domingo, 19 de agosto de 2012

"Autorretrato Falado" - Poema de Manoel de Barros


arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus), também chamada arara-jacinto,
araraúna, arara-preta e araruna no Pantanal- Brasil.


Auto-Retrato Falado

Venho de um Cuiabá de garimpos e de ruelas entortadas.
Meu pai teve uma venda no Beco da Marinha, onde nasci.

Me criei no Pantanal de Corumbá entre bichos do chão,
aves, pessoas humildes, árvores e rios.

Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar
entre pedras e lagartos.

Já publiquei 10 livros de poesia: ao publicá-los me sinto
meio desonrado e fujo para o Pantanal onde sou
abençoado a garças.

Me procurei a vida inteira e não me achei — pelo que
fui salvo.

Não estou na sarjeta porque herdei uma fazenda de gado.
Os bois me recriam.
Agora eu sou tão ocaso!
Estou na categoria de sofrer da moral porque só faço
coisas inúteis.
No meu morrer tem uma dor de árvore.

Manoel de Barros


Manoel de Barros


Manoel Wenceslau Leite de Barros, advogado, fazendeiro  poeta contemporâneo brasileiro, nasceu em 1916, em Cuiabáà beira do rio Cuiabá,  no estado de Mato Grosso.
Ainda novo, foi morar em Corumbá (MS) e mais tarde iria para o Rio de Janeiro, para fazer a faculdade de Direito. Viajou pela Bolívia e Peru, morou em Nova York, captou em cada um dos lugares por onde passava um pouco da essência da liberdade, que aplicaria em suas poesias. 
Apesar de ter publicado o primeiro livro em 1937, o “Poemas Concebidos Sem Pecado”, o primeiro livro que escreveu acabou nas mãos de um policial. O jovem Manoel fez a pichação “Viva o comunismo”, num monumento, e a polícia foi em busca do autor da ousadia. Para defendê-lo, a dona da pensão em que vivia disse ao policial que o “criminoso” em questão era autor de um livro. O policial pediu para ver e levou o livro. Chamava-se “Nossa Senhora de Minha Escuridão" e Manoel nunca o teve de volta.
Formou-se em Direito, em 1941, na cidade do Rio de Janeiro. E já no ano seguinte publicou “Face Imóvel” e em 1946, “Poesias”.
Na década de 1960 foi para Campo Grande (MS) e lá passou a viver como fazendeiro.
Manoel de Barros consagrou-se como poeta nas décadas de 1980 e 1990, quando Millôr Fernandes publicava suas poesias nos maiores jornais do país. Manoel de Barros,  pertencente, cronologicamente à Geração de 45, mas formalmente ao Modernismo brasileiro, trabalha bastante com a temática da natureza, mais especificamente, o pantanal. Mistura estilos e aborda o tema regional com originalidade.
Outros livros do autor são: ”Compêndio para Uso dos Pássaros”, de 1961, “Gramática Expositiva do Chão”, de 1969, “Matéria de Poesia”, de 1974, “O Guardador de Águas”, de 1989, “Retrato do Artista Quando Coisa”, de 1998, “O Fazedor de Amanhecer”, de 2001, entre outros. 
Alguns dos prémios que o autor recebeu: “Prémio Orlando Dantas”, em 1960, ”Prémio da Fundação Cultural do Distrito Federal”, em 1969.  "Prémio Jabuti de Literatura, na categoria Poesia, com o livro O guardador de águas, em 1989", “Prémio Nestlé”, em 1997, “Prémio Cecília Meireles” (literatura/poesia), em 1998,  "Prémio Jabuti de Literatura, na categoria livro de ficção, com O fazedor de amanhecer em 2002.


(Fotografias retiradas da Internet)


Pantanal - Património Natural

O Pantanal, é um bioma constituído principalmente por uma savana estépica, alagada em sua maior parte, com 250 mil km² de extensão, altitude média de 100 metros, situado no sul de Mato Grosso e no noroeste de Mato Grosso do Sul, ambos Estados do Brasil, além de também englobar o norte do Paraguai e leste da Bolívia (que é chamado de chaco boliviano), considerado pela UNESCO Património Natural Mundial e Reserva da Biosfera, localizado na região o Parque Nacional do Pantanal.


Extensão do Pantanal na América do Sul (visto do espaço)


O Pantanal é um dos mais valiosos patrimónios naturais do Brasil. Maior área húmida continental do planeta – com aproximadamente 140 mil km2 em território brasileiro, em parte dos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul – o Pantanal destaca-se pela riqueza da fauna, onde dividem espaço 263 espécies de peixes, 122 espécies de mamíferos, 93 espécies de répteis, 1.132 espécies de borboletas e 656 espécies de aves. As chuvas fortes são comuns nesse bioma. Os terrenos, quase sempre planos, são alagados periodicamente por inúmeros corixos e vazantes entremeados de lagoas e leques aluviais. Na época das cheias estes corpos comunicam-se e mesclam-se com as águas do rio Paraguai  renovando e fertilizando a região.


Vista aérea duma parte do Pantanal


A origem do Pantanal é resultado da separação do oceano há milhões de anos, formando o que se pode chamar de mar interior. Atraído pela existência de pedras e metais preciosos (que eram usados por indígenas, que já povoavam a região, como adornos), entre eles o ouro, o português Aleixo Garcia, em 1524, acabou sendo o primeiro branco a visitar o território, que alcançou o rio Paraguai através do rio Miranda, atingindo a região onde hoje está a cidade de Corumbá. Nos anos de 1537 e 1538, o espanhol Juan Ayolas e seu acompanhante Domingos Martínez de Irala seguiram pelo rio Paraguai e denominaram Puerto de los Reyes à lagoa Gayva. Por volta de 1542-1543Álvaro Nunes Cabeza de Vaca (espanhol e aventureiro) também passou por aqui para seguir para o Peru


Garça-branca-pequena da espécie Egretta thula, Pantanal


Onça-pintada, Pantanal

A onça-pintada (Panthera onça), também conhecida como  onça-verdadeira, jaguar, jaguarapinima, jaguaretê, acanguçu, canguçu ou onça-preta (os dois últimos termos, somente no caso dos indivíduos melânicos), é uma espécie de mamífero carnívoro da família Felidae encontrada nas Américas. É o terceiro maior felino do mundo, após o tigre e o leão, e o maior do continente americano.
A onça pintada do Pantanal está ameaçada de extinção. O maior felino das Américas é um animal de hábitos noturnos, caçando capivaras, veados, peixes e aves. A onça adulta pode chegar a dois metros de comprimento e pesar 160 kg. É encontrada também em regiões de mata atlântica e Amazónia.)


Onça-pintada

A onça-pintada é o único felino que é capaz de perfurar o casco de uma tartaruga.


Capivaras, Pantanal


tuiuiú ou jaburu (Jabiru mycteria) é o símbolo do Pantanal.
 


A fauna pantaneira é muito rica, provavelmente a mais rica do planeta. Há 650 espécies de aves (no Brasil inteiro estão catalogadas cerca de 1800). A mais espetacular é a arara-azul-grande, uma espécie ameaçada de extinção. Há ainda tuiuiús (a ave símbolo do Pantanal), tucanos, periquitos, garças-brancas, beija-flores (os menores chegam a pesar dois gramas), socós (espécie de garça de coloração castanha), jaçanãs, emas, seriemas, papagaios, colhereiros, gaviões, carcarás e curicacas
No Pantanal já foram catalogadas mais de 1.100 espécies de borboletas. Contam-se mais de 80 espécies de mamíferos, sendo os principais a onça-pintada (atinge a 1,2 m de comprimento, 0,85 cm de altura e pesa até 150 kg), capivara, lobinho, veado-campeiro, veado catingueiro, lobo-guará, macaco-prego, cervo do pantanal, bugio (macaco que produz um ruído assustador ao amanhecer), porco do mato, tamanduá, cachorro-do-mato, anta, bicho-preguiça, ariranha, suçuarana, quati, tatu etc. 
A região também é extremamente piscosa, já tendo sido catalogadas 263 espécies de peixes: piranha (peixe carnívoro e extremamente voraz), pacu, pintado, dourado, cachara, curimbatá, piraputanga, jaú e piau são algumas das espécies encontradas. 
Há uma infinidade de repteis, sendo o principal o jacaré (jacaré-do-pantanal e jacaré-de-coroa), cobra boca-de-sapo (Jararaca), sucuri, Jiboia-constritora,Cobra-d'água, cobras-água e outras), lagartos (iguana, calango-verde) e quelônios (jabuti e cágado).


Vegetação do Pantanal


  • Flora do Pantanal 
          Lista da flora do Pantanal (Ver artigo)

A vegetação pantaneira é um mosaico de cinco regiões distintas: Floresta Amazónica, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e Chaco (paraguaio, argentino e boliviano). Durante a seca, os campos  tornam-se amarelados e constantemente a temperatura desce a níveis abaixo de 0 °C, e regista geadas, influenciada pelos ventos que chegam do sul do continente.


Vista aérea do rio, vegetação do Pantanal


A vegetação do Pantanal não é homogénea e há um padrão diferente de flora de acordo com o solo e a altitude. Nas partes mais baixas, predominam as gramíneas, que são áreas de pastagens naturais para o gado — a pecuária é a principal atividade económica do Pantanal. A vegetação de cerrado, com árvores de porte médio entremeadas de arbustos e plantas rasteiras, aparece nas alturas médias. Poucos metros acima das áreas inundáveis, ficam os capões de mato, com árvores maiores como angico, ipê e aroeira.


Rio Miranda - um dos principais rios do Pantanal

Em altitudes maiores, o clima árido e seco torna a paisagem parecida com a da caatinga, apresentando espécies típicas como o mandacaru, plantas aquáticas, piúvas (da família dos ipês com flores róseas e amarelas), palmeiras, orquídeas, figueiras e aroeiras. O pantanal possui uma vegetação rica e variada, que inclui a fauna típica de outros biomas brasileiros, como o cerrado, a caatinga e a região amazónica. A camada de lodo nutritivo que fica no solo após as inundações permite o desenvolvimento de uma rica flora. Em áreas em que as inundações dominam, mas que ficam secas durante o inverno, ocorrem vegetações como a palmeira carandá e o paratudal. 


Rio Miranda - Pantanal - Fazenda San Francisco 
(Foto Heberton Alves)


Durante a seca, os campos são cobertos predominantemente por gramíneas e vegetação de cerrado. Essa vegetação também está presente nos pontos mais elevados, onde não ocorre inundação. Nos pontos ainda mais altos, como os picos dos morros, há vegetação semelhante à da caatinga, com barrigudas, gravatás e mandacarus. Ainda há a ocorrência de vitória-régia, planta típica da Amazónia. Entre as poucas espécies endêmicas está o carandá, semelhante à carnaúba.


Pantanal do Miranda alagado


A vegetação aquática é fundamental para a vida pantaneira: imensas áreas são cobertas por batume, plantas flutuantes como o aguapé e a salvínia. Essas plantas são carregadas pelas águas dos rios e juntas formam verdadeiras ilhas verdes, que na região recebem o nome de camalotes.
 Há ainda no Pantanal áreas com mata densa e sombria. Em torno das margens mais elevadas dos rios ocorre a palmeira acuri, que forma uma floresta de galerias com outras árvores, como o pau-de-novato, a embaúba, o jenipapo e as figueiras.



Vista aérea da vegetação do Pantanal


  • Rio Paraguai

O rio Paraguai é um rio da América do Sul que banha quatro países. Nasce na Chapada dos Parecis, no estado brasileiro de Mato Grosso e banha também o estado de Mato Grosso do Sul, sendo afluente do rio Paraná. O rio, ao contrário da perceção popular comum, não define a fronteira Bolívia-Brasil, mas sim parte da fronteira Brasil-Paraguai e da fronteira Argentina-Paraguai


Vista do Rio Paraguai na altura de Corumbá


Corumbá: cidade mais importante do Pantanal em termos económicos, culturais e populacionais. Constitui o mais importante porto do estado de Mato Grosso do Sul e um dos mais importantes portos fluviais do Brasil e do mundo. Corumbá é conhecida como cidade branca pela cor clara de sua terra, pois está assentada sobre uma formação de calcário. Localizado na margem esquerda do rio Paraguai, grande parte do município é ocupado pelo Complexo do Pantanal. Em razão disso, o apelido capital do pantanal denota a importância de Corumbá, que é a principal e mais importante zona urbana da região alagada.




Bovinos numa fazenda do Pantanal


Barco com Turistas no Pantanal


O incentivo dado pelos governos a partir da década de 1960 para desenvolver a região Centro-Oeste através da implantação de projetos agropecuários, trouxe muitas alterações nos ambientes do cerrado ameaçando a sua biodiversidade. Preocupada com a conservação do Pantanal a Embrapa instalou, em 1975, em Corumbá, uma unidade de pesquisa para a região, com o objetivo de adaptar, desenvolver e transferir tecnologias para o uso sustentado dos seus recursos naturais. As pesquisas iniciaram-se com a pecuária bovina, principal atividade económica e, hoje, além da pecuária, abrange as mais diversas áreas, como recursos vegetais, pesqueiros, faunísticos e hídricos, climatologia, solos, avaliação dos impactos causados pelas atividades humanas e sócio-economia. 
Nos últimos anos houve investimentos maciços no setor do ecoturismo, com diversas pousadas pantaneiras praticando esta modalidade de turismo sustentável.


tuiuiú ou jaburu (Jabiru mycteria), Pantanal, Brasil


tuiuiú ou jaburu (Jabiru mycteria), Pantanal, Brasil


Em Português, o pássaro é chamado jabiru, jaburu, tuiuiú, tuim-de-papo-vermelho ("tuim de pescoço vermelho", em Mato Grosso ) e cauauá (na Bacia Amazónica). O tuiuiú nome também é usado no sul do Brasil para a cegonha de madeira (Mycteria americana).


O ninho do Jabiru, Pantanal, Brasil

O tuiuiú ou jaburu (Jabiru mycteria), uma das maiores aves da América do Sul e o símbolo do Pantanal, além do seu tamanho, chama a atenção pelo seu enorme ninho feito de galhos de arbustos secos, construído em árvores como o "manduvi" (Sterculia striata), a "piúva" (Tabebuia impetigosa) ou em troncos de árvores mortas.


“Quando as aves falam com as pedras 
e as rãs com as águas 
- é de poesia que estão falando.” 

(Manoel de Barros)


Tucano, Pantanal

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