domingo, 31 de agosto de 2014

"Indagações" - Poema de Fernando Py


(A maior estátua Art déco no mundo, construída entre 1922-1931)



Indagações
A Leonardo Fróes


De argila e de sangue
somos feitos. Não mais
que a imponderável ânsia
de ascender ao divino
transportando conosco
este fardo humano
de organismo imperfeito.

De suor e de lágrimas
nos tornamos. Quanto
esperamos saber
em nossa ignorância
no intuito de voar
à excelsa plenitude
do espírito supremo?

Quem nos formou? Quem
imaginou e fez
energia e matéria,
todo o Universo
que vemos e sabemos
e os demais mundos todos
que jamais saberemos?

Deixamos o que sabemos
— e o mais que desconhecemos —
aos que depois a terra
habitarem: esses homens
futuros que ignoramos
e mal podemos pressentir
pelo que hoje apresentamos.

Aonde vamos? Aonde
repousará nossa alma
a contínua indagação
que nos eleva além
de simples animais?

Em que páramos finais
existe nossa redenção?


Fernando Py


Fernando Py

Fernando Py - nome completo: Fernando Antônio Py de Mello e Silva - nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 13 de junho de 1935, de família gaúcha. Poeta, colunista e crítico literário, redator e tradutor. Fez o curso primário no Externato Coração Eucarístico, o ginasial no Colégio Santo Inácio e o colegial no Colégio Mallet Soares, todos na cidade natal, onde viveu até 1967, quando se mudou para Petrópolis (RJ), onde reside. Formou-se pela Faculdade de Direito da então Universidade do Estado da Guanabara (atual UERJ), em 1960, porém nunca advogou. Foi funcionário da CAPES, órgão do Ministério da Educação (1958-1959), da Procuradoria do Estado do Rio Grande do Sul na Guanabara (1960-1962) e meteorologista previsor do tempo no Instituto Nacional de Meteorologia, do Ministério da Agricultura, de 1962 até 1994, quando se aposentou.

Colaborou em diversos jornais do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre, principalmente O Globo, Jornal do Brasil, Jornal da Tarde, Estado de Minas e Correio do Povo. Trabalhou como redator e tradutor em enciclopédias, sobretudo a Grande Enciclopédia Delta Larousse e a Enciclopédia Mirador Internacional. Traduziu obras de autores importantes, como Marcel Proust (Jean Santeuil; Em busca do tempo perdido, etc.), Marguerite Duras (O vice-cônsul; A vida tranqüila, etc.), Honoré de Balzac (A pele de onagro; O primo Pons), Saul Bellow (O legado de Humboldt; Henderson, o rei da chuva), e vários outros. Como colunista literário, trabalhou em jornais de Petrópolis e atualmente assina seção 'Tribuna Literária' na Tribuna de Petrópolis.

Livros publicados: Aurora de vidro (poesia): Rio de Janeiro, Livraria São José, 1962; A construção e a crise (poesia): Rio de Janeiro, Simões Edições, 1969; 4 poetas modernos (poesia, em colaboração): Rio de Janeiro, Cátedra, 1976; Bibliografia comentada de Carlos Drummond de Andrade (pesquisa): Rio de Janeiro, José Olympio / Fundação Casa de Rui Barbosa, 1980 ( 2ª edição, aumentada: Fundação Casa de Rui Barbosa, 2002); Vozes do corpo (poesia): Rio de Janeiro, Fontana, 1981; Dezoito sextinas para mulheres de outrora (poesia): Recife, Edições Pirata, 1981; Chão da crítica (jornalismo literário): Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1984; Antiuniverso (poema): Rio de Janeiro, Sette Letras / Petrópolis: Editora Firmo, 1994; Carlos Drummond de Andrade: poesia (antologia comentada, em colaboração com Pedro Lyra): Rio de Janeiro, AGIR, 1994 (2ª edição: 1998) [Col. Nossos Clássicos, 118]; Sol nenhum (poesia): Rio de Janeiro, UAPÊ, 1998; Antologia poética (40 anos de poesia: 1959-1999): Petrópolis, Poiésis, 2000; Sentimento da morte & Poemas anteriores (poesia): Goiânia, A.S.A., 2003; Uma poesia dialógica: nove resenhas da obra de Pedro Lyra (crítica literária): Fortaleza, UFC, 2003; O poeta Coelho Vaz (conferência): Goiânia, Kelps, 2004; 70 poemas escolhidos: Petrópolis, Catedral das Letras, 2005 .
Ganhou alguns prêmios literários e recebeu (15 de abril de 2003) o título de "Cidadão Petropolitano Honorário". (Daqui)


Cristo Redentor, Visão aproximada da face


Arte Déco


Movimento artístico desenvolvido nas décadas de vinte e trinta do século XX, a Arte Déco conheceu particular expressão na área do design industrial e de mobiliário assim como na produção de pequenas peças (joias, louça e outros objetos de uso prático ou simbólico) ou nas artes gráficas.

Ao nível de arquitetura, a Arte Déco apresentou-se como um estilo eminentemente decorativo, intervindo essencialmente ao nível do desenho de interiores e de espaços comerciais ou no desenho de fachadas sem se traduzir na criação de uma linguagem verdadeira espacial nem na definição de novas tipologias edilícias.

Apesar da especificidade das manifestações que revelou nos diversos contextos culturais e geográficos, alguns denominadores comuns permitem caracterizar este movimento e dotá-lo de um recorte estilístico muito forte. São eles o gosto pelas superfícies brilhantes, polidas ou cromadas, pelas formas curvas e simples, pela construção cuidada e pela utilização de materiais luxuosos.

A designação Arte Déco surgiu como diminutivo da Exposição Internacional de Artes Decorativas e Industriais, realizada em Paris em 1925 e na qual participaram alguns dos mais marcantes artistas desta corrente, o que permitiu confirmar a existência de uma escola formal coerente e nitidamente distinta da antecessora Arte Nova.

Em termos estilísticos, a Arte Déco diferenciou-se da Arte Nova, um movimento estilístico que nessa altura dominava ainda no desenho de pequenas peças utilitárias ou de mobiliário, pelo abandono do excesso formal e ornamental deste último estilo e pela substituição da composição fundamentada na linha curva pela geometrização e rigidez do desenho e das composições de inspiração histórica (nomeadamente na cultura egípcia e grega).


Jardim e Casa de Serralves, Porto, Portugal

Para além de encontrar expressão ao nível do desenho de pequenos objetos ou de edifícios, durante a fase arte déco foram realizados projeto de jardins, de entre os quais se pode destacar o Jardim de Serralves do Porto, projeto de Jacques Gréber datado de 1932.


Responsável pela decoração do interior da Casa de Serralves, a casa Ruhlmann, dirigida por Jacques Émile Ruhlmann, tornou-se um dos expoentes ao nível do desenho de mobiliário e tornou-se famosa pelo projeto do "Le Pavillon d'un Collectioneur" que apresentou na exposição internacional de 1925.


"Spirit of the Wind,"
René Lalique, 'Spirit of the Wind'

"Spirit of the Wind,"
Noutros géneros artísticos, como a joalharia, destacaram-se René Lalique, artista fortemente representado nas coleções da Fundação Calouste Gulbenkian de Lisboa.


Art déco do Chrysler Building, em Nova York,
construído em 1928/1930 pelo arquiteto William Van Alen.



Numa fase mais avançada, a Arte Déco conheceu notável desenvolvimento nos Estados Unidos da América, país onde foi aplicado em inúmeras expressões e formas e integrado num novo sistema de produção que se demarcava claramente da tendência elitista das criações da fase Arte Nova. De facto, a simplificação formal e a racionalização ornamental destes produtos tornavam-nos indicados para seguirem processos de fabrico em série que recusavam a produção manual de alta qualidade.


Nova Iorque vista do Rockefeller Center. Arquitetura art déco

Ao nível da arquitetura destacaram-se alguns edifícios como a londrina fábrica Hoover em Perivale, desenhada por Wallis Gilbert em 1932 ou os icónicos arranha-céus de Nova Iorque, de que se pode nomear o Chrysler Building de 1930, William van Alen's, famoso pelo icónico remate com arcos revestidos de alumínio ou o edifício e espaço interior do Radio City Music Hall, construído em 1931 por Donald Deskey.

Arte Déco. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014. [Consult. 2014-08-24].
 

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