quinta-feira, 30 de julho de 2020

"A velha tia" - Poema de Péricles Eugênio da Silva Ramos


Janos Laszlo Aldor (Hungria, 1895 -1944), Woman Knitting


A velha tia



A velha tia, de tão velho sangue,
quase que a vejo a ler, a vista já cansada,
ou a fazer crochê nas tardes claras,
de grossos óculos e mãos de abelha;
quase que a vejo, quando em pleno Agosto,
numa explosão de pétalas e mel,
o pessegueiro é todo uma só flor,
uma só flor, formada de mil flores cor-de-rosa.

E o Amor com que fazia as suas colchas,
ponto a ponto, por meses e por meses,
a linha machucada nas águas
e rosas brancas a nascerem como rendas,
o amor da velha tia, de tão velho sangue,
volta no pessegueiro que nasceu por sua mão,
todo ele uma só nuvem cor-de-rosa,
mais de cor-de-rosa do que as flores das paineiras;
e são seus velhos dias que florescem novamente,
no doce pessegueiro a murmurar de abelhas.

E se assim é na terra,
fico a pensar que a velha tia, de tão velho sangue,
a velha tia, tão modesta e resignada,
se céu existe, nele é puro pessegueiro,
aberto em rosa e em favos gotejantes.


Péricles Eugênio da Silva Ramos
 

Janos Laszlo Aldor, Playing with a kitten


"O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Suas manifestações são íntimas e profundas. Exigem recolhimento, entrega, atenção."

(Artur da Távola)


Janos Laszlo Aldor 


"Eu conheci muitos pensadores e muitos gatos, mas a sabedoria de gatos é infinitamente superior".
 
Hippolyte Taine citado em "Zooléo‎" - núms. 20-29, Página 176, de Société de botanique et de zoologie congolaises.

Sem comentários: