, 13 de Julho de 1935 - 2 de maio de 2009) é um político dos Estados Unidos da América e antigo jogador profissional de futebol americano. Foi congressista por Nova Iorque (1971-1989) e candidato do Partido Republicano à vice-presidência em 1996. 
Graduou-se no Occidental College, onde começou a despontar como desportista e pertenceu à fraternidade Alpha Tau Omega. 
O seu carisma e condições para a liderança levaram-no a envolver-se em diferentes actividades comunitárias na área de Buffalo, Nova Iorque, assim como no seu estado natal da Califórnia. Em 1967 foi nomeado assessor especial do Governador da Califórnia, Ronald Reagan, cuja campanha havia apoiado publicamente, e foi galardoado com vários prémios cívicos por serviço à comunidade em Nova Iorque. 
Em 1970 retirou-se definitivamente do futebol americano profissional e, aproveitando a popularidade em Buffalo, decidiu apresentar-se pelo Partido Republicano à Câmara de Representantes representando o 39°Círculo de Nova Iorque. Depois seria reeleito congressista 9 vezes consecutivas, permanecendo na Câmara durante 18 anos. Interrogado quando decidiu dar o salto do seu duro desporto para a política, disse: "Claro que tenho experiência. Fui pisado, golpeado, insultado, vendido e vilipendiado". 
Em 6 de Abril de 1987, Jack Kemp anunciou a candidatura à presidência do seu país, mas sem êxito. Mais tarde, em 1996, o candidato presidencial republicano Bob Dole estava atrás de Bill Clinton em todas as sondagens e decidiu convidar Kemp para ser o ser running mate, tendo saído derrotados. 
Anunciou depois que não seria candidato em 2000, cumprindo a promessa. É um dos quadros superiores da Oracle Corporation.


Duma, Lótus


"Há sabedoria em não crer saber aquilo que tu não sabes." 

(Sócrates)


Duma, Happy to be me


"O único lugar no mundo onde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário."

(Vidal Sassoon)


Vidal Sassoon

Cabeleireiro inglês, Vidal Sassoon nasceu a 17 de janeiro de 1928, em Londres. Teve uma infância difícil pois entre os cinco e os onze anos viveu em orfanatos, depois do pai ter abandonado a família. Só voltou a morar com a mãe quando esta se casou outra vez. Era uma família de poucas posses, o que não permitiu a Vidal Sassoon seguir carreira como estudante. Assim, ainda jovem, aos 17 anos, foi trabalhar como aprendiz num salão de beleza e barbearia londrino, propriedade de Adolph Cohen, conhecido por "O Professor".
Consciente que não poderia ambicionar a grandes estudos, dedicou-se com muito afinco ao trabalho. Em 1957, fez pela primeira vez um penteado para uma pessoa famosa, a estilista Mary Quant, na altura em que esta lançou a minissaia. Logo no ano seguinte, abriu o seu primeiro salão de cabeleireiro e começou a ganhar mais fama. Vidal Sassoon optou por fazer novos cortes de cabelo geométricos, pondo de parte os mais tradicionais. A partir daqui, começou a ter bastantes clientes, algumas das quais eram atrizes, cantoras ou manequins.
Em 1959, criou o corte a que foi dada a designação de "forma", pois adaptava-se à estrutura óssea da pessoa, a quem dava liberdade de movimentos. Pôs assim de parte os cortes e penteados volumosos da época e, a partir daí, apresentou uma série de inovações que privilegiavam a comodidade da mulher e seguiam as tendências da moda.
O cabeleireiro inglês acabou por se tornar o preferido das estrelas e criou vários estilos novos, como aconteceu com as atrizes Farrah Fawcet e Mia Farrow. A manequim Twiggy foi outra das suas clientes, para quem preparou um corte radical, que consistia em cabelo curto e pintado de vermelho.
Na década de 70, deixou de cortar cabelo para lançar uma série de produtos de cabeleireiro, que viriam a ser comercializados com muito sucesso em todo o mundo.
Acabou por mudar-se para os Estados Unidos da América, de onde controla a sua cadeia de salões de cabeleireiro, de produtos capilares e de escolas de estilismo.
Vidal Sasson é judeu e investe parte da sua fortuna no Centro de Estudos de Antisemitismo e Xenofobia de uma universidade de Jerusalém em Israel. A Sassoon International Center for the Study of Antisemitism (SICSA) foi fundada em 1982. Em 1946, lutou nas ruas de Londres contra os grupos de militantes fascistas e, em 1948, combateu na guerra da independência de Israel.

Vidal Sassoon. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-04-30].


Charles Aznavour - She

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