segunda-feira, 9 de setembro de 2024

"Felinus" - Poema de Inês Lourenço


Julius Adam (German painter, 1852-1913), Mealtime, Private Collection.



Felinus


A Maria Tobias era preta
e branca. Na parte branca era
Tobias e era Maria na preta. Morou
connosco cinco anos. No sexto, numa
quinta-feira santa pôs-se a dormir
depois de um longo jejum. Ficaram-nos
nas mãos festas desabitadas e os poucos
haveres: uma malga, uma manta, um bebedouro,
que não logramos enviar
para a nova morada.


Inês Lourenço, in "Coisas que nunca",
Editor: &etc, 2010
 
 
 Julius Adam, Kittens at play, Private Collection.
 

 "Se você passar tempo com os animais, corre o risco de se tornar uma pessoa melhor."

Oscar Wilde
(Escritor, poeta e dramaturgo irlandês, 1854–1900)
 

domingo, 8 de setembro de 2024

"Retrato na Praia" - Poema de Carlos Pena Filho



Edward Cucuel (German-american Impressionist painter, 1875–1954),
Summer Dreaming, c. 1911-12.
 


Retrato na Praia

 
Ei-la ao sol, como um claro desafio 
ao tenuíssimo azul predominante. 
Debruçada na areia e assim, diante
 do mar, é um animal rude e bravio. 
 
Bem perto, há um comentário sobre estio, 
mormaço e sonolência. Lá, distante,
 muitos vagos indícios de um navio 
que ela talvez contemple nesse instante. 
 
Mas o importante mesmo é o sol, que esse desliza 
por seu corpo salgado, enxuto e belo, 
como se nuvem fosse, ou quase brisa. 
 
E desce por seus braços, e rodeia 
seu brevíssimo e branco tornozelo,
 onde se aquece e cresce, e se incendeia. 
 

Carlos Pena Filho
, "Livro Geral", 1959
 
 
Edward Cucuel, The bather, s.d.
 
 
Edward Cucuel, The bathers, s.d.
 
 
Edward Cucuel, On the shore, s.d.
 
 
Edward Cucuel, On the dock, s.d.
 
 
Edward Cucuel, Her Favourite Spot, s.d.
 
 
Edward Cucuel, Girl in a boat, s.d.
 
 
Edward Cucuel, An elegant lady by a lake, s.d.
 
 

Edward Cucuel

 
Edward Alfred Cucuel (1875-1954) was a newspaper illustrator turned Impressionist, known especially for his vibrant palettes and portraits of women in dappled landscapes.
Born in San Francisco, Cucuel began his training at the San Francisco School of Design in the late 1880s; his father was a newspaper publisher, and the young Cucuel worked for several newspaper art departments in his teenage years.
Cucuel moved to Paris in 1892 to continue his artistic studies at the Academy Julian and the Ecole des Beaux-Arts. He returned to the United States in 1896, working for half a year as an illustrator in New York, then left once more for Paris. After a couple of years spent painting in that city, Cucuel struck out to travel through France, Italy, and Germany to study the old masterworks in person.
In 1907 he moved to Munich to establish a more permanent residence, training with Leo Putz to more seriously develop his Impressionist painting practice.
Cucuel remained in Germany until 1939, gradually gaining recognition, with his works being shown in Paris salons and at the Art Institute of Chicago.
The outbreak of World War II forced Cucuel to come back to the United States; he lived in Pasadena for the remainder of his life. (daqui)

sábado, 7 de setembro de 2024

"Ode ao Caldo de Congro" - Poema de Pablo Neruda


Jan van Kessel, the Elder (Flemish painter, 1626-1679), Still life of fish in a harbor landscape,
possibly an allegory of the element of water, 1660
.



Ode ao Caldo de Congro


No mar
tormentoso
do Chile
vive o rosado congro,
enguia gigante
de nevada carne.

E nas panelas
chilenas,
na costa,
nasceu o caldo
grávido e suculento,
proveitoso.

Levem para a cozinha
o congro esfolado,
a sua manchada pele cede
como uma luva
e a descoberto fica
então
a uva do mar
o congro tenro
reluz
já nu,
preparado
para o nosso apetite.

Agora
pegas em
alhos,
acaricia primeiro
esse marfim
precioso,
cheira
a sua fragrância iracunda,
então
deixa o alho picado
cair com a cebola
e o tomate
até que a cebola
tenha cor de ouro.

Entretanto
cozem-se ao vapor
os régios
camarões marinhos
e quando estiverem a chegar
ao seu ponto,
quando se consolidar o sabor
num molho
formado pelo suco
do oceano
e pela água clara
que soltou a luz da cebola,
então
que entre o congro
e mergulhe na glória,
que na panela
se azeite,
se contraia e se impregne.

Já só é necessário
deixar no manjar
cair o creme
como uma rosa espessa
e ao lume
lentamente
entregar o tesouro
até que no caldo se aqueçam
as essências do Chile,
e à mesa
cheguem recém-casados
os sabores
do mar e da terra
para que nesse prato
tu conheças o céu.


Pablo Neruda, in Odes Elementares 
Tradução de Luis Pignatelli
Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1977
 

 

Oda al Caldillo de Congrio
(Poema original)
 
 
En el mar
tormentoso
de Chile
vive el rosado congrio,
gigante anguila
de nevada carne.
Y en las ollas
chilenas,
en la costa,
nació el caldillo
grávido y suculento,
provechoso.
Lleven a la cocina
el congrio desollado,
su piel manchada cede
como un guante
y al descubierto queda
entonces
el racimo del mar,
el congrio tierno
reluce
ya desnudo,
preparado
para nuestro apetito.
Ahora
recoges
ajos,
acaricia primero
ese marfil
precioso,
huele
su fragancia iracunda,
entonces
deja el ajo picado
caer con la cebolla
y el tomate
hasta que la cebolla
tenga color de oro.
Mientras tanto
se cuecen
con el vapor
los regios
camarones marinos
y cuando ya llegaron
a su punto,
cuando cuajó el sabor
en una salsa
formada por el jugo
del océano
y por el agua clara
que desprendió la luz de la cebolla,
entonces
que entre el congrio
y se sumerja en gloria,
que en la olla
se aceite,
se contraiga y se impregne.
Ya sólo es necesario
dejar en el manjar
caer la crema
como una rosa espesa,
y al fuego
lentamente
entregar el tesoro
hasta que en el caldillo
se calienten
las esencias de Chile,
y a la mesa
lleguen recién casados
los sabores
del mar y de la tierra
para que en ese plato
tú conozcas el cielo.


Pablo Neruda,  
 

Os Pescadores

PEQUENAS NOTAS
 
PEIXES
 
       A raia, para ser boa, deve ser comida de caldeirada de pitau (Mira), menos em Maio, porque «raia em Maio, tumba à porta», e a faneca com três fff – fresca, fria e frita. Cada peixe tem a sua época: «a solha, no tempo do milho, come-a com o teu amigo», a sardinha antes da desova e o próprio caranguejo só lá para Agosto é que, assado na casca, atinge a perfeição. Mas todo o peixe regala quando sai da rede para o lume: tem um sabor único a mar, e até a reluzente savelha e o horrível cação, lavados e amanhados na maré, se tornam toleráveis. Quanto ao linguado, ao goraz, à corvina, à gordíssima sarda, à pescada e à saborosa sardinha, para não falar dos peixes hoje quase desaparecidos, do rodovalho, do peixe-rei, ignora-lhes o sabor e o delicado perfume quem os não trouxe do barco para casa, ainda a escorrer dentro do cabaz, sobre uma cama de algas e de limos. São então esplêndidos assados, fritos, de caldeirada, com um fio de azeite, ou preparados pelo próprio pescador sobre umas brasas. 
       Quando a maré vaza, os pescadores procuram a serrada para iscar os espinéis, e a praia fica a descoberto: as poças de água são joias cheias de reflexos entre o lodo, e cada penedo com a sua cabeleira escura de sargaço – verde húmido e translúcido – é um ser vivo. Em todas as poças faíscam as enguias que se metem nos aloques, o caranguejo traiçoeiro e voraz, que espera a presa na sua clausura de pedra, as mantas de pequenos peixes por criar, reluzindo quando, num movimento brusco, mostram ao mesmo tempo o ventre esbranquiçado, e um bicho mole como a lesma que se arrasta pelo limo. Há fragas enormes, roídas, veneráveis, cobertas de lapas aderentes, de mexilhões aos cachos que, sentindo gente, fecham logo a casa, e onde o azul empoça em buracos que refletem o universo: cabem lá dentro o céu, a luz e as estrelas.
 
       A toninha, que anda sempre atrás do banco da sardinha, afigura-se-me o ser mais feliz do mar. Tem a mesa sempre posta – e inesgotável. Folgam como um bando à solta de rapazes. Dão-me sempre uma impressão de liberdade e de vida deliciosa... Saltam, vê-se-lhes o dorso reluzente, mergulham e irrompem, com o costado azul a escorrer, quando menos se espera, lá ao fundo... Às vezes vêm pela barra dentro, na onda e na espuma, no jorro impetuoso, quando o mar, como um seio que cresce com volúpia e se dilata, se mete pela terra. Setembro – marés vivas.
       – As toninhas! – Alarido na Cantareira: os homens saltam nos barcos. Um à proa leva o arpão, espera o momento e joga-lho. Aquela morre, as outras fogem logo para o mar.
       Entre estes bichos e outros que conheço, pavorosos, há um salto enorme de pesadelo.
       Vi as tremelgas nos fundos espessos e lívidos entre os grandes penedos do Baleal, onde as águas têm a cor horrível das morgues. Pior que podridão – e lá para o fundo um remexer de vida misteriosa. Reparo, e de repente levanta-se de baixo uma revoada de pavor, panos vivos que arfam sacudidos, asas moles e disformes de morcegos que palpitam, dum verde indistinto e elétrico. São as tremelgas, que vêm aos milhares à superfície, não sei como nem para quê, vida que faz cismar e mete medo. Suponho o contacto com aquelas peles viscosas, com aquela vida obscura, nos subterrâneos esverdeados onde a luz não penetra – e fujo! fujo!...

Raul Brandão (1867-1930), em Os Pescadores, 1923.



Jan van Kessel, the Elder, Still Life with Fish and Marine Creatures in a Costal Landscape, 1661,
Städel Museum
 

"O primeiro homem que percebeu a analogia entre um grupo de sete peixes e um grupo de sete dias trouxe um notável avanço à história de pensamento."

Alfred North Whitehead
(1861-1947),
 in Alfred North Whitehead: An Anthology‎ - Página 381,
Filmer Stuart Cuckow Northrop - Macmillan, 1953 - 928 páginas.
 

Jan van Kessel, the Elder, Fighting dog and cat with a still life of marine animals and vegetables, c.1665.
 

"Contaram-me que os peixes não se importam de serem pescados, pois têm o sangue frio e não sentem dor. Mas não foi um peixe que me contou isso".


Heywood Broun
, Sitting on the World‎ - Página 17,
Publicado por G. P. Putnam's sons, 1924 - 276 páginas.
 
 
Jan van Kessel, the Elder, Cats with a still life of marine animals, fruit and vegetables, c.1665.
 

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

"O Coração" - Poema de Castro Alves



Madeleine Lemaire (Peintre, illustratrice et salonnière française, 1845 - 1928),
  An Afternoon Stroll, s.d.
 
 

O Coração

 
O coração é o colibri dourado
Das veigas puras do jardim do céu.
Um – tem o mel da granadilha agreste,
Bebe os perfumes, que a bonina deu.

O outro – voa em mais virentes balças,
Pousa de um riso na nubente flor.
Vive do mel – a que se chama – crenças –,
Vive do aroma – que se diz – amor. 

Recife, 1865. 
 
 

Madeleine Lemaire, Wildflowers in a Basket with a Butterfly, s.d
(Watercolor on paper)
 
 
Em honra da mais pura das violetas
a primavera abre as mais lindas rosas
e pinta de ouro e azul as borboletas.


Gustavo Teixeira (1881-1937),
  in "Os mais belos sonetos que o amor inspirou".
Volume 1, J. G. de Araújo Jorge - Página 166,
 Ed. Vecchi, 1965.
 
 
Madeleine Lemaire, Panier de Roses, 1874.
 
 
Ver um Mundo num Grão de Areia
E um Céu numa Flor silvestre,
Ter o Infinito na palma da sua mão
E a Eternidade numa hora.
 
 〰〰〰
 "To see a World in a Grain of Sand
And a Heaven in a Wild Flower
Hold Infinity in the palm of your hand
And Eternity in an hour." 
 
 

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

"Mar de Setembro" - Poema de Eugénio de Andrade


Édouard Bisson (French painter, 1856–1939), Sitting by the sea, 1882.
 
 

Mar de Setembro


Tudo era claro:
céu, lábios, areias.
O mar estava perto,
fremente de espumas.
Corpos ou ondas:
iam, vinham, iam,
dóceis, leves – só
ritmo e brancura.
Felizes, cantam;
serenos, dormem;
despertos, amam,
exaltam o silêncio.
Tudo era claro,
jovem, alado.
O mar estava perto.
Puríssimo. Doirado.


Eugénio de Andrade,
In «Coração do Dia / Mar de Setembro»,

 
Coração do Dia - Mar de Setembro de Eugénio de Andrade
Edição/reimpressão: 02-2013. Editor: Assírio & Alvim.
Páginas: 80
 

SINOPSE 
 
O terceiro volume da coleção Obras de Eugénio de Andrade reúne os livros «Coração do Dia», publicado pela primeira vez em 1958, e «Mar de Setembro», de 1961. Esta edição respeita escrupulosamente a fixação do texto feita ainda em vida, pelo poeta, e conta com um prefácio do Professor Fernando J.B. Martinho, que nos diz, dos dois conjuntos de poemas que compõem este livro: «A limpidez, a luminosa simplicidade que nos oferta, em ambos estes conjuntos, há que aceitá-la como uma graça de que só a grande poesia é capaz.» 


Despertar

É um pássaro, é uma rosa,
é o mar que me acorda?
Pássaro ou rosa ou mar,
tudo é ardor, tudo é amor.
Acordar é ser rosa na rosa,
canto na ave, água no mar. 
(daqui)
 

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

“O último poema” - Poema de Manuel Bandeira



Leopoldo Gotuzzo (Pintor brasileiro, 1887–1983), Paisagem de Primavera Florida
na Ilha de Paquetá – RJ, 1931
. Óleo sobre tela, 55 X 33 cm.
 


O último poema

 
Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação. 


1930
 
Manuel Bandeira
,
50 poemas escolhidos pelo autor,
Ed. Cosac Naify, São Paulo, 2006. 
 

Manuel Bandeira - 50 poemas escolhidos pelo autor
 Ano de edição : 2006
Editora: Cosac Naify
 
 
 RESUMO
 
Numa obra que não ultrapassa 350 poemas, os cinquenta reunidos neste livro são claramente uma síntese da poética de Manuel Bandeira, feita por alguém que a conhece como ninguém, ou seja, o próprio poeta. O leitor se surpreenderá com os novos significados que brotam a partir do rearranjo (encomendado a Bandeira pelo poeta e editor José Simeão Leal, do antigo Serviço de Documentação do MEC) e com as articulações inesperadas entre poemas muitas vezes lidos, relidos e nem por isso já inteiramente desvendados. Do ácido "Os sapos" à tranquila "Consoada", estão presentes na antologia os temas dominantes em sua poética: a poesia, o erotismo, o Recife da infância, a religiosidade. 
A edição é acompanhada de um CD com 29 poemas lidos pelo próprio Bandeira, um material raro, que durante décadas ficou restrito aos colecionadores, e que sai agora em edição limitada. daqui
 

terça-feira, 3 de setembro de 2024

"Ao meu cão" - Poema de Cristovam Pavia



Andrew Wyeth (American visual artist, primarily a realist painter, working predominantly
 in a regionalist style, 1917 - 2009), "Master Bedroom", 1965.


Ao meu cão


Deixei-te só, à hora de morrer.
Não percebi o desabrigado apelo dos teus olhos
Humaníssimos, suaves, sábios, cheios de aceitação
De tudo... e apesar disso, sem o pedir, tentando
Insinuar que eu ficasse perto,
Que, se me fosse, a mesma era a tua gratidão.

Não percebi a evidência de que ias morrer
E gostavas da minha companhia por uma noite,
Que te seria tão doce a minha simples presença
Só umas horas, poucas.

Não percebi, por minha grosseira incompreensão,
Não percebi, por tua mansidão e humildade,
Que já tinhas perdoado tudo à vida
E começavas a debater-te na maior angústia, a debater-te com a morte.
E deixei-te só, à beira da agonia, tão aflito, tão só e sossegado.

1966

Cristóvam Pavia ou Cristovam Pavia,
pseudónimo de Francisco António Lahmeyer Flores Bugalho


Cristovam Pavia
 

Cristovam Pavia foi um poeta português, nascido em 7 de outubro de 1933, em Lisboa, e falecido a 13 de outubro de 1968, na mesma cidade, filho do poeta presencista Francisco Bugalho, oriundo de Castelo de Vide. 

A partir de 1940 reside em Lisboa, onde terminou os estudos liceais. Frequentou a Faculdade de Direito de Lisboa, que abandonará para ingressar na Faculdade de Letras. Entre 1960 e a sua morte, trabalhando na construção civil, viveu entre Lisboa, Castelo de Vide, Paris e Heidelberg, onde recebeu acompanhamento psicoterapêutico. A sua única obra poética publicada em vida, 35 Poemas, data de 1959, embora tenha publicado anteriormente colaboração poética em jornais e revistas, como Diário Popular, Árvore, Anteu, Távola Redonda, Serões

Além do pseudónimo Cristovam Pavia, António Flores Bugalho assinou composições com os pseudónimos, ou "semi-heterónimos" (cf. BENTO, José - introdução, notas e comentários a Poesia de Cristovam Pavia, Lisboa, 1982), Sisto Esfudo, Marcos Trigo e Dr. Geraldo Menezes da Cunha Ferreira.

Para José Bento, "A poesia de Cristovam Pavia é a revelação de si próprio, de uma personalidade em conflito com o mundo em que vive e que procura uma fuga pela recuperação da infância morta, pela aceitação do seu conhecer-se diferente e despojado do que lhe é mais caro (a infância, o amor, o espaço e o tempo em que ambos se situavam), a transformação do seu próprio ser pelo sofrimento, num movimento de ascese e de autodestruição, quando o poeta atinge a consciência de si próprio e da sua voz." ("Sobre a Poesia de Cristovam Pavia", in Poesia de Cristovam Pavia, Lisboa, 1982, p.15). (daqui)