quarta-feira, 16 de setembro de 2020

"A velhice" - Poema de Olavo Bilac


Ferdinand Georg Waldmüller (Austrian painter and writer, 1793–1865),
Grandma's Birthday, 1856.




A velhice


O neto:
Vovó, por que não tem dentes?
Por que anda rezando só.
E treme, como os doentes
Quando têm febre, vovó?
Por que é branco o seu cabelo?
Por que se apoia a um bordão?
Vovó, porque, como o gelo,
É tão fria a sua mão?
Por que é tão triste o seu rosto?
Tão trémula a sua voz?
Vovó, qual é seu desgosto?
Por que não ri como nós? 


A Avó:
Meu neto, que és meu encanto,
Tu acabas de nascer…
E eu, tenho vivido tanto
Que estou farta de viver!
Os anos, que vão passando,
Vão nos matando sem dó:
Só tu consegues, falando,
Dar-me alegria, tu só!
O teu sorriso, criança,
Cai sobre os martírios meus,
Como um clarão de esperança,
Como uma bênção de Deus!


Olavo Bilac



Gaetano Bellei (Italian painter, 1857–1922)


"Uma velhice ditosa é o fruto de uma mocidade regrada."

(Provérbio)

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