sábado, 30 de março de 2013

"As Causas" - Poema de Jorge Luis Borges


Biblioteca Torre de Babel, ilustración de Fernando Vicente



As Causas
 
 
 Todas as gerações e os poentes.
Os dias e nenhum foi o primeiro.
A frescura da água na garganta
De Adão. O ordenado Paraíso.
O olho decifrando a maior treva.
O amor dos lobos ao raiar da alba.
A palavra. O hexâmetro. Os espelhos.
A Torre de Babel e a soberba.
A lua que os Caldeus observaram.
As areias inúmeras do Ganges.
Chuang Tzu e a borboleta que o sonhou.
As maçãs feitas de ouro que há nas ilhas.
Os passos do errante labirinto.
O infinito linho de Penélope.
O tempo circular, o dos estóicos.
A moeda na boca de quem morre.
O peso de uma espada na balança.
Cada vã gota de água na clepsidra.
As águias e os fastos, as legiões.
Na manhã de Farsália Júlio César.
A penumbra das cruzes sobre a terra.
O xadrez e a álgebra dos Persas.
Os vestígios das longas migrações.
A conquista de reinos pela espada.
A bússola incessante. O mar aberto.
O eco do relógio na memória.
O rei que pelo gume é justiçado.
O incalculável pó que foi exércitos.
A voz do rouxinol da Dinamarca.
A escrupulosa linha do calígrafo.
O rosto do suicida visto ao espelho.
O ás do batoteiro. O ávido ouro.
As formas de uma nuvem no deserto.
Cada arabesco do caleidoscópio.
Cada remorso e também cada lágrima.
Foram precisas todas essas coisas
Para que um dia as nossas mãos se unissem. 


Jorge Luis Borges, in "História da Noite"
Tradução de Fernando Pinto do Amaral 
 

Jorge Luis Borges, in 1982, 
photograph by Sara Facio


Jorge Francisco Isidoro Luis Borges Acevedo (Buenos Aires, 24 de agosto de 1899 — Genebra, 14 de junho de 1986) foi um escritor, poeta, tradutor, crítico literário e ensaísta argentino.
Em 1914 sua família  mudou-se para Suíça, onde ele estudou e viajou para a Espanha. Em seu retorno à Argentina em 1921, Borges começou a publicar seus poemas e ensaios em revistas literárias surrealistas. Também trabalhou como bibliotecário e professor universitário público. Em 1955 foi nomeado diretor da Biblioteca Nacional da República Argentina e professor de literatura na Universidade de Buenos Aires. Em 1961, destacou-se no cenário internacional quando recebeu o primeiro prémio internacional de editores, o Prémio Formentor.
Seu trabalho foi traduzido e publicado extensamente no Estados Unidos e Europa. Borges era fluente em várias línguas.
Sua obra abrange o "caos que governa o mundo e o caráter de irrealidade em toda a literatura". Seus livros mais famosos, Ficciones (1944) e O Aleph (1949), são coletâneas de histórias curtas interligadas por temas comuns: sonhos, labirintos, bibliotecas, escritores fictícios e livros fictícios, religião, Deus. Seus trabalhos têm contribuído significativamente para o género da literatura fantástica. Estudiosos notaram que a progressiva cegueira de Borges ajudou-o a criar novos símbolos literários através da imaginação, já que "os poetas, como os cegos, podem ver no escuro". Os poemas de seu último período dialogam com vultos culturais como Spinoza, Luís de Camões e Virgílio.
Sua fama internacional foi consolidada na década de 1960, ajudado pelo "boom latino-americano" e o sucesso de Cem Anos de Solidão de Gabriel García Márquez. Para homenagear Borges, em O Nome da Rosa um romance de Umberto Eco, há o personagem Jorge de Burgos, que além da semelhança no nome é cego assim como Borges, foi ficando ao longo da vida. Além da personagem, a biblioteca que serve como plano de fundo do livro é inspirada no conto de Borges A Biblioteca de Babel (Uma biblioteca universal e infinita que abrange todos os livros do mundo).
O escritor e ensaísta John Maxwell Coetzee disse sobre ele: "Ele, mais do que ninguém, renovou a linguagem de ficção e, assim, abriu o caminho para uma geração notável de romancistas hispano-americanos". (Daqui)


Maria Callas - "Oh Mio Babbino Caro"
- Giacomo Puccini

Maria Callas
(Nova Iorque, 2 de dezembro de 1923 — Paris, 16 de setembro de 1977) foi uma cantora lírica americana de ascendência grega, considerada a maior celebridade da Ópera no século XX e a maior soprano e cantora de todos os tempos. Apesar de também famosa pela sua vida pessoal, o seu legado mais duradouro deve-se ao impulso a um novo estilo de atuação nas produções operísticas, à raridade e distintividade de seu tipo de voz e ao resgate de óperas há muito esquecidas do bel canto, estreladas por ela. 


Giacomo Puccini


Giacomo Antonio Domenico Michele Secondo Maria Puccini ou apenas Giacomo Puccini (Lucca, 22 de dezembro de 1858 - Bruxelas, 29 de novembro de 1924) foi um compositor de óperas italiano. Suas óperas estão entre as mais interpretadas atualmente, entre essas estão La bohème, Tosca, Madama Butterfly e Turandot. Algumas das árias das suas óperas, como "O mio babbino caro" de Gianni Schicchi, "Che gelida manina" de La bohème e "Nessun dorma" de Turandot tornaram-se parte da cultura popular.
Descrito pela Encyclopædia Britannica como "um dos maiores expoentes das óperas realistas", ele é lembrado como um dos últimos maiores compositores operísticos italianos. Seu repertório é essencialmente feito pelo verismo, ou pela tradição operística pós-romântica e estilo literário. Enquanto seu trabalho é essencialmente baseado nas óperas italianas tradicionais do fim do século XIX, sua música mostra algumas influências dos compositores contemporâneos e do movimento impressionista e de Igor Stravinsky. Os temas mais comuns em suas óperas incluem um fim trágico, heroínas e o amor.

sexta-feira, 29 de março de 2013

"Lembrete" - de Carlos Drummond de Andrade


 Pieter Bruegel, o Velho - The Dutch Proverbs



Lembrete


"Se procurar bem, você acaba encontrando.
Não a explicação (duvidosa) da vida, 
mas a poesia (inexplicável) da vida."


Carlos Drummond de Andrade,



 Pieter Bruegel, o Velho -  A Dança



 Pieter Bruegel, o Velho - A Boda



 Pieter Bruegel, o Velho - Jogos de Crianças, 1560



Pieter Bruegel, o Velho


Pieter Bruegel,Velho, foi o primeiro de uma família de pintores famosos. Nasceu cerca de 1525 numa aldeia perto de Breda e veio a falecer em 1569. Estudou pintura com Pieter Coeck, tornando-se mestre da Guilda dos Pintores de Antuérpia em 1551. O primeiro trabalho conhecido é O Porto de Nápoles, pintado durante uma viagem a Itália, cuja paisagem o marcaria profundamente. Embora as informações biográficas sejam escassas, a sua obra ficou como testemunho da mestria e da originalidade da sua arte. Bruegel conseguiu seguir um caminho próprio, liberto dos cânones tradicionais baseados na arte italiana. O simbolismo e o fantástico da pintura de Bosch terá sem dúvida influenciado as primeiras gravuras (As Sete Virtudes e os Sete Vícios) e as pinturas em que demonstra o interesse pela vida nos campos, não sem uma ponta de ironia. Nestas pinturas representava inúmeros camponeses em plena atividade, mas com o tempo desenvolveu um estilo mais natural e mais sólido, apresentando menos figuras. A Parábola dos Cegos, A Dança do Camponeses e Casamento de Camponeses contam-se entre as últimas obras, e aí a ironia desapareceu, dando mesmo lugar à descrição dos horrores infligidos às povoações em plena época de perseguições. Esta atitude não era isenta de riscos e o pintor teria mesmo destruído algumas obras para proteger a família.
A obra de Bruegel simplificou a realidade para a pôr ao serviço da sua visão do universal, mostrando a tragédia e a sabedoria de fundo popular.

Pieter Brueghel, o Velho. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2013. [Consult. 2013-03-29].


"Ser Doido-Alegre, que Maior Ventura!" - Poema de António Aleixo


Ilustração de Valentin Rekunenko
 


Ser Doido-Alegre, que Maior Ventura!


Ser doido-alegre, que maior ventura! 
Morrer vivendo p'ra além da verdade. 
É tão feliz quem goza tal loucura 
Que nem na morte crê, que felicidade! 

Encara, rindo, a vida que o tortura, 
Sem ver na esmola, a falsa caridade, 
Que bem no fundo é só vaidade pura, 
Se acaso houver pureza na vaidade. 

Já que não tenho, tal como preciso, 
A felicidade que esse doido tem 
De ver no purgatório um paraíso... 

Direi, ao contemplar o seu sorriso, 
Ai quem me dera ser doido também 
P'ra suportar melhor quem tem juízo. 
in "Este Livro que Vos Deixo" 
 


António Aleixo
(Poeta popular português, 1899 - 1949)
 


Galeria de Valentin Rekunenko
Ilustração de Valentin Rekunenko


"A alegria é a saúde da alma."

(Provérbio)


Ilustração de Valentin  Rekunenko


"A alegria é a vida vista através de um raio de sol." 

(Provérbio)


Ilustração de Valentin Rekunenko


"Quem planta e cria tem alegria." 

(Provérbio)


Valentin Rekunenko


"As grandes alegrias merecem partilha."

(Provérbio) 


Valentin Rekunenko


"Homem pobre, com pouco se alegra." 

(Provérbio) 


Valentin Rekunenko


"A alegria que se esconde é candeia apagada." 

(Provérbio)


Valentin Rekunenko


"A alegria é, muitas vezes, mãe de inúmeras loucuras." 

(Provérbio)


Valentin Rekunenko


"O segredo da vida alegre e contente é estar em paz com Deus e com a Natureza."

(Provérbio)


"Quando eu for pequeno" - Poema de José Jorge Letria


Cats readers / Gatos lectores, Ilustraciones de Valentin Rekunenko



Quando eu for pequeno


Quando eu for pequeno, mãe, 
quero ouvir de novo a tua voz 
na campânula de som dos meus dias 
inquietos, apressados, fustigados pelo medo. 
Subirás comigo as ruas íngremes 
com a certeza dócil de que só o empedrado 
e o cansaço da subida 
me entregarão ao sossego do sono. 

Quando eu for pequeno, mãe, 
os teus olhos voltarão a ver 
nem que seja o fio do destino 
desenhado por uma estrela cadente 
no cetim azul das tardes 
sobre a baía dos veleiros imaginados. 

Quando eu for pequeno, mãe, 
nenhum de nós falará da morte, 
a não ser para confirmarmos 
que ela só vem quando a chamamos 
e que os animais fazem um círculo 
para sabermos de antemão que vai chegar. 

Quando eu for pequeno, mãe, 
trarei as papoilas e os búzios 
para a tua mesa de tricotar encontros, 
e então ficaremos debaixo de um alpendre 
a ouvir uma banda a tocar 
enquanto o pai ao longe nos acena, 
lenço branco na mão com as iniciais bordadas, 
anunciando que vai voltar porque eu sou pequeno 
e a orfandade até nos olhos deixa marcas. 


José Jorge Letria, in "O Livro Branco da Melancolia"


 
José Jorge Letria
Portugal
n. 1951
Jornalista/Político/Poeta/Escritor


Ilustração de Valentin Rekunenko 



"O processo de criação não é transparente. Em determinados momentos qualquer coisa em mim - um ritmo, um marulhar de sílabas, imagens - me leva a procurar o papel. De que parte de mim isto vem não sei, é uma necessidade do espírito que subitamente procura tomar expressão." 

Eugénio de Andrade

 
Eugénio de Andrade
Portugal
1923 // 2005
Poeta

"É possível que só as árvores tenham raízes, mas o poeta sempre se alimentou de utopias. Deixe-me pois pensar que o homem ainda tem possibilidades de se tornar humano."

Eugénio de Andrade

"Na véspera de não partir nunca" - Poema de Álvaro de Campos





Na véspera de não partir nunca


Na véspera de não partir nunca 
Ao menos não há que arrumar malas 
Nem que fazer planos em papel, 
Com acompanhamento involuntário de esquecimentos, 
Para o partir ainda livre do dia seguinte. 

Não há que fazer nada 
Na véspera de não partir nunca. 

Grande sossego de já não haver sequer de que ter sossego! 
Grande tranquilidade a que nem sabe encolher ombros 
Por isto tudo, ter pensado o tudo 
É o ter chegado deliberadamente a nada. 

Grande alegria de não ter precisão de ser alegre, 
Como uma oportunidade virada do avesso. 

Há quantas vezes vivo 
A vida vegetativa do pensamento! 
Todos os dias sine linea 
Sossego, sim, sossego... 
Grande tranquilidade... 

Que repouso, depois de tantas viagens, físicas e psíquicas! 
Que prazer olhar para as malas fítando como para nada! 
Dormita, alma, dormita! 
Aproveita, dormita! 
Dormita! 

É pouco o tempo que tens! Dormita! 
É a véspera de não partir nunca! 


Álvaro de Campos, in "Poemas" 
Heterónimo de Fernando Pessoa


Galeria de Valentin Rekunenko
Valentin Rekunenko


"O escritor original, enquanto não está morto, é sempre escandaloso." 

Simone de Beauvoir


Valentin Rekunenko


"Diante de um obstáculo que é impossível de superar, obstinação é estupidez." 

Simone de Beauvoir


Valentin Rekunenko


"Se não foste feliz quando jovem, certamente que tens agora tempo para o ser." 

Simone de Beauvoir


Valentin Rekunenko


"É o desejo que cria o desejável e o projeto que lhe põe fim."

Simone de Beauvoir


Valentin Rekunenko


"É na arte que o homem se ultrapassa definitivamente." 

Simone de Beauvoir


Valentin Rekunenko


"A velhice é a paródia da vida." 

Simone de Beauvoir


 
Simone de Beauvoir
França
1908 // 1986
Escritora/Feminista 

Expressionismo


Ernst Ludwig Kirchner, Self-Portrait with a Model, 1910


Expressionismo
 
 
O expressionismo foi um movimento artístico e cultural de vanguarda surgido na Alemanha no início do século XX, transversal aos campos artísticos da arquitetura, artes plásticas, literatura, música, cinema, teatro, dança e fotografia. Manifestou-se inicialmente através da pintura, coincidindo com o aparecimento do fauvismo francês, o que tornaria ambos os movimentos artísticos os primeiros representantes das chamadas "vanguardas históricas". Mais do que meramente um estilo com características em comum, o Expressionismo é sinónimo de um amplo movimento heterogéneo, de uma atitude e de uma nova forma de entender a arte, que aglutinou diversos artistas de várias tendências, formações e níveis intelectuais. O movimento surge como uma reacção ao positivismo associado aos movimentos impressionista e naturalista, propondo uma arte pessoal e intuitiva, onde predominasse a visão interior do artista – a "expressão" – em oposição à mera observação da realidade – a "impressão". 

O expressionismo compreende a deformação da realidade para expressar de forma subjectiva a natureza e o ser humano, dando primazia à expressão de sentimentos em relação à simples descrição objetiva da realidade. Entendido desta forma, o expressionismo não tem uma época ou um espaço geográfico definidos, e pode mesmo classificar-se como expressionista a obra de autores tão diversos como Matthias Grünewald, Pieter Brueghel, o Velho, El Greco ou Francisco de Goya. Alguns historiadores, de forma a estabelecer uma distinção entre termos, preferem o uso de "expressionismo" – em minúsculas – como termo genérico, e "Expressionismo" –com inicial maiúscula– para o movimento alemão.

Através de uma paleta cromática vincada e agressiva e do recurso às temáticas da solidão e da miséria, o expressionismo é um reflexo da angústia e ansiedade que dominavam os círculos artísticos e intelectuais da Alemanha durante os anos anteriores à Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e que se prolongaria até ao fim do período entre-guerras (1918-1939). Angústia que suscitou um desejo veemente de transformar a vida, de alargar as dimensões da imaginação e de renovar a linguagem artística. O expressionismo defendia a liberdade individual, o primado da subjectividade, o irracionalismo, o arrebatamento e os temas proibidos – o excitante, diabólico, sexual, fantástico ou perverso. Pretendeu ser o reflexo de uma visão subjectiva e emocional da realidade, materializada através da expressividade dos meios plásticos, que adquiriram uma dimensão metafísica, abrindo os sentidos ao mundo interior. Muitas vezes visto como genuína expressão da alma alemã, o seu carácter existencialista, o seu anseio metafísico e a sua visão trágica do ser humano são características inerentes a uma concepção existencial aberta ao mundo espiritual e às questões da vida e da morte. Fruto das peculiares circunstâncias históricas em que surge, o expressionismo veio revelar o lado pessimista da vida e a angústia existencialista do indivíduo, que na sociedade moderna, industrializada, se vê alienado e isolado. 

O expressionismo não foi um movimento homogéneo, coexistindo vários pólos artísticos com uma grande diversidade estilística, como a corrente modernista (Munch), fauvista (Rouault), cubista e futurista (Die Brücke), surrealista (Klee), ou a abstracta (Kandinsky). Embora o seu maior pólo de difusão se encontrasse na Alemanha, o expressionismo manifestou-se também por meio de artistas provenientes de outras partes da europa como Modigliani, Chagall, Soutine ou Permeke, e no continente americano como, por exemplo, os mexicanos Orozco, Rivera, Siqueiros e o brasileiro Portinari. Na Alemanha existiram dois grupos dominantes: Die Brücke (fundado em 1905), e Der Blaue Reiter (fundado em 1911), embora tenha havido artistas independentes e não afiliados com nenhum dos grupos. Depois da Primeira Guerra Mundial surge a Nova Objetividade que, embora tenha sido uma reação ao individualismo expressionista e procurasse a função social na arte, a sua distorção das formas e o seu intenso colorido fazem do grupo um herdeiro directo da primeira geração expressionista. (Daqui)


Ernst Ludwig Kirchner,  Self-Portrait as a Soldier, 1915


Ernst Ludwig Kirchner (Aschaffenburg, 1880 - Davos, Suíça, 1938) foi um pintor expressionista alemão. Foi um dos fundadores do grupo de pintura expressionista Die Brücke. Influenciado pelo cubismo e fauvismo, o pintor alemão deu formas geométricas às cores e despojou-as de sua função decorativa por meio de contrastes agressivos, com o fim de manifestar sua verdadeira visão da realidade. 
Ernst Ludwig Kirchner iniciou seus estudos em arquitetura no ano de 1901 na Technische Hochschule em Dresda. Dentre várias obras, Kirchner realizou trabalhos de decoração de interiores de casas e capelas, mas foi na pintura que mais se destacou, pintou mais de mil quadros. 
O artista foi o integrante de maior expressão do Die Brücke (a ponte), grupo formado em 1905 por quatro estudantes de arquitetura, cujo principal ideal era libertar a arte dos valores formais e tradicionais. A xilogravura foi uma técnica muito utilizada pelo grupo, Kirchner era o executor das xilogravuras para os cartazes e catálogos do Brücke, técnica que aprendeu aos 15 anos com seu pai. Em 1913, o grupo se dissolveu e cada artista seguiu seu caminho dentro da arte. 
As características da xilogravura foram levadas para as outras obras de Kirchner, como a pintura a óleo Amazona Nua (1912), caracterizada por contornos recortados e contraste agressivo entre claro e escuro. 
A bidimensionalidade e a simplicidade são marcas do artista, evidentes nas combinações simples de cor, poucas nuances, falta de perspectiva e motivos sobrepostos. 
A emoção e o tormento individual de Kirchner são expostos em seus trabalhos pelo tipo de pincelada curta e agressiva. Além da influência do fauvismo, revelada na exploração e emoção das cores, e do cubismo, evidente na geometrização das formas, o pintor também foi influenciado pelo pós-impressionismo, sobretudo Van Gogh
O mundo em torno do artista era o tema de seus trabalhos: vista de cidade, paisagens, retratos de seus companheiros, o corpo humano nu e cenas de circo e music-hall. Em 1911 Kirchner e seus amigos mudaram-se para Berlim, época na qual o pintor explorou em seus trabalhos a experiência numa metrópole moderna. As cenas urbanas se fizeram muito presentes na obras do artista, revelando um aspecto de movimento. 
Quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial, Kirchner transmitiu para o seu trabalho as suas perturbações. A destruição da figura humana foi uma das características dessa época. Um exemplo é a obra Auto-retrato como soldado, na qual ele se mostra em primeiro plano com a mão decepada, e no fundo uma modelo nua. O quadro pode ser interpretado como uma metáfora da masculinidade e ao horror da guerra. 
Em 1917, devido ao seu estado emocional, Kirchner é levado para a Suíça pelos seus amigos. Consequentemente o tema de suas pinturas transformou-se com a nova paisagem. As formas recortadas das cenas urbanas dão espaço às linhas horizontais e verticais, transmitindo a sensação de paz e ordem. 
Em 1938, sozinho e doente, o pintor se suicida na cidade de Davos, Suíça. (Daqui)


Galeria de Ernst Ludwig Kirchner
Ernst Ludwig Kirchner, Street in Dresden, 1908


Ernst Ludwig Kirchner, Marcella, 1911


Ernst Ludwig Kirchner, Girl (Fränzi Fehrmann), 1910


Ernst Ludwig Kirchner, Girls, 1910


Ernst Ludwig Kirchner, Artillerymen, 1915


Ernst Ludwig Kirchner, Visit, Couple and Newcomer, 1922


Ernst Ludwig Kirchner, Gerda, Half-Length Portrait, 1914


Ernst Ludwig Kirchner, Fränzi vor geschnitztem Stuhl, 1910


Ernst Ludwig Kirchner, Marcella, 1910


Ernst Ludwig Kirchner, Erna with Cigarette, 1915

quinta-feira, 28 de março de 2013

Expressionismo abstrato



Jackson Pollock - Shimmering Substance, 1946 



Expressionismo abstrato

Expressionismo abstrato foi um movimento artístico com origem nos Estados Unidos, muito popular no pós-guerra. Foi o primeiro movimento especificamente americano a atingir influência mundial e também o que colocou Nova Iorque no centro do mundo artístico (posição previamente exercida por Paris, França).
O movimento ganhou este nome por combinar a intensidade emocional do expressionismo alemão com a estética antifigurativa das Escolas abstratas da Europa, como o Futurismo, o Bauhaus e o Cubismo Sintético. O termo foi usado pela primeira vez para designar o movimento americano em 1952 pelo crítico H. Rosenberg.
Os pintores mais conhecidos do expressionismo abstrato são Arshile Gorky, Jackson Pollock, Philip Guston, Willem de Kooning, Clyfford Still e Wassily Kandinsky
A geração de Kooning e Pollock parecia ter sido, entre os expressionistas abstratos, composta por figuras em torno das quais a maioria dos críticos e dos artistas mais jovens se orientava. Incorporaram elas o emprego de uma palheta agressiva, conjugando traços geométricos e aleatórios da "pintura automática" um empaste pesado e grosseiro de pigmentos sobrepostos. O modo de pintar americano rompeu com a pintura de cavalete e elegeu como suporte a parede ou o chão, o que permitia que o artista tivesse uma resistência dura para trabalhar dos quatro lados, passando a estar literalmente "na" ou dentro da pintura. Utilizavam novos pigmentos, como o pesado empaste feito de areia, vidro moído, cinza vulcânica e a técnica do "dripping".


 Willem de Kooning


Willem de Kooning


Franz Kline


Franz Kline


  • O Expressionismo Abstrato Europeu

Na Europa  desenvolveu-se um expressionismo abstrato que tinha preocupações intelectuais.
Sua expressão artística foi menos radical que na América, sua dramaticidade está mais diretamente relacionada com estado de espírito expresso na França pelo existencialismo.
Suas telas contém um clima mórbido com um caráter mais introspectivo do que o expressionismo de seus colegas americanos.
Ao invés da pesada carga de revolta visível nas obras da Escola de Nova Iorque, os artistas europeus eram mais identificados com as meditações sobre a condição humana, o mal estar que consistiria num "existir", que não era um "viver". Uma expressão mais dominada pela melancolia e imobilidade do que a revolta expansiva dos americanos.
O pintor mais típico desse estilo era um alemão conhecido pelo nome de Wols, pseudónimo de Alfred Otto Wolfgang Schulze
Além dele, igualmente importante foi o alemão Hans Hartung, os franceses Jean Fautrier e Jean Dubuffet, os italianos Antonio Burri e Lucio Fontanae o catalão Antoni Tapiês, entre outros.


 Wols (Alfred Otto Wolfgang Schulze), 1946-47, untitled, 
oil on canvas, Franz Haniel & Cie.


Wols (Alfred Otto Wolfgang Schulze), 1947, It's All Over The City


  • Influências deixadas

Surgiam novas tendências abstratas, como a Op Art e o minimalismo que apesar de usarem o expressionismo abstrato como trampolim, eram uma estilização da abstração, e na realidade negavam os princípios expressionistas, fazendo um abstracionismo puro, uma arte formalista que se utilizava mais de efeitos visuais do que da ideia de captar uma expressão subjetiva do artista.


Arte Op
 
A Op art (abreviação de optical art) foi um movimento artístico que surgiu ao mesmo tempo no início da década de 60 nos Estados Unidos e Europa.
O termo foi empregado pela primeira vez pela revista Time em 1965, se revelando inicialmente como uma variação do expressionismo abstrato.


Victor Vasarely - Zebras (1938)


A primeira obra que se enquadra neste movimento foi "Zebra", feita por Victor Vasarely nos anos 30. Tal obra era composta por listras diagonais pretas, brancas e curvadas, passando ao observador, a impressão de uma visão tridimensional.

 Victor Vasarely - Sinond


Na Op art, as cores têm a finalidade de passar ilusões ópticas ao observador. Visando atingir o dinamismo, os artistas usam tons vibrantes e círculos concêntricos, dando a ideia de movimento e interação entre os objetos e o fundo.
Desenvolveu-se lentamente, expressando muito mais os elementos científicos do que os valores humanos.
Possui um conceito contemporâneo e deu à arte moderna uma nova visão, levando o apreciador das artes a fazer uma análise de cada obra.
Não tem o apelo emocional da Pop Art, em comparação, parece excessivamente cerebral e sistemática, mais próxima das ciências do que das humanidades.

Influências

 
A razão da Op Art é a representação do movimento através da pintura apenas com a utilização de elementos gráficos.
Outro fator fundamental para a criação da Op Art foi a evolução da ciência, que está presente em praticamente todos os trabalhos, baseando-se principalmente nos estudos psicológicos sobre a vida moderna e da Física sobre a Óptica.
A alteração das cidades modernas e o sofrimento do homem com a alteração constante em seus ritmos de vida.

Carcterísticas

 
Explora a falibilidade do olho pelo uso de ilusões ópticas.
Defendia para arte "menos expressão e mais visualização".
Quando são observados, dão a impressão de movimento, clarões ou vibração, ou por vezes parecem inchar ou deformar-se.
Oposição de estruturas idênticas que interagem umas com as outras, produzindo o efeito óptico.
As cores têm a finalidade de passar ilusões ópticas ao observador.

Artistas

 
No ano de 1965, foi organizada a primeira exposição da Op art no Museu de Arte Moderna de Nova York: The Responsive Eye (O Olho que Responde). Além de Victor Vasarely, expuseram suas obras: Richard Anusziewicz, Bridget Riley, Ad Reinhardt, Kenneth Noland e Larry Poons.


Victor Vasarely


Victor Vasarely
, nascido Hungria, (Pécs, 9 de abril de 1908 — Paris, 15 de março de 1997) foi um pintor e escultor húngaro radicado na França, considerado o "pai da OP ART" (abreviatura de Optical Art).