sexta-feira, 19 de outubro de 2012

"Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela" - Poema de Alberto Caeiro



Rafał Olbiński, Marriage of Fígaro (Poster)
 


Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela


Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distração animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero só
Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.

10-7-1930 
 
Alberto Caeiro, “O Pastor Amoroso”.  
In Poemas Completos de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa.
  (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) 
Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993). - 102.
 

Rafal Olbinski


"Tenta viver em contínua vertigem apaixonada; só os apaixonados levam a cabo obras verdadeiramente duradouras e fecundas." 

(Miguel Unamuro)




Miguel de Unamuno y Jugo (Bilbau, 29 de setembro de 1864 – 31 de dezembro de 1936) foi um escritor, poeta e filósofo espanhol.
Pensador apaixonado pelos problemas de seu tempo, Unamuno é considerado um dos expoentes da chamada "geração de 98" da inteligência espanhola e precursor do existencialismo em seu país.
Mais do que não apresentar um caráter sistemático, sua filosofia primou por negar a possibilidade de qualquer sistema. Sua obra literária caracterizou-se pela ruptura com os géneros convencionais.
Unamuno passou a infância em sua cidade natal, onde fez os primeiros estudos. Em 1880, transferiu-se para a capital espanhola. Na Universidade de Madrid, cursou filosofia e letras, doutorando-se quatro anos mais tarde, com uma tese sobre a língua basca.
Regressou, então, a Bilbao, onde permaneceu até 1891. Nesse ano, obteve a cátedra de grego na Universidade de Salamanca, cidade em que se radicou. Também em 91, casou-se com Concha Lizárraga, de quem havia se apaixonado ainda menino.
Em 1894, Unamuno abandonou as ideias positivistas que cultivara e aderiu ao socialismo. Três anos mais tarde, abandonou o Partido Socialista e viveu um momento de crise pessoal e depressão.
Nomeado reitor da Universidade de Salamanca, em 1901, Unamuno exerceu o cargo até 1914, quando foi destituído por suas posições políticas. Viria a reassumi-lo e ser afastado novamente outras vezes, sempre em função das circunstâncias políticas espanholas e da posição que tomava em relação a elas.
Defensor de ideias republicanas, Unamuno escreveu um artigo considerado injurioso ao rei Afonso 13 e foi deportado para a ilha de Fuerteventura, no arquipélago das Canárias, em 1924. Apesar de amnistiado, o pensador se exilou na França, onde permaneceu até 1930.
Em 1931, com a proclamação da República, Unamuno assumiu novamente o cargo de reitor em Salamanca. O desencanto com o governo republicano e seu entusiasmo pelos militares rebeldes, comandados pelo general Francisco Franco, provocaram uma nova destituição em 1936 - início da guerra civil espanhola.
No mesmo ano, contudo, foi reconduzido ao cargo pelos franquistas que dominaram a cidade. Pouco depois, por criticá-los, perdeu-o mais uma vez. Tratou-se de um episódio célebre em que discursou, afirmando diante de autoridades militares: "Vencereis, mas não convencereis".
Foi contestado pelo general Millán-Astray que pronunciou a frase que se tornaria uma expressão da brutalidade do fascismo espanhol: "Abaixo a inteligência e viva a morte!". Unamuno respondeu simplesmente com um "Viva a vida!" e deixou o auditório sob escolta.
Passou seus últimos dia de vida em prisão domiciliar. De sua obra, podem-se destacar as narrativas "Paz na Guerra" (1895) e "Névoa" (1914); os poemas de "Poesias" (1907) e "Andanças e Visões Espanholas" (1922); e os ensaios filosóficos "Vida de Dom Quixote e Sancho" (1905) e "A Agonia do Cristianismo" (1925).

Fonte: Enciclopedia Gran Espasa Universal, Madrid (2007).




"Quem não sente a ânsia de ser mais, não chegará a ser nada."

(Miguel Unamuro)


Rafal Olbinski


"Procuremos mais ser pais do nosso futuro do que filhos do nosso passado."

(Miguel Unamuro)


Rafal Olbinski


"A palavra sábia é aquela que, dita a uma criança, é sempre compreendida sem a necessidade de explicações."

(Miguel Unamuro)


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