quinta-feira, 17 de novembro de 2016

"Boas noites" - Poema de João de Deus


Camille Pissarro (Danish-French Impressionist and Neo-Impressionist painter, 1830-1903),
 Les laveuses, 1886.
 

Boas noites


Estava uma lavadeira
A lavar numa ribeira
Quando chega um caçador:

- Boas tardes, lavadeira!

- Boas tardes, caçador!

- Sumiu-se-me a perdigueira
Ali naquela ladeira;
Não me fazeis o favor
De me dizer se a brejeira
Passou aqui a ribeira?

- Olhai que, dessa maneira,
Até um dia, senhor,
Perdereis a caçadeira,
Que ainda é perda maior.

- Que me importa, lavadeira!
Aqui na minha algibeira
Trago dobrado valor...
Assim eu fora senhor
De levar a vida inteira
Só a ver o meu amor
Lavar roupa na ribeira!

- Talvez que fosse melhor...
Ver coser a costureira!
Vir de ladeira em ladeira
Apanhar esta canseira,
E tudo só por amor
De ver uma lavadeira
Lavar roupa na ribeira...
É escusado, senhor!

- Boas noites,... lavadeira!

- Boas noites, caçador!...


João de Deus, in 'Campo de Flores'


Camille Pissarro, Woman Bathing Her Feet in a Brook, 1894/95


"O importante é a imensidão da alma, com os seus tempos, as suas montanhas, os seus desertos de silêncio e os seus degelos, as suas flores dependuradas, as suas águas adormecidas: tudo isso é uma garantia invisível e sublime. Nela se baseia a tua felicidade e dela não te podes separar."


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