terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

"Dualismo" - Soneto de Olavo Bilac


 
Peder Mørk Mønsted (Danish painter, 1859–1941), The Cloister, Taormina, 1885.
 


 Dualismo

 
Não és bom, nem és mau: és triste e humano...
Vives ansiando em maldições e preces,
Como se, a arder, no coração tivesses
O tumulto e o clamor de um largo oceano. 

Pobre, no bem como no mal, padeces;
E, rolando num vórtice vesano,
Oscilas entre a crença e o desengano,
Entre esperanças e desinteresses. 

Capaz de horrores e de ações sublimes,
Não ficas das virtudes satisfeito,
Nem te arrependes, infeliz, dos crimes: 

E, no perpétuo ideal que te devora,
Residem juntamente no teu peito
Um demónio que ruge e um deus que chora.
 

Olavo Bilac, in "Poesias"
 
 
Peder Mørk Mønsted, Temple of the Sibyl at Tivoli, 1884. 
 

Dualismo:
(dualismo in Dicionário infopédia da Língua Portuguesa)
 
1. Carácter do que comporta duas realidades ou dois elementos independentes; dualidade

2. Reunião de dois estados autónomos sob a mesma autoridade

3. Filosofia - doutrina que admite, no domínio considerado, dois elementos irredutíveis e independentes (a natureza e a graça, a matéria e a energia, a alma e o corpo, o bem e o mal, etc.)

4. Doutrina metafísica que admite, no Universo, duas substâncias ou dois mundos irredutíveis 

 
Peder Mørk Mønsted, View from Kolding Lake towards Koldinghus, 1880, oil on canvas.

 
Ar
 
É da liberdade destes ventos 
que me faço.
 
Pássaro-meu corpo 
(máquina de viver), 
bebe o mel feroz do ar 
nunca o sossego. 
 
 
 

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