domingo, 8 de julho de 2012

"Autorretrato" - Soneto de Bocage


Bocage, ilustração de Francisco Pastor



Autorretrato


Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio e não pequeno;

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos, por taça escura,
De zelos infernais letal veneno;

Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades,

Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.


Ilustração de Francisco Pastor, "D. Quxote"


Francisco Pastor (Alcoi, Espanha, 1850 - Rio de Janeiro, 1922), gravador afamado ao qual se devem múltiplos retratos de personagens da vida política, intelectual e económica das últimas décadas do século XIX e das primeiras do século XX. Em Madrid foi discípulo do gravador Severini, que também trabalhou em Portugal.
Francisco Pastor estabeleceu-se em Lisboa no ano de 1873 com uma oficina de gravura voltada para a produção de matrizes para a imprensa periódica. Trabalhou para o Diário Ilustrado, foi director artístico do Correio da Europa e editou o Almanach Ilustrado e a Semana Ilustrada. Foi autor dos primeiros postais ilustrados editados em Portugal e ilustrou diversas obras, entre as quais a tradução de "Dom Quixote de La Mancha", do mais destacado escritor espanhol e uma das grandes figuras da literatura de todos os tempos, Miguel de Cervantes Saavedra. A tradução para português desta obra é D. José Cárcomo Lobo.
Em 1921, foi ao Brasil em missão de propaganda do Correio da Europa, tendo falecido no Rio de Janeiro, em 1922.
Fontes Pereira de Melo, ilustração de Francisco Pastor



Fontes Pereira de Melo


António Maria de Fontes Pereira de Melo (Lisboa, 8 de setembro de 1819 — Lisboa, 22 de janeiro de 1887) foi um dos principais políticos portugueses da segunda metade do século XIX. Era filho de João Fontes Pereira de Melo que foi governador de Cabo Verde por duas vezes. António Maria Fontes Pereira de Melo assentou praça na Armada aos 15 anos, onde fez os seus estudos, transitando para a arma de Engenharia do Exército, após conclusão do curso naval. Como cadete, participou nas lutas liberais e, já oficial, serviu sob as ordens diretas de Saldanha durante a Revolta da Maria da Fonte (1846). Em 1848 entra na vida política, tendo sido eleito deputado por Cabo Verde, não obstante a suspeita de fraude eleitoral. Após a Regeneração, (1851), ascendeu a funções governativas. De início, foi ministro da Marinha e do Ultramar, acumulando pouco depois a pasta da Fazenda. Em 1852 tornou-se o primeiro titular do Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria. Em 1856, o governo do Duque de Saldanha  cai devido à crise económica e financeira. Fontes passou então 3 anos na oposição, embora em 1858 tenha assumido a chefia do Partido Regenerador, por morte de Rodrigo da Fonseca Magalhães. Foi ministro da Guerra de Joaquim António de Aguiar (1866), conselheiro de Estado (1866) e par do Reino (1870). Em 1871, foi, pela primeira vez, presidente do Ministério. Curiosamente, ao comparecer na Câmara, Fontes não apresentou um programa de Governo, mas antes uma declaração de intenções. Voltaria ainda duas vezes à chefia do executivo (1878-79 e 1881-1886).
Pelas funções que ocupou e pela importância que teve na condução do país nas vertentes económica e financeira, Fontes Pereira de Melo foi uma das figuras mais importantes do seu tempo.
Coube-lhe o papel de liderança e impulsionamento da transformação material do país.
Imprimiu um tal cunho pessoal à sua política de "melhoramentos materiais" que esta passaria à História sob o nome de Fontismo. Quando aparece no governo, a retórica da liberdade é substituída pela do progresso, criando, segundo Oliveira Martins,"um novo género de política". A ele se devem, entre outras medidas de fomento: a concessão da construção e exploração do caminho de ferro do Barreiro à Mexoalheira (1872); a construção do caminho de ferro do Porto à Galiza (1873); a aprovação dos contratos de navegação a vapor para o Algarve (1876); a construção de um cais, docas e caminho de ferro marginal do Tejo (1876); a aprovação do contrato da navegação a vapor para as Ilhas (1876).Também do ponto de vista financeiro, foi protagonista de uma série de medidas que se revelariam fundamentais para a economia nacional: o empréstimo nacional para a consolidação da dívida pública; o aumento das receitas ordinárias, através de uma reforma fiscal; etc.
Graças ao fontismo, o país vive, ainda que fugazmente, um período de prosperidade e confiança.
Para levar a cabo as suas opções, Fontes Pereira de Melo procurou controlar as rédeas do poder, tendendo a reforçar-se a sua posição na política nacional. Para tal, criou uma teia de solidariedades pessoais, conseguindo sobreviver às inimizades e aos escândalos que o afetaram.
Quando morreu, em 1887, era general do Exército, governador da Companhia do Crédito Predial Português e presidente do Supremo Tribunal Administrativo.

Fontes Pereira de Melo. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-07-08].


Camilo Castelo Branco, ilustração de Francisco Pastor


Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco (Lisboa, Encarnação, 16 de Março de 1825 — Vila Nova de Famalicão, São Miguel de Seide, 1 de Junho de 1890) foi um escritor português, romancista, cronista, crítico, dramaturgo, historiador, poeta e tradutor. Foi ainda o 1.º visconde de Correia Botelho, título concedido pelo rei D. Luís de Portugal.
Camilo Castelo Branco foi um dos escritores mais prolíferos e marcantes da literatura portuguesa contemporânea.
Teve uma vida atribulada, que lhe serviu muitas vezes de inspiração para as suas novelas. Foi o primeiro escritor de língua portuguesa a viver exclusivamente dos seus escritos literários. Apesar de ter de escrever para o público, sujeitando-se assim aos ditames da moda, conseguiu manter uma escrita muito original.

Algumas obras: Os Pundonores Desagravados (poema satírico, 1845), O Juízo Final e O Sonho do Inferno (poema satírico, 1845), Agostinho de Ceuta (teatro, 1847), A Murraça (sátira, 1848), Maria, não me mates, que sou tua mãe (novela, 1848), O Marquês de Torres Novas (teatro, 1849), O Caleche (sátira, 1849), O Clero e o sr. Alexandre Herculano (polémica, 1850), Inspirações (poesia lírica, 1851), Anátema (novela, 1851), Mistérios de Lisboa (novela, 1854), Livro Negro de Padre Dinis (novela, 1855), Cenas Contemporâneas (1855), A Filha do Arcediago (novela, 1855), A Neta do Arcediago (novela, 1856), Onde está a felicidade? (novela, 1856), Um Homem de Brios (novela, 1857), Carlota Ângela (novela, 1858), O Que fazem Mulheres (novela, 1858), Cenas da Foz (novela, 1861), O Romance de um Homem Rico (novela, 1861), Amor de Perdição (novela, 1862), Coração, Cabeça e Estômago (novela, 1862), Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado (novela, 1863), O Bem e o Mal (novela, 1863), Amor de Salvação (novela, 1864), A Sereia (novela, 1865), A Queda dum Anjo (novela, 1866), O Judeu (novela, 1866), O Olho de Vidro (novela, 1866), A Bruxa de Monte Córdova (novela, 1867), A Doida do Candal (novela, 1867), O Retrato de Ricardina (novela, 1868), Os Brilhantes do Brasileiro (novela, 1869), A Mulher Fatal (novela, 1870), O Regicida (novela, 1874), A Filha do Regicida (novela, 1875), A Caveira do Mártir (novela, 1875), Eusébio Macário (novela, 1879), A Corja (novela, 1880), A Brasileira de Prazins (novela, 1883), etc.


Frases de Camilo Castelo Branco

  • "Os dias prósperos não vêm por acaso. Nascem de muita fadiga e de muitos intervalos de desalento."  
  • "Viver é ansiar a felicidade possível e a impossível."
  • "O ciúme vê com lentes, que fazem grandes as coisas pequenas, gigantes os anões, verdades as suspeitas."

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