terça-feira, 21 de março de 2017

"Que Aborrecido!" - Poema de António Nobre


Albert Anker (1831-1910), Schoolboy, 1881


Que Aborrecido!


Meus dias de rapaz, de adolescente, 
Abrem a boca a bocejar sombrios: 
Deslizam vagarosos, como os rios, 
Sucedem-se uns aos outros, igualmente. 

Nunca desperto de manhã, contente. 
Pálido sempre com os lábios frios, 
Oro, desfiando os meus rosários pios... 
Fora melhor dormir, eternamente! 

Mas não ter eu aspirações vivazes, 
E não ter, como têm os mais rapazes, 
Olhos boiando em sol, lábio vermelho! 

Quero viver, eu sinto-o, mas não posso: 
E não sei, sendo assim, enquanto moço, 
O que serei, então, depois de velho... 


António Nobre, in 'Só' 




"A escola foi para mim como um barco: me dava acesso a outros mundos. Contudo, aquele ensinamento não me totalizava. Ao contrário: mais eu aprendia, mais eu sufocava."

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