segunda-feira, 31 de agosto de 2015

"Soneto a Vermeer" - Poema de Alberto da Costa e Silva


Johannes Vermeer, A rendeira (1669/1670) 


Soneto a Vermeer


De luto, a minha avó costura à máquina, 
e gira um cata-vento em plena sala. 
Vejo seu rosto, sombra que a janela 
corrompe contra um pátio amarelado 

de sol e de mosaicos. Sobre a mesa, 
a tesoura, um esquadro, alguns retalhos 
e a imóvel solidão. A minha avó, 
com seus olhos azuis, o tempo acalma. 

A minha avó é jovem, mansa e apenas 
a limpidez de tudo. Sonho vê-la 
no seu vestido negro, a gola branca, 
contra o corpo de cão, negro, da máquina: 

a roda, de perfil, parece imóvel 
e a vida não se exila na beleza.


in 'A Roupa no Estendal, o Muro, as Pombas'


Johannes Vermeer, Woman with a balance, 1665


"Quem escrever a respeito de mulheres, deve molhar a pena nas cores do arco-íris e secar-lhe a tinta com a poeira dourada das borboletas."



Sem comentários: