terça-feira, 4 de outubro de 2016

"Até o Fim" - Poema de Walmir Ayala


Petrus van Schendel (1806 - 1870), Market by candlelight, 1869



Até o fim


Até o fim com esta garganta
e estes olhos
líquidos, até o fim
com estas mãos
trémulas.

Até o fim com estes pés exaustos
e estes lábios costurados
ao pé da noite. Até o fim
sem dizer nada.

Até o fim estes canais premindo
o sangue.
Até o fim o obrigatório oxigénio
sobrevivência
no abstrato
difícil ar.

Até o fim a tinta ilesa do amor
na alma,
até que quebrem as epidermes
desta mentira,
e o fim prossiga
até o fim. 


 in ‘Antologia Poética’


Petrus van SchendelFish Seller, Evening Market, 1843


E minha alma, sem luz nem tenda,
passa errante, na noite má,
à procura de quem me entenda
e de quem me consolará…




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