domingo, 30 de junho de 2013

"Correspondências" - Poema de Charles Baudelaire


Ivan ShishkinMorning in a Pine Forest


Correspondências


A natureza é um templo augusto, singular, 
Que a gente ouve exprimir em língua misteriosa; 
Um bosque simbolista onde a árvore frondosa 
Vê passar os mortais, e segue-os com o olhar. 

Como distintos sons que ao longe vão perder-se, 
Formando uma só voz, de uma rara unidade, 
Tem vasta como a noite a claridade, 
Sons, perfumes e cor logram corresponder-se 

Há perfumes subtis de carnes virginais, 
Doces como o oboé, verdes como o alecrim, 
E outros, de corrupção, ricos e triunfais 

Como o âmbar e o musgo, o incenso e o benjoim, 
Entoando o louvor dos arroubos ideais, 
Com a larga expansão das notas d'um clarim. 


Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal" 
Tradução de Delfim Guimarães


Ivan Shishkin, A Rye Field


"Nenhum grande artista vê as coisas como realmente são. 
Caso contrário, deixaria de ser um artista."

(Oscar Wilde)


 
Oscar Wilde
Irlanda, 1854-1900
Escritor/Poeta/Dramaturgo/Ensaísta


Queen - 'Bohemian Rhapsody'

"A formiga no carreiro" - Poema de Zeca Afonso




A formiga no carreiro 


A formiga no carreiro
Vinha em sentido contrário
Caiu ao Tejo
Ao pé dum septuagenário. 

Lerpou, trepou às tábuas
Que flutuavam nas águas
E de cima duma delas
Virou-se para o formigueiro
Mudem de rumo
Já lá vem outro carreiro.

A formiga no carreiro
Vinha em sentido diferente
Caiu à rua
No meio de toda a gente. 

Buliu, abriu as gâmbeas
Para trepar às varandas
E de cima duma delas
Virou-se para o formigueiro
Mudem de rumo 
Já lá vem outro carreiro. 

A formiga no carreiro 
Andava à roda da vida
Caiu em cima
Duma espinhela caída. 

Furou, furou à brava
Numa cova que ali estava
E de cima duma delas
Virou-se para o formigueiro
Mudem de rumo
Já lá vem outro carreiro. 


José Afonso (Zeca Afonso),
  Álbum «Venham mais cinco», 1973




"A política é uma pedra atada ao pescoço da literatura, e que em menos de seis meses a submerge. A política, no meio dos interesses da imaginação, é um tiro no meio de um concerto." - Stendhal
 

 

Henri-Marie Beyle, mais conhecido como Stendhal (Grenoble, 23 de janeiro de 1783 — Paris, 23 de março de 1842) foi um escritor francês reputado pela fineza na análise dos sentimentos de seus personagens e por seu estilo deliberadamente seco.


Zeca Afonso - "A formiga no carreiro"
José Afonso, Álbum: Venham Mais Cinco
(Gravado em Paris de 10 a 20 de Outubro de 1973)


Música de Intervenção
(Português europeu) ou música de protesto (Português brasileiro) é uma categoria que engloba canções de música popular compostas com o intuito de chamar a atenção do ouvinte a um determinado problema da atualidade, seja ele de origem social, política ou económica.
Era um tipo de música muito comum nos anos 60 e 70 do século XX, durante a ditadura militar brasileira ou nos últimos anos do Estado Novo português. As suas músicas e atuações eram proibidas, de modo que a sua voz fazia-se ouvir sorrateiramente. Os músicos e cantores de intervenção sofreram a perseguição do regime do Estado Novo. Muitos deles sofreram a prisão e exílio.
Nomes como os de  Adriano Correia de Oliveira,  Brigada Victor Jara,  ChullageFausto Bordalo DiasFernando TordoFrancisco Fanhais (ou Padre Fanhais),  Janita SaloméGACJosé Afonso (ou Zeca Afonso), José Mário Branco,  Luís Cília,  Manuel FreirePaulo de CarvalhoSérgio GodinhoValete (rapper), Vitorino Salomé, entre outros, foram sinónimo de contestação, oposição, luta pela liberdade.
A canção «A formiga no carreiro» de Zeca Afonso foi editada porque a fábula expressa nessa composição parece não ter sido interpretada pelos serviços de censura.
Procedendo à sua decifração, tendo em conta que é uma obra artística, verifica-se um forte empenhamento sociopolítico na sua letra.

sábado, 29 de junho de 2013

Filme - Meu Pé de Laranja Lima, 1970


Capa da primeira edição de “Meu pé de laranja lima”, em 1968


 
 
"Meu Pé de Laranja Lima"
de
 José Mauro de Vasconcelos
 


Meu Pé de Laranja Lima é um romance juvenil, escrito por José Mauro de Vasconcelos e publicado em 1968. Foi traduzido para 52 línguas e publicado em 19 países. Foi adotado em escolas e, posteriormente, adaptado para o cinema, televisão e teatro.

Este livro retrata a história de um menino de cinco anos chamado Zezé (José Mauro), que pertencia a uma família muito pobre e muito numerosa. Zezé tinha muitos irmãos, a sua mãe trabalhava numa fábrica, o pai estava desempregado, e como tal passavam por muitas dificuldades, pelo que eram as irmãs mais velhas que tomavam conta dos mais novos; por sua vez, Zezé tomava conta do seu irmãozinho mais novo, Luís.

Zezé era um rapazinho muito interessado pela vida, adorava saber e aprender coisas novas, novas palavras, palavras difíceis que o seu tio Edmundo lhe ensinava. Contudo, passava a vida a fazer traquinagens pela rua, a pregar peças aos outros e muitas vezes acabava por ser castigado e repreendido pelos pais ou pelos irmãos, que passavam a vida a dizer que era um mau menino, sempre a fazer maldades. Todos estes fatores e o facto de não passar muito tempo com a mãe, visto que esta trabalhava muito, faziam com que Zezé, muitas vezes, não encontrasse na família o carinho e a ternura que qualquer criança precisa. Somente de sua irmã Glória, que ele carinhosamente chama de "Godóia".

Ao mudarem de casa, Zezé encontra no seu quintal da sua nova moradia um pequeno pé de laranja lima, inicialmente a ideia de ter uma árvore tão pequena não lhe agrada muito, mas à medida que este vai convivendo com a pequena árvore e ao desabafar com esta, repara que ela fala e que é capaz de conversar consigo, tornando-se assim o seu grande amigo e confidente, aquele que lhe dava todo o carinho que Zezé não recebia em casa da sua família. Zezé teve também um grande amigo o português Manuel Valadares.

Ao longo da história vão acontecendo vários episódios na vida deste menino, uns mais alegres, outros mais tristes, que nos transmitem uma grande lição de vida e do modo como agir perante diversas situações, pois apesar de ter apenas cinco anos, Zezé já tinha atitudes que qualquer criança comum nunca teria, fazendo-nos então pensar um pouco à cerca de nós mesmos e das nossas atitudes perante determinadas situações.

O livro foi adaptado pela primeira vez em 1970, quando um filme dirigido por Aurélio Teixeira foi lançado; Três novelas baseadas na obra foram criadas: em 1970, exibida pela TV Tupi; em 1980, exibida pela Rede Bandeirantes; e em 1998, também exibida pela Rede Bandeirantes. Em 2003, Meu Pé de Laranja Lima foi publicado na Coreia do Sul, em forma de quadrinhos, numa edição com 224 páginas ilustradas. Em 2012, uma nova versão cinematográfica dirigida por Marcos Bernstein foi produzida e exibida durante o Festival do Rio; a estreia foi em 19 de abril de 2013.




Filme - Meu Pé de Laranja Lima, 1970



José Mauro de Vasconcelos


José Mauro de Vasconcelos nasceu em 26 de fevereiro de 1920, no Rio de Janeiro. Passou a infância em Natal, RN. Sua família era muito pobre e José Mauro passou por muitas dificuldades. Seu grande sonho de infância era ser nadador profissional e chegou a ganhar alguns prémios em campeonatos que participava.
Tinha uma personalidade muito inconstante. Aos quinze anos mudou-se sozinho para o Rio de Janeiro, teve diversos empregos para conseguir se sustentar. Percorreu o Brasil de norte a sul; foi treinador de boxe, agricultor, operário, garimpeiro, carregador de bananas, ator de cinema, jornalista, locutor de rádio e escritor.
Iniciou diversos cursos superiores, mas nunca concluiu nenhum deles.
Seu primeiro romance Banana Brava fixa a aventura vivida por ele em terras do Rio Araguaia. Em 1968 escreveu sua obra mais conhecida O meu pé de laranja lima, baseada em sua infância; nos primeiros meses de lançamento vendeu mais de 217 mil exemplares.
José Mauro de Vasconcelos é figura controvertida da literatura brasileira, marginalizado pela crítica e aclamado pelo público, é autor de largas tiragens com sucessivas reedições.
Faleceu em julho de 1984 em São Paulo.
Algumas Obras: Banana brava, Barro blanco, Coração de vidro, Rosinha - minha canoa, Rua descalça, Palácio japonês, Vamos aquecer o sol, O meu pé de laranja lima.
 
 
 
 

"Eu sou aquela mulher" - Poema de Cora Coralina


Claude Monet, Camille Monet and a Child in the Artist’s Garden in Argenteuil, 1875


Ofertas de Aninha 
(aos moços)


Eu sou aquela mulher
a quem o tempo
muito ensinou.
Ensinou a amar a vida.
Não desistir da luta.
Recomeçar na derrota.
Renunciar a palavras e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos.
Ser otimista.

Creio numa força imanente
que vai ligando a família humana
numa corrente luminosa
de fraternidade universal.
Creio na solidariedade humana.
Creio na superação dos erros
e angústias do presente.

Acredito nos moços.
Exalto sua confiança,
generosidade e idealismo.
Creio nos milagres da ciência
e na descoberta de uma profilaxia
futura dos erros e violências
do presente.

Aprendi que mais vale lutar
do que recolher dinheiro fácil.
Antes acreditar do que duvidar.
 
 
 no livro “Vintém de cobre: meias confissões de Aninha”.
 Global Editora


Cora Coralina, pseudónimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, (Cidade de Goiás, 20 de agosto de 1889 — Goiânia, 10 de abril de 1985) foi uma poetisa e contista brasileira. Considerada uma das principais escritoras brasileiras, ela teve seu primeiro livro publicado em junho de 1965 (Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais), quando já tinha quase 76 anos de idade.
Mulher simples, doceira de profissão, tendo vivido longe dos grandes centros urbanos, alheia a modismos literários, produziu uma obra poética rica em motivos do quotidiano do interior brasileiro, em particular dos becos e ruas históricas de Goiás.


Claude Monet - Still Life with Anemones, 1885


Claude Monet - The End of the Day, 1885


Claude Monet - Entrance to the port of Honfleur, 1870


Claude Monet - Boats in the Port of Honfleur, 1866



Filme - O Elo do Amor


 Closing the Ring (br: Um amor para toda a vida - pt: O Elo do Amor) é um filme americano de 2007, do género romance, dirigido por Richard Attenborough e estrelado por Mischa Barton e Shirley MacLaine. Estreou a 30 de Abril de 2009 em Portugal.

Sinopse

 
Em 1941, em Branagan, Michigan, a bonita e animada Ethel Ann Roberts captura o coração de três amigos Teddy Gordon, Jack Etty e Chuck Harris, todos jovens aviadores. Mas Ethel Ann só tem olhos para Teddy, um rapaz do campo com um rosto simpático e um sorriso deslumbrante. O romance entre os dois é cheio de paixão e sonhos para o futuro, até que ocorre o ataque japonês a Pearl Harbour e todos os rapazes de Branagan são chamados para a guerra. Depois de um casamento secreto, Teddy parte com o anel de Ethel, a promessa dela de amor eterno – e um pacto com Chuck, que ele irá tomar conta de Ethel, se Teddy não regressar…


Claude Monet - London Houses of Parliament at Sunset, 1902

"Que todos os dias sejam dias de Amor" - Texto de Carlos Drummond de Andrade


Ilustração de Tom Lovell


Que todos os dias sejam dias de Amor


João Brandão pergunta, propõe e decreta: 
Se há o Dia dos Namorados, por que não haver o Dia dos Amorosos, o Dia dos Amadores, o Dia dos Amantes? Com todo o fogo desta última palavra, que circula entre o carnal e o sublime? 
E o Dia dos Amantes Exemplares e o Dia dos Amantes Platónicos, que também são exemplares à sua maneira, e dizem até que mais? 
Por que não instituir, ó psicólogos, ó sociólogos, ó lojistas e publicitários, o Dia do Amor
O Dia de Fazê-lo, o Dia de Agradecer-lhe, o de Meditá-lo em tudo que encerra de mistério e grandeza, o Dia de Amá-lo? Pois o Amor se desperdiça ou é incompreendido até por aqueles que amam e não sabem, pobrezinhos, como é essencial amar o Amor. 
E mais o Dia do Amor Tranquilo, tão raro e vestido de linho alvo, o Dia do Amor Violento, o Dia do Amor que não ousava dizer o seu nome mas agora ousa, na arrebentação geral do século? 
Amor Complicado pede o seu Dia, não para tornar-se pedestre, mas para requintar em sua complicação cheia de vôos fora do horário e da visibilidade. Amor à Primeira Vista, o fulminante, bem que gostava de ter o seu, cortado de relâmpagos. E há motivos de sobra para se estabelecer o Dia do Amor ao Próximo, e o Próximo somos nós, quando nos esquecemos de nós mesmos, abjurando o enfezadíssimo Amor-Próprio. 
Depressa, amigos criadores de Dias, criai o do Amor Livre, entendido como tal o que desata as correntes do interesse imediato, da discriminação racial e económica, ri das divisões políticas, das crenças separatórias, e planta o seu estandarte no cimo da cordilheira mais alta. Livre até no impulso egoístico da correspondência geométrica. Amor que nem a si mesmo se escraviza, na total doação que é converter-se no alvo, pois lá diz o que sabe: «Transforma-se o amador na coisa amada.» 
Haja também um Dia para o Amor não correspondido, em que ele se console e crie alento para perseverar, se esta é a sua condição fatal, melhor direi, a sua graça. Pois todo Amor tem o seu ponto de luz, que às vezes se confunde com a sombra. 

O Amor Impossível, exatamente por sua impossibilidade, merece a compensação de um Dia. Concederemos outro ao Amor Perfeito, que não precisa de mais, mergulhado que está na eternidade, a mover os sóis, independentemente da astrofísica. Ao Amor Imperfeito, síntese muito humana de tantos, retrato mal copiado do modelo divino, igualmente, se consagre um Dia generoso. 
Amor à Glória não carece ter Dia, nem Amor ao Dinheiro e seu primo (ou irmão) Amor ao Poder. Eles se satisfazem, o primeiro com uma bolha de sabão, os outros dois com a mesa posta. Mas ao Amor faminto e sem talher, e ao que nenhuma iguaria lhe satisfaz, porque sua fome vai além dos alimentos e é a fome em si, a ansiosa procura do que não existe nem pode existir: um Dia para cada um. 

E se mais Dias sobrarem, que sejam reservados para os Amores de que não me lembro no momento mas certamente existem, pois sendo o Amor infinito em sua finitude, isto é, fugindo ao tempo no tempo, e multiplicando-se em invenções, subtilezas, desvarios, enigmas e tudo mais, sempre haverá um Amor novo no sujeito amante, dentro do Amor que nele pousou e que cada manhã nasce outra vez, de sorte que o mesmo Amor é cada dia outro sem deixar de ser o antigo, e são muitos outros concentrados e não compendiados na potencialidade de amar. Assim sendo, recomendo e requeiro e decreto que todos os dias do ano sejam Dias do Amor, e não mais disso ou daquilo, como erradamente se convencionou e precisa ser corrigido. Tenho dito. Cumpra-se. 

Carlos Drummond de Andrade, in 'O Poder Ultrajovem'


Tom LovellUp the Staircase, 1942


"Assim eu vejo a vida" - Poema de Cora Coralina


Claude Monet (French painter, 1840-1926), Le déjeuner sur l'herbe (right section), 1865–1866, Paris,
 with Gustave Courbet, Frédéric Bazille and Camille Doncieux, first wife of the artist, Musée d'Orsay.
 
 

Assim eu vejo a vida


A vida tem duas faces: 
Positiva e negativa
O passado foi duro 
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança 
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.

 
(Poema inédito publicado na "Folha de S.Paulo" em 4 de julho de 2001.)
 

Claude Monet, Jean Monet on his hobby horse, 1872, 
Claude Monet, Camille Monet on a Garden Bench, 1873, 
Metropolitan Museum of Art, New York City


Claude Monet, Femme en blanc au jardin, 1867


Claude Monet, Woman with a Parasol, Madame Monet and Her Son, 1875,


Claude Monet, Self-portrait in his Atelier, c. 1884, Musée Marmottan, Paris.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

"Meu amor, meu Amado, vê... repara" - Soneto de Florbela Espanca




Soneto


Meu amor, meu Amado, vê... repara
Poisa os teus lindos olhos de oiro em mim,
- Dos beijos de amor Deus fez-me avara
Para nunca os contares até ao fim.

Meus olhos têm tons de pedra rara
- É só para teu bem que os tenho assim-
E as minhas mãos são fontes de água clara
A cantar sobre a sede dum jardim.

Sou triste como a folha ao abandono
Num parque solitário, pelo Outono,
Sobre um lago onde vogam nenúfares.

Deus fez-me atravessar o teu caminho.
- Que contas dás a Deus indo sozinho,
Passando junto a mim, sem me encontrares?




Claude Monet, Nenúfares


Oscar-Claude Monet (Paris, 14 de novembro de 1840 — Giverny, 5 de dezembro de 1926) foi um pintor francês e o mais célebre entre os pintores impressionistas. 
 
O termo impressionismo surgiu devido a um dos primeiros quadros de Monet, "Impressão, nascer do sol", quando de uma crítica feita ao quadro pelo pintor e escritor Louis Leroy: "Impressão, nascer do Sol" – eu bem o sabia! Pensava eu, justamente, se estou impressionado é porque há lá uma impressão. E que liberdade, que suavidade de pincel! Um papel de parede é mais elaborado que esta cena marinha..." A expressão foi usada originalmente de forma pejorativa, mas Monet e seus colegas adotaram o título, sabendo da revolução que estavam iniciando na pintura.



Claude Monet, Femmes au jardin, 1866, Musée d'Orsay
 

 

Claude Monet, Maisons d'Argenteuil, 1873, Alte Nationalgalerie


segunda-feira, 24 de junho de 2013

"Livro do Amor" - Poema de Johann Wolfgang von Goethe


Pintura de Sandra Batoni


Livro do Amor 


O mais singular livro dos livros 
É o Livro do Amor; 
Li-o com toda a atenção: 
Poucas folhas de alegrias, 
De dores cadernos inteiros. 
Apartamento faz uma secção. 
Reencontro! um breve capítulo, 
Fragmentário. Volumes de mágoas 
Alongados de comentários, 
Infinitos, sem medida. 
Ó Nisami! — mas no fim 
Achaste o justo caminho; 
O insolúvel, quem o resolve? 
Os amantes que tornam a encontrar-se. 


in "Divã Ocidental-Oriental" 
Tradução de Paulo Quintela 


Pintura de Sandra Batoni


"O livro é um mudo que fala, um surdo que responde, um cego que guia, 
um morto que vive."



Sandra Batoni, Salotto


"No Egito, as bibliotecas eram chamadas "Tesouros dos remédios da alma". De facto é nelas que se cura a ignorância, a mais perigosa das enfermidades e a origem de todas as outras".

(Jacques Bossuet)


Retrato de Jacques-Bénigne Bossuet, 1698,
por Hyacinthe Rigaud (1659–1743)


Jacques-Bénigne Bossuet (27 de setembro de 1627 / 12 de abril de 1704) foi um bispo, orador, teólogo e escritor francês
Bossuet foi um dos primeiros a defender a teoria do absolutismo político; ele criou o argumento que o governo era divino e que os reis recebiam seu poder de Deus
Foi autor de A Política tirada da Sagrada Escritura, publicada postumamente em 1709, na qual defende a a teoria do Direito divino dos reis justificando que Deus delegava o poder político aos monarcas, conferindo-lhes autoridade ilimitada e incontestável. O caso mais exemplar de governante que se serviu das ideias de Bossuet foi Luís XIV de França, chamado "Rei Sol".


Sandra Batoni, Sunday evening




Sandra Batoni was born in Florence in 1953. In 1973 she started to attend the studio of painter Emanuele Cavalli, one of the founders of the “Roman School”, being later his assistant at the Nude School of the Fine Arts Academy in Florence, where she was appointed as professor in 1997. In 1982 she graduated in architecture at the University of Florence. Her artistic work always moved along in the figuratie field, with a special interest for XX century italian painting. After graduating in architecture, realizing a conscious and tough cultural choice, she took the challenge of comparing with that period's masters back. Colour became the true protagonist of her paintings, in which she developed two main topics: “feminine figure” and “still life”, adding in 2007 the “landscape”. Still lives posess vivid colours, metaphysical atmospheres and a precious pictorial execution. Feminine figures are young women or impatient to grow up teenagers, unaware and at the very same time conscious of their beauty. They stand in quiet interiors, sometimes enlightened by a warm artificial light. Landscapes are created from life drawings, later worked out following the memory and emotions map that “life” provoked. Actually she collaborates with some important italian galleries and a relevant collection of her works is permanently stored at the Parronchi Gallery of Florence.


Sandra Batoni, Gattone


"Do verão diria uma planície lenta quase amarela" - Poema de Maria do Rosário Pedreira


Alfred Sisley, Meadow, 1875


Do verão


Do verão, diria uma planície lenta, quase amarela: o trigo
a enrolar-se nos pés, o oiro do sol, os cabelos
mais loiros. Um vento quente e ondulante sibilando
nas frestas de um celeiro. O fumo sonolento do calor
tornando informe o fio do horizonte. Do verão

diria também um tempo espesso onde todos
os acasos são sofríveis: duas papoilas, vermelho-sangue,
agitam a paisagem. Tu chegas e a minha pele chama-te
sete nomes em surdina. É a luz da tarde que faz o fulgor
dos fenos e aquece a roupa que abandonou o corpo
sem perguntas. As mãos podem então dar-se
todos os recados. E amanhã ninguém sabe. Fica

apenas um punhado de espigas quebradas sobre a planície
lenta; amarela, digo: as papoilas, entretanto, voaram.


Maria do Rosário Pedreira,
 Poesia reunida, Quetzal, Lisboa, 2012


Alfred Sisley, A path at Les Sablons, 1883


"Adote o ritmo da natureza. O segredo dela é a paciência."

Ralph Waldo Emerson


Alfred Sisley, Bridge at Hampton Court, 1874


"A natureza está constantemente a misturar-se com a arte."

Ralph Waldo Emerson



Alfred Sisley, Bridge at Villeneuve-la-Garenne, 1872
 

"A Natureza é uma nuvem mutável, sempre e nunca a mesma."

Ralph Waldo Emerson


 
Ralph Waldo Emerson
Estados Unidos, 1803-1882
Escritor, Poeta, Filósofo, Ensaísta 



domingo, 23 de junho de 2013

"Era um pássaro alto como um mapa" - Poema de Cruzeiro Seixas


Obra de Cruzeiro Seixas



Era um pássaro alto como um mapa


Era um pássaro alto como um mapa
e que devorava o azul
como nós devoramos o nosso amor.

Era a sombra de uma mão sozinha
num espaço impossivelmente vasto
perdido na sua própria extensão.

Era a chegada de uma muito longa viagem
diante de uma porta de sal
dentro de um pequeno diamante.

Era um arranha-céus
regressado do fundo do mar.

Era um mar em forma de serpente
dentro da sombra de um lírio.

Era a areia e o vento
como escravos
atados por dentro ao azul do luar.


Cruzeiro Seixas
em "Áfricas", 1950



Vida e Obra de Cruzeiro Seixas
Cruzeiro Seixas, Autorretrato, 1975, Serigrafia, 38 x 56 cm


Cruzeiro Seixas, de nome completo, Artur Manuel Rodrigues do Cruzeiro Seixas (Amadora, 3 de Dezembro de 1920) é um pintor e poeta português.
Frequentou a Escola António Arroio, onde fez amizade com Mário Cesariny, Marcelino Vespeira, Júlio Pomar e Fernando Azevedo.
Em meados da década de 1940 aproxima-se do neorrealismo, de que se afasta quando adere aos princípios do surrealismo. Juntamente com Mário Cesariny, António Maria Lisboa, Carlos Calvet, Pedro Oom e Mário-Henrique Leiria, entre outros, integra o grupo Os Surrealistas, resultante da cisão do recém formado movimento surrealista português. Participa na exposição desse grupo em 1949 (1ª exposição dos Surrealistas, Lisboa).
Em 1950 alista-se na Marinha Mercante e viaja até África, Índia e Ásia. Em 1951 fixa-se em Angola, desenvolvendo atividade no Museu de Luanda. Data desse tempo o início da sua produção poética. Realiza as primeiras exposições individuais, que levantam um acalorado movimento de opinião (a primeira de desenhos sobre a evocação de Aimé Cesaire, em 1953; a segunda principalmente de «objectos» e «colagens», 1957).
Regressa a Portugal em 1964. Recebe uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian em 1967. Nesse mesmo ano realiza uma pequena retrospetiva na Galeria Buchholz (com folha volante de Pedro Oom e prefácio de Rui Mário Gonçalves) e expõe na Galeria Divulgação, Porto. Em 1970 expõe individualmente na Galeria de S. Mamede, Lisboa, um conjunto de desenhos "de uma imagética cruel, ilustrações possíveis de Lautréamont".
Trabalha como programador nas Galerias 111 e S. Mamede, Lisboa. Viaja pela Europa; entra em contacto com membros do surrealismo internacional. Radica-se no Algarve na década de 1980, trabalhando como programador de diversas galerias. Colabora em revistas internacionais ligadas ao surrealismo, a que sempre se manteve fiel.
O traço certeiro de Cruzeiro Seixas, "de limites apurados e atmosferas de vertigem […] edifica um mundo desolador em que a face onírica e literária não esconde a violência do conjunto, destruindo toda a possibilidade de quietude". Mas essa noite primordial e inquietante "soube coexistir com paisagens mais ligeiras e felizes, como algumas das pintadas nos anos de Angola, e com citações plásticas da história da arte, num jogo de grande prazer plástico, bem como com objetos dotados de flagrante poética, na sua simplicidade de materiais, de técnicas e no sobressalto imaginativo."
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Cruzeiro Seixas, No dia a seguir ao nosso casamento, 1967, Acrílico sobre papel, 28 x 37 cms.


Tela de Cruzeiro Seixas


Tela de Cruzeiro Seixas


Cruzeiro Seixas, sem titulo, 1961


 Tela de Cruzeiro Seixas 


Cruzeiro Seixas, Projeto para um Tejo à nossa medida, 1966, Serigrafia, 15 x 20,5 cm


Cruzeiro Seixas, Recordação de Lisboa em forma de postal, 1970.


"Os dias talvez sejam iguais para um relógio, mas não para um homem."

(Marcel Proust)