quinta-feira, 17 de outubro de 2013

"O Amor e o Tempo" - Poema de António Feijó


Pintura de João Hogan


O Amor e o Tempo


Pela montanha alcantilada 
Todos quatro em alegre companhia, 
O Amor, o Tempo, a minha Amada 
E eu subíamos um dia. 

Da minha Amada no gentil semblante 
Já se viam indícios de cansaço; 
O Amor passava-nos adiante 
E o Tempo acelerava o passo. 

— «Amor! Amor! mais devagar! 
Não corras tanto assim, que tão ligeira 
Não pode com certeza caminhar 
A minha doce companheira!» 

Súbito, o Amor e o Tempo, combinados, 
Abrem as asas trémulas ao vento... 
— «Porque voais assim tão apressados? 
Onde vos dirigis?» — Nesse momento, 

Volta-se o Amor e diz com azedume: 
— «Tende paciência, amigos meus! 
Eu sempre tive este costume 
De fugir com o Tempo... Adeus! Adeus! 


António Feijó, in 'Sol de Inverno'


João HoganAutorretrato, 1959.


Pintor e gravador, João Manuel Navarro Hogan nasceu em 1914, em Lisboa, e faleceu no ano de 1988. Iniciou a sua vida profissional numa oficina de marcenaria. Frequentou a Escola de Belas Artes apenas durante um ano. Foi aluno de Frederico Ayres e discípulo de Mário Augusto (1937), quando este dirigia cursos noturnos de pintura na SNBA.
A sua pintura era, no início da sua carreira, essencialmente figurativa mas, após ter conseguido uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian, em 1958, para estudar pintura em Paris, o rumo da sua arte mudou criando um caminho próprio, baseado em superfícies e volumes simplificados.
Simultaneamente, trabalhou, desde 1956, em gravura. Demonstrou uma excecional capacidade e dotes profissionais nesta área artística pelo que, logo no ano seguinte, passou a dirigir cursos de gravura para jovens, tornando-se um dos principais professores da Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses.
João Hogan foi, também, professor de Pintura (1976 1978) e de técnica de gravura (1979 1981) na Associação Ar.Co, em Lisboa, ano em que saiu por reforma.
O pintor e o gravador parecem, de certo modo, opor-se em João Hogan. O primeiro trata a paisagem rústica e urbana, recriando-as. O segundo situa-se no plano fantástico onde surge, não a paisagem mas o homem ou o sonho roçando a abstração.

João Navarro Hogan. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-10-16].


João Hogan, Paisagem, 1964, óleo sobre tela, 81 x 100 cm


João Hogan, Sem título, 1972, óleo sobre tela, 130 x 180 cm


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