domingo, 18 de agosto de 2024

"O Homem e o Mar" - Poema de Charles Baudelaire



Walter Langley (English painter and founder of the Newlyn School of plein air artists,
 1852 – 1922), Between the Tides, Newlyn Harbour, 1901.


O Homem e o Mar 


 
Homem livre, o oceano é um espelho fulgente
Que tu sempre hás de amar. No seu dorso agitado,
Como em puro cristal, contemplas, retratado,
Teu íntimo sentir, teu coração ardente.

Gostas de te banhar na tua própria imagem.
Dás-lhe beijo até, e, às vezes, teus gemidos
Nem sentes, ao escutar os gritos doloridos,
As queixas que ele diz em mística linguagem.

Vós sois, ambos os dois, discretos tenebrosos;
Homem, ninguém sondou teus negros paroxismos,
Ó mar, ninguém conhece os teus fundos abismos;
Os segredos guardais, avaros, receosos!

E há séculos mil, séculos inumeráveis,
Que os dois vos combateis numa luta selvagem,
De tal modo gostais da morte e da carnagem,
Eternos lutadores ó irmãos implacáveis! 
 


"As Flores do Mal" de Charles Baudelaire.
Tradução de Delfim Guimarães
Montecristo Editora 


Sinopse


As Flores do Mal (Les Fleurs du mal) do poeta francês Charles Baudelaire é considerado um marco da poesia moderna e simbolista e um dos mais influentes livros de poemas da modernidade.
Seus poemas, que foram em grande parte inspirados em sua paixão pela mulata Jeanne Duval, foram julgados imorais para a época. O livro levantou polémica e despertou hostilidades na imprensa, Baudelaire e seu editor foram processados e, além de pagar multa, tiveram que reimprimir a obra, excluindo poemas da primeira publicação. Nesta edição, disponibiliza-se para o leitor a versão completa de As flores do mal, com os poemas censurados e os incluídos posteriormente. A clássica e primorosa tradução é de Delfim Guimarães. (daqui)

 
Walter Langley, When the Boats are Away, 1903

 
"O que sabemos é uma gota, o que ignoramos é um oceano."

(Isaac Newton)
 

Sem comentários: