segunda-feira, 17 de outubro de 2016

"Já não vivo, só penso" - Poema de Fernanda de Castro


Pablo Picasso, 1917-18, Portrait d'Olga Khokhlova dans un fauteuil (Olga in an Armchair), 
oil on canvas, 130 x 88.8 cm, Musée Picasso, Paris, France



Já não vivo, só penso


Já não vivo, só penso. E o pensamento 
é uma teia confusa, complicada, 
uma renda subtil feita de nada: 
de nuvens, de crepúsculos, de vento. 

Tudo é silêncio. O arco-íris é cinzento, 
e eu cada vez mais vaga, mais alheada. 
Percorro o céu e a terra aqui sentada, 
sem uma voz, um olhar, um movimento. 

Terei morrido já sem o saber? 
Seria bom mas não, não pode ser, 
ainda me sinto presa por mil laços, 

ainda sinto na pele o sol e a lua, 
ouço a chuva cair na minha rua, 
e a vida ainda me aperta nos seus braços. 


 in "E Eu, Saudosa, Saudosa"

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