sexta-feira, 18 de abril de 2014

"Música e Literatura" - Texto de Gabriel García Márquez


Rosas Amarelas


Música e Literatura 


No México, enquanto escrevia «Cem Anos de Solidão» — entre 1965 e 1966 -, só tive dois discos que se gastaram de tanto serem ouvidos: os Prelúdios de Debussy e «A hard day's night» dos Beatles. Mais tarde, quando por fim tive em Barcelona quase tantos como sempre quis, pareceu-me demasiado convencional a classificação alfabética e adotei para minha comodidade privada a ordem por instrumentos: o violoncelo, que é o meu favorito, de Vivaldi a Brahms; o violino, desde Corelli até Schõnberg; o cravo e o piano, de Bach a Bartók. Até descobrir o milagre de que tudo o que soa é música, incluídos os pratos e os talheres no lava-loiças, sempre que criem a ilusão de nos indicar por onde vai a vida.

A minha limitação era que não podia escrever com música porque prestava mais atenção ao que ouvia do que ao que escrevia, e ainda hoje assisto a muito poucos concertos porque sinto que na cadeira se estabelece uma espécie de intimidade um pouco impudica com vizinhos estranhos. No entanto, com o tempo e as possibilidades de ter boa música em casa, aprendi a escrever com um fundo musical de acordo com o que escrevo. Os noturnos de Chopin para os episódios calmos, ou os sextetos de Brahms para as tardes felizes. Em contrapartida, não tornei a ouvir Mozart durante anos, desde que me assaltou a ideia perversa de que Mozart não existe, porque quando é bom é Beethoven, e quando é mau é Haydn.

Nos anos em que evoco estas memórias, consegui o milagre de que nenhuma espécie de música me incomode para escrever, embora talvez não tenha consciência de outras virtudes, pois a maior surpresa foi-me dada por dois músicos catalães, muito jovens e atentos, que julgavam ter descoberto afinidades surpreendentes entre «O Outono do Patriarca», o meu sexto romance, e o Terceiro Concerto para Piano de Béla Bartók. É verdade que o ouvia sem piedade enquanto escrevia, porque me criava um estado de espírito muito especial e um pouco estranho, mas nunca pensei que me pudesse ter influenciado a ponto de se notar na minha escrita. Não sei como ficaram a saber daquela fraqueza os membros da Academia Sueca, que o colocaram como fundo na entrega do meu prémio. Agradeci-o do fundo da alma, como é evidente, mas se me tivessem perguntado - com toda a minha gratidão e o meu respeito por eles e por Béla Bartók — teria gostado de alguma das romanzas naturais de Francisco el Hombre das festas da minha infância.


Gabriel García Márquez, in 'Viver para Contá-la'


Gabriel García Márquez
Gabriel García Márquez


Gabriel josé García Márquez (6 de março de 1927, Aracataca - 17 de abril de 2014, Cidade do México) foi um escritor, jornalista, editor, ativista e político colombiano
Considerado um dos autores mais importantes do século XX, foi um dos escritores mais admirados e traduzidos no mundo, com mais de 40 milhões de livros vendidos em 36 idiomas.
Desde cedo deixado ao cuidado dos seus avós, um coronel na reserva, ex-combatente na guerra civil, e uma apaixonada pelas tradições orais indígenas, Gabriel García Márquez estudou na austeridade de um colégio de jesuítas.
Terminando os seus estudos secundários, ingressou no curso de Direito da Universidade de Bogotá, mas não o chegou a concluir. Fascinado pela escrita, transferiu-se para a Universidade de Cartagena, onde recebeu preparação académica em Jornalismo. Publicou o seu primeiro conto, "La Hojarasca", em 1947. No ano seguinte, deu início a uma carreira como jornalista, colaborando com inúmeras publicações sul-americanas.
No ano de 1954 foi especialmente enviado para Roma, como correspondente do jornal El Espectador mas, pouco tempo depois, o regime ditatorial colombiano encerrou a redação, o que contribuiu para que Márquez continuasse na Europa, sentindo-se mais seguro longe do seu país.
Em 1955 publicou o seu primeiro livro, uma coletânea de contos que já haviam aparecido em publicações periódicas, e que levou o título do mais famoso, La Hojarasca. Passando despercebida pelo olhar da crítica, a obra inclui contos que lidam compassivamente com a realidade rural da Colômbia.
Em 1967 publicou a sua obra mais conhecida, o romance Cien Años De Soledad (Cem Anos de Solidão), romance que se tornou num marco considerável no estilo denominado como realismo mágico na literatura latino-americana. Em El Otoño Del Patriarca (1977), Márquez conta a história de um patriarca, cuja notícia da morte origina uma autêntica luta de poder.
Uma outra obra tida entre as melhores do escritor é Crónica De Una Muerte Anunciada (1981, Crónica de uma Morte Anunciada), romance que descreve o assassinato de um homem em consequência da violação de um código de honra. Depois de El Amor En Los Tiempos De Cólera (1985, Amor em Tempos de Cólera), o autor publicou El General En Su Laberinto (1989), obra que conta a história da derradeira viagem de Simão Bolívar para jusante do Rio Magdalena. Em 2003, as Publicações D. Quixote editam, deste autor, Viver para Contá-la, um volume de memórias de Gabriel García Márquez onde o autor descreve parte da sua vida. Em 2005 foi publicada outra obra de sucesso Memoria de Mis Putas Tristes (Memória das Minhas Putas Tristes).
Gabriel García Márquez loi laureado com o Prémio Internacional Neustadt de Literatura em 1972 e com o Prémio Nobel da Literatura em 1982 pelo conjunto de sua obra, que entre outros livros inclui o aclamado Cem Anos de Solidão. 
Viajou muito pela Europa e viveu até à morte no México. Era pai do cineasta Rodrigo García.

Gabriel García Márquez. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014. [Consult. 2014-04-18].
Wikipédia




"Não é verdade que as pessoas param de perseguir os sonhos porque estão a ficar velhas, elas estão a ficar velhas porque pararam de os perseguir."

(Gabriel García Márquez)




“Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se.”

(Gabriel García Márquez)

 
Terceiro Concerto para Piano de Béla Bartók, II Adagio religioso




Béla Viktor János Bartók de Szuhafő (Nagyszentmiklós, 25 de março de 1881 — Nova Iorque, 26 de setembro de 1945) foi um compositor húngaro, pianista e investigador da música popular da Europa Central e do Leste. 
 

Bartók Béla, 1927


Béla Bartók é considerado um dos maiores compositores do século XX. Foi um dos fundadores da etnomusicologia e do estudo da antropologia e etnografia da música. Juntamente com seu amigo, o compositor Zoltán Kodály, percorreu cidades do interior da Hungria e Romênia, onde recolheu e anotou um grande número de canções de origem popular. Durante a Segunda Guerra Mundial, decidiu abandonar a Hungria e emigrou para os Estados Unidos. Morando em Nova Iorque, Bartók decepcionou-se com a vida americana. Havia pouco interesse pela sua obra, e suas apresentações, onde sua segunda esposa, Ditta Pásztory também participava, deram pouco retorno financeiro. Ajudado financeiramente por amigos, prosseguiu em sua carreira de compositor, sendo o sexto quarteto uma de suas últimas composições. Em 1944 sua saúde declina tanto que Bartók passa a viver no hospital, sob cuidados médicos. Apesar da sombria situação, compõe ainda o 3 °Concerto para Piano e um Concerto para Viola, que fica incompleto, ao morrer aos 64 anos, de leucemia. Entre suas principais obras estão:

Três concertos para piano (n° 1 - 1926, n° 2 - 1931, n° 3 - 1945)
Dois concertos para violino (n° 1 - 1908, n° 2 - 1938)
Concerto para orquestra (1943)
Música para Cordas, Percussão e Celesta (1936)
Seis quartetos de cordas (n° 1 - 1909, n° 2 - 1917, n° 3 - 1927, n° 4 - 1928, n° 5 - 1934, n° 6 - 1939)
Sonata para dois Pianos e Percussão (1937)
The Miraculous Mandarin, Op.19, Sz.72 (BB 82) (1926)
O Castelo de Barba-Azul (ópera, 1911)

Além de inúmeras obras para piano solo, incluindo os seis volumes didáticos do Mikrokosmos (1926-1939)


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