sexta-feira, 21 de outubro de 2016

"Esmola" - Poema de José Régio


Thomas Benjamin Kennington (1856 – 1916, English), Orphans, 1885



Esmola


Todos os dias, de manhã, passando
Na sua rua, a encontro já erguida,
Sem estender a mão, mas esmolando,
No xalinho sem cor quase sumida.

Tem dez..., quinze..., vinte anos? Ninguém sabe.
Seu corpito parou... ficou assim.
Mas nos seus olhos, que cresceram, cabe
Todo o oceano azul dos céus sem fim.

«— Deus lhe pague!» — diz-me ela, em paga dessa
Envergonhada esmola que lhe dou.
E o seu olhar, que nada há que meça,
Já me pagou! já me pagou...




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