sexta-feira, 31 de agosto de 2012

"Os romances" - Texto de Camilo Castelo Branco


 
Amadeo de Souza Cardoso, 'Os galgos', 1911, óleo sobre tela


“Os romances fazem mal a muita gente. Pessoas propensas a adaptarem-se aos moldes que admiram e invejam na novela, perdem-se na contrafacção, ou dão-se em pábulo ao ridículo. Nestes últimos tempos, há muitos exemplos desta verdade, e tanto mais sensíveis, quanto a nossa sociedade é pequena para se nos esconderem, e intolerante para admiti-los sem rir-se. Homens, sem originalidade, ou originalmente tolos, macaqueiam tudo que sai da esfera comum.”


Camilo Castelo Branco, Onde está a felicidade? (Elites…)



Vida e Obra de Amadeo de Souza Cardoso
 
Amadeo de Souza Cardoso


Amadeo no seu atelier, Rue Ernest Cresson, 20, Paris, 1912


Amadeo de Souza-Cardoso  (Manhufe, freguesia de Mancelos, Amarante, 14 de Novembro de 1887 – Espinho, 25 de Outubro de 1918) foi um pintor português
Pertencente à primeira geração de pintores modernistas portugueses, Amadeo de Souza-Cardoso destaca-se entre todos eles pela qualidade excecional da sua obra e pelo diálogo que estabeleceu com as vanguardas históricas do início do século XX. "O artista desenvolveu, entre Paris e Manhufe, a mais séria possibilidade de arte moderna em Portugal num diálogo internacional, intenso mas pouco conhecido, com os artistas do seu tempo". A sua pintura articula-se de modo aberto com movimentos como o cubismo o futurismo ou o expressionismo, atingindo em muitos momentos – e de modo sustentado na produção dos últimos anos –, um nível em tudo equiparável à produção de topo da arte internacional sua contemporânea. 
A morte aos 30 anos de idade irá ditar o fim abrupto de uma obra pictórica em plena maturidade e de uma carreira internacional promissora mas ainda em fase de afirmação. Amadeo ficaria longamente esquecido, dentro e, sobretudo, fora de Portugal: "O silêncio que durante longos anos cobriu com um espesso manto a visibilidade interpretativa da sua obra [...], e que foi também o silêncio de Portugal como país, não permitiu a atualização histórica internacional do artista"; e "só muito recentemente Amadeo de Souza-Cardoso começou o seu caminho de reconhecimento historiográfico" [Continua].


Amadeo de Souza Cardoso, Les Faucons (Os falcões), 1912,
Tinta-da-china sobre papel


Amadeo de Souza Cardoso, Cozinha da Casa de Manhufe, c. 1913,
Óleo sobre madeira


Amadeo de Souza Cardoso, Título desconhecido, c. 1917.
Óleo sobre tela com colagem pontual e localizada de outros materiais (fósforos de cera, madeira)


Amadeo de Souza Cardoso, Título desconhecido (Coty), c. 1917.
Óleo sobre tela com colagem de materiais (areia, cola, pedaços de espelhos, vidros, 
ganchos, um colar de missangas e papel)


Amadeo de Souza Cardoso, Retrato de Francisco Cardoso


Amadeo de Souza Cardoso, Menina dos cravos


Amadeo de Souza Cardoso,  Entrada


Amadeo de Souza Cardoso, Barcos


“Os homens cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim e não encontram o que procuram. E, no entanto, o que eles buscam poderia ser achado numa só rosa.

  Antoine de Saint-Exupéry, em o "O Pequeno Príncipe"


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

"Estátua" - Poema de Camilo Pessanha


Christian Tagliavini, Dame di Cartone, Fifties I, 2008



Estátua


Cansei-me de tentar o teu segredo:
No teu olhar sem cor, - frio escalpelo,
O meu olhar quebrei, a debatê-lo,
Como a onda na crista dum rochedo.

Segredo dessa alma e meu degredo
E minha obsessão! Para bebê-lo
Fui teu lábio oscular, num pesadelo,
Por noites de pavor, cheio de medo.

E o meu ósculo ardente, alucinado,
Esfriou sobre o mármore correcto
Desse entreaberto lábio gelado...

Desse lábio de mármore, discreto,
Severo como um túmulo fechado,
Sereno como um pélago quieto.


Camilo Pessanha




Biografia de Camilo Pessanha (2)

Camilo Almeida Pessanha (Coimbra, 7 de Setembro de 1867 — Macau, 1 de Março de 1926) foi um poeta português considerado o expoente máximo do simbolismo em língua portuguesa, além de antecipador do princípio modernista da fragmentação.
Tirou o curso de direito em Coimbra. Procurador Régio em Mirandela (1892), advogado em Óbidos, em 1894, transfere-se para Macau, onde, durante três anos, foi professor de Filosofia Elementar no Liceu de Macau, deixando de leccionar por ter sido nomeado, em 1900, conservador do registo predial em Macau e depois juiz de comarca. Entre 1894 e 1915 voltou a Portugal algumas vezes, para tratamento de saúde, tendo, numa delas, sido apresentado a Fernando Pessoa que era, como Mário de Sá-Carneiro, apreciador da sua poesia. 
Publicou poemas em várias revistas e jornais, mas seu único livro Clepsidra (1920), foi publicado sem a sua participação (pois encontrava-se em Macau) por Ana de Castro Osório, a partir de autógrafos e recortes de jornais. Graças a essa iniciativa, os versos de Pessanha salvaram-se do esquecimento. Posteriormente, o filho de Ana de Castro Osório, João de Castro Osório, ampliou a Clepsidra original, acrescentando-lhe poemas que foram encontrados. Essas edições foram publicadas em 1945, 1954 e 1969. 
Além das características simbolistas que sua obra assume, já bem conhecidas, Camilo Pessanha antecipa alguns princípios de tendências modernistas. 
Camilo Pessanha buscou em Charles Baudelaire, proto-simbolista francês, o termo “Clepsidra”, que elegeu como título do seu único livro de poemas, praticando uma poética da sugestão como proposta por Mallarmé, evitando nomear um objeto direta e imediatamente. 
Por outro lado, segundo o pesquisador da Universidade do Porto Luís Adriano Carlos, o seu chamado "metaforismo" entraria no mesmo rol estético do imagismo, do inteseccionismo e do surrealismo, buscando as relações analógicas entre significante e significado por intermédio da clivagem dinâmica dos dois planos. Junto de sua fragmentação sintática, que segundo a pesquisadora da Universidade do Minho Maria do Carmo Pinheiro Mendes substitui um mundo ordenado segundo leis universalmente reconhecidas por um mundo fundado sobre a ambiguidade, a transitoriedade e a fragmentação, podemos encontrar na obra de Camilo Pessanha, de acordo com os dois autores citados, duas características que costumam ser mais relacionadas à poesia moderna que ao Simbolismo mais convencional.
Apesar da pequena dimensão da sua obra, é considerado um dos poetas mais importantes da língua portuguesa. Camilo Pessanha morreu no dia 1 de Março de 1926 em Macau, devido ao uso excessivo de Ópio.
Fonte: Biografia na Wikipédia


Obra do designer gráfico e fotógrafo
Christian Tagliavini (2)

Dame di Cartone, Fifties II


Dame di Cartone, Fifties III


Dame di Cartone, Cubism I - Cardboard Ladies.


Dame di Cartone, Cubism II


Dame di Cartone, Cubism III


Dame di Cartone, 17th Century I 


Dame di Cartone, 17th Century II


Dame di Cartone, 17th Century III


"Os outros" - Poema de Casimiro de Brito


Waiting for Freud, 2006, by Christian Tagliavini


Os outros


Os outros que vivem comigo
Estão cheios de carências e têm medo
Do dia que vai nascer

Os outros que vivem comigo
Compram e vendem coisas ideias sentimentos
Como quem muda de pele todos os dias

Só eu estou tranquilo e não digo nada
Porque não estou numa festa num campo de batalha
E não preciso de sorrir a ninguém de morder
Ninguém de fazer sinais
Que me prendam aos outros

Os outros que vivem comigo
Correm de um lado para o outro agitam-se
E não encontram o caminho
Mas eu não corro para lado nenhum
Ouço a carne viva das águas o cerne
Que vem do fundo o caminho que nunca
Me abandona

Talvez eu seja ignorante
Talvez a minha mente seja como a mente
De um louco
Talvez eu seja apenas um espelho
Que nada recusa nem aprisiona
Mas os outros que vivem comigo
Estão cheios de carências e vão morrer
Porque não sabem que transportam em si
O vaso e a semente.


Casimiro de Brito


Casimiro de Brito


Casimiro Cavaco Correia de Brito é um poeta, romancista, contista e ensaísta português. 
Nasceu no  Algarve, em 1938, onde estudou (depois em Londres) e viveu até 1968. Depois de uns anos na Alemanha passou a viver em Lisboa. Teve várias profissões mas actualmente dedica-se exclusivamente à literatura. 
Começou a publicar em 1957 (Poemas da Solidão Imperfeita) e, desde então, publicou mais de 40 títulos. Dirigiu várias revistas literárias, entre elas "Cadernos do Meio-Dia" (com António Ramos Rosa), os Cadernos "Outubro/ Fevereiro/ Novembro" (com Gastão Cruz) e "Loreto 13" (órgão da Associação Portuguesa de Escritores). Actualmente é responsável pela colaboração portuguesa na revista internacional “Serta”. 
Esteve ligado ao movimento "Poesia 61", um dos mais importantes da poesia portuguesa do século XX. Ganhou vários prémios literários, entre eles o Prémio Internacional Versilia, de Viareggio, para a "Melhor obra completa de poesia", pela sua Ode & Ceia (1985), obra em que reuniu os seus primeiros dez livros de poesia. 
Colabora nas mais prestigiadas revistas de poesia e tem obras suas incluídas em mais de 150 antologias, publicadas em vários países. 
Participou em inúmeros recitais, festivais de poesia, congressos de escritores, conferências, um pouco por todo o mundo. 
Director dos festivais internacionais de poesia de Lisboa, Porto Santo (Madeira) e Faro. Foi vice-presidente da  Associação Portuguesa de Escritores,  presidente da Association Européenne pour la Promotion de la Poésie, de Lovaina e é presidente doa Assembleia Geral do  P.E.N. Clube Português. Obras suas foram gravadas para a Library of the Congress, de Washington. 
Foi agraciado pela Academia Brasileira de Filologia, do Rio de Janeiro, com a medalha Oskar Nobiling por serviços distintos no campo da literatura — entre outras distinções. É conselheiro da Associação Mundial de Haiku, de Tóquio. É “editor-in-chief” da Antologia mundial “Diversity” do PEN Internacional, sediada na Macedónia. 
A Académie Mondiale de Poésie (da Fundação Martin Luther King), galardoou-o em 2002 com o primeiro Prémio Internacional de Poesia Leopold Sédar Senghor, pela sua carreira literária. Ganhou o Prémio Europeu de Poesia Sibila Aleramo-Mario Luzi, com a sua antologia Libro delle Cadute, publicada em Itália em 2004. 
Tem traduzido poesia de várias línguas, sobretudo do japonês e foi traduzido para albanês, galego, espanhol, catalão, italiano, francês, corso, inglês, alemão, flamengo, holandês, sueco, polaco, esloveno, servocroata, grego, romeno, búlgaro, húngaro, russo, árabe, hebreu, chinês e japonês. 
Em 2006, foi nomeado Embaixador Mundial da Paz, no âmbito da Embaixada Mundial da Paz, sediada em Genebra. 
Em 2008 foi-lhe atribuído o prémio POETEKA no Festival Internacional do mesmo nome, na Albânia, na qualidade de “Melhor poeta do Festival. Ainda em 2008 foi agraciado pela Presidência da República Portuguesa com a Ordem do Infante Dom Henrique.

Waiting for Freud, Debbie, by Christian Tagliavini, 2006 


Waiting for Freud, Kläe, by Christian Tagliavini, 2006



Obra de Christian Tagliavini

Christian Tagliavininascido em 1971, educado na Itália e na Suíça, onde atualmente vive e trabalha é um designer gráfico e fotógrafo. Sua fotografia explora assuntos e conceitos muitas vezes raros ou incomuns. Tagliavini visa criar não apenas retratos mas colisões emocionantes de circunstâncias. Da mesma forma, ele considera cada retrato como uma história em aberto que deve fazer exigências sobre o seu telespectador. Seu trabalho tem sido exibido em toda a Europa.



Video portrait of photographer Christian Tagliavini


Cromofobia, Birthday, 2007


Cromofobia, Mother's day, 2007


Cromofobia, Back home, 2007 


Cromofobia, Mrs Maggie, 2007


Cromofobia, Dad, 2007



O estilo renascentista em fotografias de Christian Tagliavini,  intituladas "1503".
(O número 1503 faz referência ao ano de nascimento de Agnolo di Cosimo.)
"1503, Lucrezia", 2010


"1503, Artemisia", 2010


"1503, Bartolomeo"


1503, Lady Clotilde


1503, Portrait of a man


1503, Portrait of a lady in green


1503, Portrait of a young man with plumed hat


1503, Portrait of young woman


terça-feira, 28 de agosto de 2012

"Porque o melhor enfim" - Poema de Camilo Pessanha


Imagem de Sarolta Bán
 


Porque o melhor enfim


Porque o melhor, enfim,
É não ouvir nem ver...
Passarem sobre mim
E nada me doer!

Sorrindo interiormente,
Com as pálpebras cerradas,
Às águas da torrente
Já tão longe passadas.

Rixas, tumultos, lutas,
Não me fazerem dano...
Alheio às vãs labutas,
Às estações do ano.

Passar o estio, o outono,
A poda, a cava, e a redra,
E eu dormindo um sono
Debaixo duma pedra.

Melhor até se o acaso
O leito me reserva
No prado extenso e raso
Apenas sob a erva 

Que Abril copioso ensope...
E, esvelto, a intervalos
Fustigue-me o galope
De bandos de cavalos.

Ou no serrano mato,
A brigas tão propício,
Onde o viver ingrato
Dispõe ao sacrifício

Das vidas, mortes duras
Ruam pelas quebradas,
Com choques de armaduras
E tinidos de espadas...

Ou sob o piso, até,
Infame e vil da rua,
Onde a torva ralé
Irrompe, tumultua,

Se estorce, vocifera,
Selvagem nos conflitos,
Com ímpetos de fera
Nos olhos, saltos, gritos...

Roubos, assassinatos!
Horas jamais tranquilas,
Em brutos pugilatos
Fracturam-se as maxilas... 

E eu sob a terra firme,
Compacta, recalcada,
Muito quietinho. A rir-me
De não me doer nada.


in 'Clepsidra' 


Imagem de Sarolta Bán


Senhor, ajudai-nos a construir a nossa casa
com janelas de aurora e árvores no quintal.
Árvores que na primavera fiquem cobertas de flores
e ao crepúsculo fiquem cinzentas como a roupa dos pescadores.



segunda-feira, 27 de agosto de 2012

"Sonhando" - Poema de Florbela Espanca


Charles Courtney Curran (1861–1942), The Farm at Sunset



Sonhando


É noite pura e linda. Abro a minha janela 
E olho suspirando o infinito céu, 
Fico a sonhar de leve em muita coisa bela 
Fico a pensar em ti e neste amor que é teu! 

D’olhos fechados sonho. A noite é uma elegia 
Cantando brandamente um sonho todo d’alma 
E enquanto a lua branca o linho bom desfia 
Eu sinto almas passar na noite linda e calma. 

Lá vem a tua agora... Numa carreira louca 
Tão perto que passou, tão perto à minha boca 
Nessa carreira doida, estranha e caprichosa 

Que a minh’alma cativa estremece, esvoaça 
Para seguir a tua, como a folha de rosa 
Segue a brisa que a beija... e a tua alma passa!...





Charles Courtney Curran, Administration Building of the 1893, 
Columbian Exposition in Chicago at Night



"Procuremos acender uma vela em vez de amaldiçoar a escuridão."

(Provérbio) 



"Chove" - Poema de Fernando Pessoa


Iman Maleki, Dizziness


Chove 


Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva 
Não faz ruído senão com sossego. 
Chove. O céu dorme. 
Quando a alma é viúva 

Do que não sabe, o sentimento é cego. 
Chove. Meu ser (quem sou) renego… 
Tão calma é a chuva que se solta no ar 
(Nem parece de nuvens) que parece 

Que não é chuva, mas um sussurrar 
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece. 
Chove. Nada apetece… 
Não paira vento, não há céu que eu sinta. 

Chove longínqua e indistintamente, 
Como uma coisa certa que nos minta, 
Como um grande desejo que nos mente. 
Chove. Nada em mim sente…


Fernando Pessoa 


Iman Maleki - Iranian painter


Iman Maleki (Teerão, 1976 - ) é um pintor iraniano do hiper-realismo. Ganhou os prémios William Bouguereau e o "Chairman´s Choice" no II Concurso Internacional de Art Renewal Center. Muitos o consideram o melhor pintor de arte realista do mundo e até os puristas renderam-se a suas pinturas que podem ser facilmente confundidas com fotografias de máquinas de muitos megapixels.
 
 

Iman Maleki, Clouds
 

Iman Maleki, Alley


Iman Maleki, A custodian's house


Iman Maleki, A Tar player


Iman Maleki, End of examinations


Iman Maleki, A girl by the window


Iman Maleki, Sisters and a book


Iman Maleki, Fishmonger 


Iman Maleki, All alone


Iman Maleki, Studying


Iman Maleki, Sunlight


Iman Maleki, Unstable cover
 

"Eu toco o futuro. Eu ensino." 

(Christa McAuliffe) 


Sharon Christa Corrigan McAuliffe 

 
Sharon Christa Corrigan McAuliffe (Boston, 2 de setembro de 1948 — Cabo Canaveral, 28 de janeiro de 1986) foi uma astronauta-professora, que morreu a bordo do vaivém espacial Challenger, quando a nave explodiu no ar durante o lançamento em janeiro de 1986, matando todos os seus tripulantes. 
Professora especializada em História Americana e Estudos Sociais, Christa, inspirada na adolescência pelo Programa Apollo, foi a escolhida entre 11.000 professores dos Estados Unidos que responderam ao chamado da NASA em 1984, que pretendia levar um educador ao espaço para que de lá ele desse aulas às crianças americanas, através do programa chamado Um Professor no Espaço.