quinta-feira, 4 de abril de 2019

"A curva dos teus olhos" - Poema de Paul Éluard


Karl Ferdinand Sohn, Mathilde Wesendonck, 1850



A curva dos teus olhos
 
 
 A curva dos teus olhos dá a volta ao meu peito
É uma dança de roda e de doçura.
Berço noturno e auréola do tempo,
Se já não sei tudo o que vivi
É que os teus olhos não me viram sempre.

Folhas do dia e musgos do orvalho,
Hastes de brisas, sorrisos de perfume,
Asas de luz cobrindo o mundo inteiro,
Barcos de céu e barcos do mar,
Caçadores dos sons e nascentes das cores.

Perfume esparso de um manancial de auroras
Abandonado sobre a palha dos astros,
Como o dia depende da inocência
O mundo inteiro depende dos teus olhos
E todo o meu sangue corre no teu olhar. 


Paul Éluard
, in "Algumas das Palavras"
Tradução de António Ramos Rosa

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