quinta-feira, 28 de abril de 2016

"Erro" - Poema de Machado de Assis


Claude Andrew Calthrop (British, 1845-1893), Old Letters and Dead Leaves, 1875



Erro


Erro é teu. Amei-te um dia 
Com esse amor passageiro 
Que nasce na fantasia 
E não chega ao coração; 
Nem foi amor, foi apenas 
Uma ligeira impressão; 
Um querer indiferente, 
Em tua presença vivo, 
Nulo se estavas ausente. 
E se ora me vês esquivo, 
Se, como outrora, não vês 
Meus incensos de poeta 
Ir eu queimar a teus pés, 
É que, — como obra de um dia, 
Passou-me essa fantasia. 

Para eu amar-te devias 
Outra ser e não como eras. 
Tuas frívolas quimeras, 
Teu vão amor de ti mesma, 
Essa pêndula gelada 
Que chamavas coração, 
Eram bem fracos liames 
Para que a alma enamorada 
Me conseguissem prender; 
Foram baldados tentames, 
Saiu contra ti o azar, 
E embora pouca, perdeste 
A glória de me arrastar 
Ao teu carro...Vãs quimeras! 
Para eu amar-te devias 
Outra ser e não como eras... 


in 'Crisálidas'

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