sexta-feira, 25 de outubro de 2013

"Ali" - Poema de Saúl Dias (Pseudónimo de Júlio Maria dos Reis Pereira)


Alicia Czechowski (American, b. 1953)



Ali


Ali sofreste. Ali amaste. 
Ali é a pedra do teu lar. 
Ali é o teu, bem teu lugar. 
Ali a praça onde jogaste 
o que o destino te quis dar. 

Ali ficou tua pegada 
impressa, firme, sobre o chão. 
Ninguém a vê sob o montão 
de cinza fria e poeirada? 
Distingue-a, sim, teu coração. 

Podem talvez o vento, a neve, 
roubar a flor que tu criaste? 
Ali sofreste. Ali amaste. 
Ali sentiste a vida breve. 
Ali sorriste. Ali choraste. 


Saúl Dias, in "Sangue"

[Júlio Maria dos Reis Pereira (ou Júlio, como artista plástico e Saúl Dias como poeta – Vila do Conde, 1902 — 1983), foi um pintor, ilustrador e poeta português.
Pertence à segunda geração de pintores modernistas portugueses e foi autor de uma obra multifacetada que se divide entre as artes plásticas e a escrita, tendo sido um dos mais importantes colaboradores da revista Presença.]


Alicia Czechowski, Salt Marsh


Alicia Czechowski, Lara as Flora, oil on linen, 28x22 inches


Alicia Czechowski, Insomnia, oil on linen,  36x36


Alicia Czechowski, Lady


Alicia Czechowski, Pink and red ruffled dress


Alicia Czechowski, Bar Interior painting
 

"Quem não gosta de estar sozinho é uma péssima companhia."

Gonçalo M. Tavares
Fonte - Diário de Notícias (2004)

[Gonçalo Manuel Tavares (Luanda, Agosto de 1970), mais conhecido na forma Gonçalo M. Tavares, é um escritor e professor universitário português, cuja primeira obra foi publicada em 2001.]


Leonard Cohen - I'm Your Man 



quinta-feira, 24 de outubro de 2013

"Angústia" - Poema de Florbela Espanca


Willem de Kooning, Untitled, 1958 (Peggy Guggenheim Collection)



Angústia 


Tortura do pensar! Triste lamento! 
Quem nos dera calar a tua voz! 
Quem nos dera cá dentro, muito a sós, 
Estrangular a hidra num momento! 

E não se quer pensar!... e o pensamento 
Sempre a morder-nos bem, dentro de nós... 
Querer apagar no céu – ó sonho atroz! – 
O brilho duma estrela, com o vento!... 

E não se apaga, não... nada se apaga! 
Vem sempre rastejando como a vaga... 
Vem sempre perguntando: “O que te resta?...” 

Ah! não ser mais que o vago, o infinito! 
Ser pedaço de gelo, ser granito, 
Ser rugido de tigre na floresta! 


in "Livro de Mágoas"


Galeria de Willem de Kooning


Willem de Kooning, abstraction, 1950


Willem de Kooning, Woman


Willem de Kooning, Woman I


Willem de Kooning, Woman III, (1953), private collection


Willem de Kooning, Woman V (1952–53), National Gallery of Australia


Willem de Kooning in his studio in 1961


Willem de Kooning (Roterdão, 24 de Abril de 1904 — Long Island, 19 de Março de 1997) foi um pintor neerlandês do expressionismo abstrato.


Willem de Kooning


Willem de Kooning foi um pintor figurativista, sobretudo retratista, e usou o guache, aguarela, pastel e técnicas mistas. Foi também escultor e desenhador.


Willem de Kooning by Thomas Hoepker


"Eu não sou um artista, eu sou um criador de imagem."

(Thomas Hoepker)


Thomas Hoepker


Thomas Hoepker (10 de junho de 1936, em Munique, Alemanha) é um fotógrafo alemão e membro da Magnum Photos. Ele também documentou a 11/9 a destruição do World Trade Center. 


Tracy Chapman - Baby Can I hold you


"Vai alta a nuvem que passa" - Poema de Fernando Pessoa


David Eustace (British Artist, born in Birmingham in 1950)


Vai alta a nuvem que passa


Vai alta a nuvem que passa,
Branca, desfaz-se a passar,
Até que parece no ar
Sombra branca que esvoaça.

Assim no pensamento
Alta vai a intuição,
Mas desfaz-se em sonho vão
Ou em vago sentimento.

E se quero recordar
O que foi nuvem ou sentido
Só vejo alma ou céu despido
Do que se desfez no ar. 

15-6-1933

Poesias Inéditas (1930-1935)
 
 
Arte de David Eustace
  David Eustace


  David Eustace


  David Eustace


  David Eustace


  David Eustace


  David Eustace


David Eustace


David Eustace


"Estou cansada, cada vez mais incompreendida e insatisfeita comigo, com a vida e com os outros. Diz-me, porque não nasci igual aos outros, sem dúvidas, sem desejos de impossível? E é isto que me traz sempre desvairada, incompatível com a vida que toda a gente vive..."


Florbela Espanca, Correspondência (1930)

"Admira a beleza" - Poema de Rudolf Steiner


David Eustace (British Artist, born in Birmingham in 1950)


Admira a beleza


Admira a beleza,
Defende a verdade,
Venera a nobreza,
Escolhe a bondade!
Assim é que o homem
Será conduzido,
Às metas na vida;
Aos retos caminhos
Na hora em que age:
À paz, quando sente;
À luz, quando pensa;
E aprende a confiar na 
Regência divina
De tudo o que há
No vasto cosmo,
No fundo d’alma.


Rudolf Steiner
(Tradução de autor desconhecido)


Rudolf Steiner (Kraljevec, fronteira austro-húngara, 27 de Fevereiro de 1861 — Dornach, Suíça, 30 de Março de 1925) foi filósofo, educador, artista e esoterista. 
Foi fundador da Antroposofia, da Pedagogia Waldorf, da agricultura biodinâmica, da medicina antroposófica e da Euritimia, esta última criada em conjunto com a colaboração de sua esposa, Marie Steiner-von Sivers
Seus interesses eram variados: além do ocultismo, se interessou por agricultura, arquitetura, arte, drama, literatura, matemática, medicina, filosofia, ciência e religião.


David Eustace


David Eustace nasceu em Birmighan, em 1950, e foi encorajado na escola, por seu professor de arte, a seguir uma carreira artística, mas constrangimentos financeiros forçaram-no a começar a aprender carpintaria. Foi somente alguns anos depois, quando ele já tinha vinte e um anos, que pode voltar a estudar. 


  David Eustace


Ele completou um curso inicial na Sutton Coldfield Art College, seguido por uma graduação em Fine Art na Exeter College of Art. Mais tarde, ele ainda esteve na Leicester Polytechnic, em 1976, e diplomou-se como professor.


  David Eustace


Após a graduação, David passou seis anos nos EUA trabalhando como muralista. Desde que retornou ao Reino Unido, em 1986, tem ganhado a vida como pintor e muralista – durante 25 anos ele foi baterista na blues band ‘Junkyard Angels'. E, agora, ele toca num quarteto de jazz chamado 'Shufflebones'.


David Eustace


David Eustace diz: 
“Foi somente quando eu parei de trabalhar para sobreviver que minha pintura tornou-se minha propriamente. Para mim, imaginação é a pedra de toque para explorar um mundo interior de sentimentos e sonhos.”


  David Eustace


O trabalho de David Eustace, além de ser exibido na Red Rag British Art Gallery, tem sido exibido nas principais galerias de arte britânicas. 


  David Eustace


Cada uma das pinturas expostas na Red Rag saem diretamente do estúdio de arte de David Eustace e como tudo na Red Rag British Art and Contemporary Art, podem ser enviadas para o mundo inteiro.


  David Eustace



Coldplay - Paradise (Peponi) African Style (ft. guest artist, Alex Boye)
The Piano Guys
 
 

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

"A propósito de estrelas" - Poema de Adília Lopes


Gustave Caillebotte, La berge du Petit-Gennevilliers et le Seine, 1892-1893



A propósito de estrelas


Não sei se me interessei pelo rapaz
por ele se interessar por estrelas
se me interessei por estrelas por me interessar
pelo rapaz hoje quando penso no rapaz
penso em estrelas e quando penso em estrelas
penso no rapaz como me parece
que me vou ocupar com as estrelas
até ao fim dos meus dias parece-me que
não vou deixar de me interessar pelo rapaz
até ao fim dos meus dias
nunca saberei se me interesso por estrelas
se me interesso por um rapaz que se interessa
por estrelas já não me lembro
se vi primeiro as estrelas
se vi primeiro o rapaz
se quando vi o rapaz vi as estrelas


Adília Lopes, de um jogo bastante perigoso, 1985
em Obra, Mariposa Azual, 2000 

Adília Lopes
, pseudónimo literário de Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira, (Lisboa, 20 de Abril de 1960) é uma poetisa, cronista e tradutora portuguesa.


Keane - Everybody's Changing


"Sempre existiram drogas mais potentes, mais calmantes, mais tranquilizantes, mais alucinógenas do que todas as drogas da farmacopeia antiga e da farmacologia moderna. Essas miracle-drugs, essas drogas-milagre são as palavras."

Pitigrilli
Fonte - Amori Express, Le Droghe-miracolo


Dino Segrè, também conhecido pelo pseudónimo Pitigrilli (Turim, 9 de maio de 1893 — Turim, 8 de maio de 1975) foi um escritor italiano.
Jornalista, trabalhou nos principais jornais de sua época, tecendo comentários ácidos e humorísticos sobre a sociedade e os costumes. 
Muito influenciado pelo existencialismo do fim da Segunda Guerra Mundial, seus personagens são homens e mulheres de ciência, lutando para se libertar em seus universos vazios de moral. 
Afirmava que adotou esse pseudónimo porque gostava de "colocar os pingos nos ii"
Algumas de suas obras são: Loira Dolicocéfala, O Colar de Afrodite (aforismos), Moisés e o Calaveiro Levi, Os Vegetarianos do Amor, O Deslize do Moralista (contos) onde satirizou a moral da época em relação ao aborto, A Maravilhosa Aventura, A Virgem de 18 Quilates, Cocaína, Manual de Boas Maneiras (ou não se come frango com as mãos), O Experimento de Pott, O Farmacêutico a Cavalo.
Em Pitigrilli fala de Pitigrilli, uma das últimas obras, mostra sua opção pelo espiritismo, ou, pelo menos, sua enorme curiosidade pelo lado oculto das religiões. 
Já estava em idade avançada e morava em Buenos Aires, Argentina, onde se refugiou. 
Influenciou alguns autores e pensadores italianos, argentinos e brasileiros, como Guido Gozzano, Flavio Bonfá, Chico Anysio e Julio Cortázar.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

"O Amor e o Tempo" - Poema de António Feijó


Pintura de João Hogan


O Amor e o Tempo


Pela montanha alcantilada 
Todos quatro em alegre companhia, 
O Amor, o Tempo, a minha Amada 
E eu subíamos um dia. 

Da minha Amada no gentil semblante 
Já se viam indícios de cansaço; 
O Amor passava-nos adiante 
E o Tempo acelerava o passo. 

— «Amor! Amor! mais devagar! 
Não corras tanto assim, que tão ligeira 
Não pode com certeza caminhar 
A minha doce companheira!» 

Súbito, o Amor e o Tempo, combinados, 
Abrem as asas trémulas ao vento... 
— «Porque voais assim tão apressados? 
Onde vos dirigis?» — Nesse momento, 

Volta-se o Amor e diz com azedume: 
— «Tende paciência, amigos meus! 
Eu sempre tive este costume 
De fugir com o Tempo... Adeus! Adeus! 


António Feijó, in 'Sol de Inverno'


João HoganAutorretrato, 1959.


Pintor e gravador, João Manuel Navarro Hogan nasceu em 1914, em Lisboa, e faleceu no ano de 1988. Iniciou a sua vida profissional numa oficina de marcenaria. Frequentou a Escola de Belas Artes apenas durante um ano. Foi aluno de Frederico Ayres e discípulo de Mário Augusto (1937), quando este dirigia cursos noturnos de pintura na SNBA.
A sua pintura era, no início da sua carreira, essencialmente figurativa mas, após ter conseguido uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, em 1958, para estudar pintura em Paris, o rumo da sua arte mudou criando um caminho próprio, baseado em superfícies e volumes simplificados.
Simultaneamente, trabalhou, desde 1956, em gravura. Demonstrou uma excecional capacidade e dotes profissionais nesta área artística pelo que, logo no ano seguinte, passou a dirigir cursos de gravura para jovens, tornando-se um dos principais professores da Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses.
João Hogan foi, também, professor de Pintura (1976 1978) e de técnica de gravura (1979 1981) na Associação Ar.Co, em Lisboa, ano em que saiu por reforma.
O pintor e o gravador parecem, de certo modo, opor-se em João Hogan. O primeiro trata a paisagem rústica e urbana, recriando-as. O segundo situa-se no plano fantástico onde surge, não a paisagem mas o homem ou o sonho roçando a abstração.

João Navarro Hogan. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-10-16].


João Hogan, Paisagem, 1964, óleo sobre tela, 81 x 100 cm


João Hogan, Sem título, 1972, óleo sobre tela, 130 x 180 cm


quarta-feira, 16 de outubro de 2013

"Uma Vida Feliz" - Texto de John Stuart Mill


Daniel Ridgway Knight  (American, 1839 - 1924) Picking Wildflowers



Uma Vida Feliz


Uma condição de exaltado prazer somente se mantém por momentos ou, em alguns casos, e com algumas interrupções, por horas ou dias. Ela é o brilhante clarão ocasional da alegria, e não a sua chama firme e constante. Disso sempre estiveram tão cientes os filósofos que ensinaram ser a felicidade a finalidade da vida como aqueles que a eles se opuseram. A felicidade que concebiam não era a do arrebatamento, mas de momentos assim em meio a uma existência constituída de poucas e transitórias dores, muitos e variados prazeres, com um predomínio decidido do componente ativo sobre o passivo, e tendo como fundamento do todo não esperar da vida mais do que ela é capaz de oferecer. Uma vida assim constituída, para aqueles que tiveram a boa fortuna de obtê-la, sempre pareceu merecedora da designação de feliz. E uma existência assim é, mesmo hoje em dia, o destino de muitos durante uma parte considerável de suas vidas. A educação falida e os arranjos sociais falidos são os únicos obstáculos reais que impedem que isso esteja ao alcance de quase todos. 


John Stuart Mill, in 'Utilitarismo'




John Stuart Mill

John Stuart Mill, filósofo e economista britânico, nasceu em 1806 e toda a sua formação sofreu forte influência do pai, James Mill, também ele economista. A sua vida profissional foi dedicada quase exclusivamente à East India Company, onde trabalhou cerca de 38 anos.
O ponto de partida dos estudos de J. S. Mill foram as teorias dos economistas clássicos Adam Smith, David Ricardo e Thomas Robert Malthus, as quais aprofundou em variados aspetos e das quais no entanto discordou noutros. Da obra de Mill em relação à economia merecem destaque os seus contributos ao nível de temas como as economias de escala, os custos de oportunidade e as vantagens comparativas no comércio internacional.
Mill, até pelo ponto de partida que utilizou, é considerado um defensor do liberalismo, mas numa perspetiva diferente da preconizada por Adam Smith e David Ricardo. Como tal é usual rotulá-lo de defensor do chamado liberalismo heterodoxo. A principal diferença de Mill face aos seus precursores é o facto de considerar como imutáveis as leis económicas referentes à produção, característica que não se estenderia às leis da repartição dos bens na sociedade. Neste contexto, Mill propôs um conjunto de modificações a nível da organização da sociedade: abolição do regime de salariado em favor de um regime de associação entre os trabalhadores e as empresas; colocação dos rendimentos provindos da renda da terra ao dispor de toda a coletividade; limitações ao direito à herança; implementação de impostos sobre as sucessões; regulamentação dos horários de trabalho dos trabalhadores; etc. Como se vê, algumas das propostas mostram a não concordância do autor com o laissez-faire puro, partilhando mesmo algumas semelhanças com os ideais socialistas, razão pela qual se reconhece Mill como defensor do liberalismo heterodoxo.
Paralelamente aos estudos de caráter estritamente económico, Mill notabilizou-se ainda pelas suas posições firmes a favor da liberdade de expressão e pensamento dos indivíduos, por ele considerada fundamental para o bem-estar das sociedades, bem como da igualdade entre homens e mulheres.
A sua obra mais notória em termos económicos é Principles of Political Economy, publicada em 1848. Outras obras também conhecidas de Mill são On Liberty (1859) e The Subjection of Women (1869). Faleceu em 1873.

John Stuart Mill. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-10-16].



Daniel Ridgway Knight - Paintings (Images Courtesy of Rehs Galleries, Inc., NYC )

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

"O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá" - Poema de Jorge Amado


O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, Ilustração de Carybé



O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá


O mundo só vai prestar
Para nele se viver
No dia em que a gente ver
Um gato maltês casar
Com uma alegre andorinha
Saindo os dois a voar
O noivo e sua noivinha
Dom Gato e Dona Andorinha


 
 
Jorge Amado escreveu O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá  para o seu filho João Jorge, como presente de aniversário, quando este completou um ano de idade. 
É uma história de amor escrita em 1948, em Paris, onde então residia com sua esposa, Zélia Gattai e seu filho. 
Quando o escreveu, não tinha intenção de publicá-lo. O texto andou perdido, e só em 1976 conheceu a sua primeira edição, depois de ter sido recuperado pelo filho e levado a  Carybé para ilustrar. 
Com ilustrações belíssimas, para um belíssimo texto, a história de amor do Gato Malhado e da Andorinha Sinhá continua a correr mundo fazendo as delícias de leitores de todas as idades.
 
 
Jorge Amado e Zélia Gattai


"Não nasci para famoso nem para ilustre, não me meço com tais medidas, nunca me senti escritor importante, grande homem: apenas escritor e homem. Menino grapiúna, cidadão da cidade pobre da Bahia, onde quer que esteja não passo de simples brasileiro andando na rua, vivendo. Nasci empelicado, a vida foi pródiga para comigo, deu-me mais do que pedi e mereci. Não quero erguer um monumento nem posar para a História cavalgando a glória. Que glória? Puf! Quero apenas contar algumas coisas, umas divertidas, outras melancólicas, iguais à vida. A vida, ai, quão breve navegação de cabotagem!"


Retrato de Jorge Amado, 1997, por Gilberto Gomes
 

"Não pode haver criação literária mais popular, que fale mais diretamente ao coração do povo do que a trova. É através dela que o povo toma contato com a poesia e sente sua força. Por isso mesmo, a trova e o trovador são imortais." - Jorge Amado
 

Jorge Amado por Carlos Scliar, artista plástico gaúcho, 1947
 

"A palavra é sempre perseguida por aqueles que desejam impedir que ela seja arma do homem na sua luta por uma vida melhor, de paz, fartura e alegria." - Jorge Amado 
 


Cinematic Orchestra - To Build A Home (feat. Patrick Watson)

 
"Não sou religioso mas tenho assistido a muita mágica. Sou supersticioso e acredito em milagres. A vida é feita de acontecimentos comuns e de milagres." - Jorge Amado


sábado, 12 de outubro de 2013

"Liberdade"- Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen


Jean-Léon Gérôme (1824-1904), Venus Rising, 1890



Liberdade


O poema é 
A liberdade 

Um poema não se programa 
Porém a disciplina 
— Sílaba por sílaba — 
O acompanha 

Sílaba por sílaba 
O poema emerge 
— Como se os deuses o dessem 
O fazemos 


in "O Nome das Coisas"




"O homem livre é aquele que não receia ir até ao fim da sua razão."




Michael Bublé - Close Your Eyes


"Barco Negro" - Poema de David Mourão Ferreira


Frederik Sødring, Part of Møns Klint with the Sommerspiret



Barco Negro


De manhã temendo que me achasses feia,
acordei tremendo deitada na areia,
mas logo os teus olhos disseram que não
e o sol penetrou no meu coração. 

Vi depois, numa rocha, uma cruz,
e o teu barco negro dançava na luz;
vi teu braço acenando, entre as velas já soltas.
Dizem as velhas da praia que não voltas:

São loucas! São loucas! 

Eu sei, meu amor, 
que nem chegaste a partir,
pois tudo em meu redor 
me diz que estás sempre comigo. 

No vento que lança areia nos vidros;
na água que canta, no fogo mortiço;
no calor do leito, nos bancos vazios; 
dentro do meu peito estás sempre comigo.


David Mourão-Ferreira



Barco Negro - Mariza (Concerto em Lisboa)