terça-feira, 16 de março de 2021

"Comigo" - Poema de Edmundo Bettencourt

 
George Luks, A clown, 1929 
 
 
Comigo

 
O cómico avançou num rodopio
galvanizando o ar... Depois cantou,
com graça, entre piruetas, recitou,
e nem um riso único surgiu!

De mágoa eu tinha lágrimas em fio,
quando esta ausência estranha despertou
o espectador que eu era, e me apontou
o coliseu sem público... vazio...

— Oh solidão macabra da plateia!
bem cedo abriu a tua sombra fria
no meu olhar altas paisagens de ouro:

— Fumos de luz onde voei perdido
o ano dum minuto agradecido,
para ver-te no fim rir do meu choro...

Coimbra, janeiro, 1927

Edmundo Bettencourt
 
 

George Luks, Otis Skinner as Col. Philippe Bridau, 1919,
   The Phillips Collection  


"Não ir ao teatro é como fazer a toilette sem espelho."
 

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