sexta-feira, 31 de julho de 2020

"Seria Eterno" - Poema de Fernando Echevarría


Alfred Munnings (1878-1959) reading aloud outside on the grass, c. 1911,
by Harold Knight (1874-1961)


Seria Eterno 


Seria eterno, se não fosse entrando
por aquele país de solidão,
aonde ver a luz alarga, quando
e alarga, à volta, a vinda do verão.

Seria eterno. Assim somente o brando
movimento de entrar se lhe mensura,
conforme ver, ao ir-se dilatando,
amplia o campo útil da ternura.

E, enquanto entra, um cântico de brisa
lembra quanto por campos foi outrora
tempo apagando a sua face lisa,

qual se alisando, se apagasse a hora.
E, indo entrando, a solidão se irisa
e o vai esquecendo pelo tempo fora. 


Fernando Echevarría
, in "Figuras"


Alfred Munnings, Sidney Webster Fish on a dark bay, 1924


"Uma conduta irrepreensível consiste em manter cada um a sua dignidade sem prejudicar a liberdade alheia."
Alfred Munnings (1878-1959), Portrait of Mr. Bayard Tuckerman (1889-1974) 


"Quando um homem não se encontra a si mesmo, não encontra nada."

quinta-feira, 30 de julho de 2020

"A velha tia" - Poema de Péricles Eugênio da Silva Ramos


Janos Laszlo Aldor (Hungria, 1895 -1944), Woman Knitting


A velha tia



A velha tia, de tão velho sangue,
quase que a vejo a ler, a vista já cansada,
ou a fazer crochê nas tardes claras,
de grossos óculos e mãos de abelha;
quase que a vejo, quando em pleno Agosto,
numa explosão de pétalas e mel,
o pessegueiro é todo uma só flor,
uma só flor, formada de mil flores cor-de-rosa.

E o Amor com que fazia as suas colchas,
ponto a ponto, por meses e por meses,
a linha machucada nas águas
e rosas brancas a nascerem como rendas,
o amor da velha tia, de tão velho sangue,
volta no pessegueiro que nasceu por sua mão,
todo ele uma só nuvem cor-de-rosa,
mais de cor-de-rosa do que as flores das paineiras;
e são seus velhos dias que florescem novamente,
no doce pessegueiro a murmurar de abelhas.

E se assim é na terra,
fico a pensar que a velha tia, de tão velho sangue,
a velha tia, tão modesta e resignada,
se céu existe, nele é puro pessegueiro,
aberto em rosa e em favos gotejantes.


Péricles Eugênio da Silva Ramos
 

Janos Laszlo Aldor, Playing with a kitten


"O gato é uma lição diária de afeto verdadeiro e fiel. Suas manifestações são íntimas e profundas. Exigem recolhimento, entrega, atenção."

(Artur da Távola)


Janos Laszlo Aldor 


"Eu conheci muitos pensadores e muitos gatos, mas a sabedoria de gatos é infinitamente superior".

 "J'ai étudié beaucoup de philosophes et plusieurs chats ; la sagesse des chats est infiniment supérieure."
Hippolyte Taine citado em "Zooléo‎" - núms. 20-29, Página 176, de Société de botanique et de zoologie congolaises.


quarta-feira, 29 de julho de 2020

"Desassossego" - Poema de Irene Lisboa


Boris Kustodiev (1878-1927, Russian), Portrait of Julia Kustodieva,
 the artist's wife, 1903


Desassossego


Levanto os olhos.
Tinha-os sobre uma chapinha circunflexa, uma
espécie de oito luminoso, fixos no chão.
Olhos circunvagantes, um momento parados.

Tanta inquietação!
Rodopiante, como as moscas gulosas, teimosas,
insaciáveis.
Coração indefeso...

Agora o sol é já um sapatinho.
Uma meiazinha de criança, minúscula.

Mas de si que deixará esta minaz luta, este desassossego?
Cansaço e severidade.

Agora é uma moeda redondinha.
Cada vez mais pequena.
Luz e forma sempre nova...
Agora é só uma dedada, some-se.
Agora mais nada.
Igualdade.


Irene Lisboa



 
Boris Kustodiev, Self-portrait


"Quando não encontramos o repouso em nós próprios, é inútil ir procurá-lo noutro lado."
 


Boris Kustodiev, Country, 1919
 

"Quando me contrariam, despertam-me a atenção, não a cólera: aproximo-me de quem me contradiz e instrui."

(Michel de Montaigne)
 

terça-feira, 28 de julho de 2020

"Ai, Helena!" - Poema de Almeida Garrett


Janos Laszlo Aldor (Hungria, 1895 -1944), Portrait of a Woman
 with Shoulders Bared, 1924



Ai, Helena!


Ai, Helena! De amante e de esposo
Já o nome te faz suspirar,
Já tua alma singela pressente
Esse fogo de amor delicioso
Que primeiro nos faz palpitar!...
Oh! Não vás, donzelinha inocente,
Não te vás a esse engano entregar:
É amor que te ilude e te mente,
É amor que te há de matar!

Quando o Sol nestes montes desertos
Deixa a luz derradeira apagar,
Com as trevas da noite que espanta
Vêm os anjos do Inferno encobertos
A sua vítima incauta afagar.
Doce é a voz que adormece e quebranta,
Mas a mão do traidor... faz gelar.
Treme, foge do amor que te encanta,
É amor que te há de matar. 

segunda-feira, 27 de julho de 2020

A Ceifeira solitária - Poema de William Wordsworth


Charles Sprague Pearce (Americano, 1851-1914), A Ceifeira 
 

A Ceifeira solitária 


Só ela no campo vi:
solitária de altas serras,
ceifa e canta para si.
Não digas nada, que a aterras!
Sozinha ceifa no mundo
e canta melancolia.
Escuta: o vale profundo
transborda já de harmonia.

Nunca um rouxinol cantou
em sombras da Arábia ardente
ao que exausto repousou
mais grata canção dolente;
ou gorjeio tão extremado
se escutou na Primavera,
cortando o Oceano calado
entre ilhas de Além-Quimera.

Quem me dirá do que canta?
Será que o que ela deplora
é antigo, triste e distante,
como batalhas de outrora?
Ou coisas simples são
do quotidiano viver?
Essas dores de coração,
que já foram e hão de ser?

Seja o que for que cantara
é como infindo cantar,
que a vi cantando na seara,
no trabalho de ceifar.
Sem falar, quieto, eu escutava.
E, quando o monte subia,
no coração transportava
o canto que não se ouvia.


William Wordsworth
Tradução de Jorge de Sena 



Charles Sprague Pearce, Returning from the Fields
 

Desafio

A via bloqueada
instiga o teimoso viajante
a abrir nova estrada

Helena Kolody
(Haicai) 


domingo, 26 de julho de 2020

"De almas sinceras a união sincera" - Soneto CXVI de William Shakespeare


Abraham Solomon (1824-1862), The Bride,1856


Soneto 

CXVI

De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera
Ou se vacila ao mínimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante
Cujo valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfanje não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma, para a eternidade.
Se isto é falso, e que é falso alguém provou,
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.
Bárbara Heliodora (1923-2015)

Barbara Heliodora Carneiro de Mendonça, conhecida como Bárbara Heliodora, foi uma professora, ensaísta, tradutora e crítica de teatro brasileira, além de reconhecidamente uma autoridade na obra de William Shakespeare. Nasceu em 29 de agosto de 1923, faleceu em 10 de abril de 2015.
Por muitos anos foi professora emérita e titular aposentada da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Durante o curso de sua carreira, foi condecorada com várias honrarias, entre as quais a Ordre des Arts et des Lettres do Ministério da Cultura da França e, no Brasil, a medalha João Ribeiro pela da Academia Brasileira de Letras
 
 
Abraham Solomon, Sunday Morning, Unknown date 


"A paixão aumenta em função dos obstáculos que se lhe opõe."

(William Shakespeare)


sábado, 25 de julho de 2020

"Bárbara Bela" - Poema de Alvarenga Peixoto


Elin Danielson-Gambogi (1861-1919), Mother, 1893


 Bárbara Bela


Bárbara bela,
do Norte estrela,
que o meu destino
sabes guiar,
de ti ausente,
triste, somente
as horas passo
a suspirar.
                          Isto é castigo
                                que Amor me dá.

Por entre as penhas
de incultas brenhas
cansa-me a vista
de te buscar;
porém não vejo
mais que o desejo,
sem esperança
de te encontrar.
                          Isto é castigo
                                que Amor me dá.

Eu bem queria
a noite e o dia
sempre contigo
poder passar;
mas orgulhosa
sorte invejosa
desta fortuna
me quer privar.
                         Isto é castigo
                              que Amor me dá.

Tu, entre os braços,
ternos abraços
da filha amada
podes gozar.
Priva-me a estrela
de ti e dela,
busca dois modos
de me matar.
                         Isto é castigo
                                que Amor me dá.



Poeta brasileiro, Inácio José de Alvarenga Peixoto, nascido em 1744, no Rio de Janeiro, morreu a 27 de agosto de 1792, em Ambaca, em Angola, e figura entre os nomes grandes do arcadismo no brasileiro.

Inácio José de Alvarenga fez grande parte da sua vida em Portugal, onde estudou com os jesuítas antes de, em 1760, ir para a Universidade de Coimbra, onde se doutorou em Leis, em 1767. No ano seguinte, começou a utilizar no seu nome literário o sobrenome Peixoto. A partir de 1769 passou a publicar poesia, embora em vida não tenha editado nenhum livro. 

Em Portugal, conviveu com poetas como Basílio da Gama, Caldas Barbosa e Tomás António Gonzaga
Foi juiz em Sintra antes de regressar ao Brasil em 1775, onde exerceu o cargo de ouvidor da Comarca de Rio das Mortes, assim como se dedicou à agricultura e à mineração. Dez anos mais tarde, foi nomeado coronel do 1º Regimento de Cavalaria da Campanha do Rio Verde. Entretanto, em 1781, havia casado com a poetisa Bárbara Heliodora (1759-1819),  a quem dedicou muitos dos seus versos.

Em 1789, juntamente com o seu parente Tomás António Gonzaga, participou no movimento nacionalista Inconfidência Mineira, em protesto contra os pesados impostos que o reino obrigava a pagar. Em consequência disso, foi preso na Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, e condenado à morte. No entanto, três anos mais tarde, acabou por partir para o exílio em Angola, onde morreu pouco depois de chegar, em 1792.

As suas composições poéticas foram reunidas por Joaquim Norberto, em 1865, no livro Obras Poéticas e reproduzidas praticamente um século depois, em 1964, na antologia Poesia de Ouro, um trabalho coordenado por Péricles Eugénio da Silva Ramos. Entretanto, em 1960 havia sido publicada Vida e Obra de Alvarenga Peixoto, a mais completa coleção de cartas e documentos do autor, numa organização de M. Rodrigues Lapa.

Alvarenga Peixoto, que também assinou com os pseudónimos Alceu e Eureste Fenício, enquanto elemento da Arcádia Mineira, terá ainda escrito uma obra chamada Eneias no Lácio, um drama lírico que entretanto desapareceu. (Daqui)

Elin Danielson-Gambogi, Mother's Care, 1891


sexta-feira, 24 de julho de 2020

"Conselhos a meus Filhos" - Poema de Bárbara Heliodora (1759-1819)


Émile Friant (1863 - 1932), The Frugal Meal, 1894


Conselhos a meus Filhos


 
Meninos, eu vou ditar
As regras do bem viver,
Não basta somente ler,
É preciso ponderar,
Que a lição não faz saber,
Quem faz sábios é o pensar.

Neste tormentoso mar
De ondas de contradições,
Ninguém soletre feições
Que sempre se há de enganar,
De caras e corações
Há muitas léguas que andar.

Aplicai, ao conversar,
Todos os cinco sentidos,
Que as paredes têm ouvidos
E também podem falar;
Há bichinhos escondidos
Que só vivem de escutar.

Quem quer males evitar,
Evite-lhe a ocasião,
Que os males por si virão,
Sem ninguém os procurar:
Antes que ronque o trovão
Manda a prudência ferrar.

Não vos deixeis enganar
Por amigos, nem amigas,
Rapazes e raparigas
Não sabem mais que asnear;
As conversas e as intrigas
Servem de precipitar.

Sempre vos deveis guiar
Pelos antigos conselhos,
Que dizem que ratos velhos
Não há modos de os caçar;
Não batais ferros vermelhos,
Deixai um pouco esfriar.

Se é tempo de professar
De taful o quarto voto,
Procurai capote roto
Pé de banco de um brilhar,
Que seja sábio piloto
Nas regras de calcular.

Se vos mandarem chamar
Para ver uma função,
Respondei sempre que não,
Que tendes em que cuidar:
Assim se entende o rifão.
Quem está bem, deixa-se estar.

Devei-vos acautelar
Em jogos de paro e topo,
Prontos em passar o copo
Nas angolinas do azar:
Tais as fábulas de Esopo,
Que vós deveis estudar.

Quem fala, escreve no ar,
Sem pôr virgulas nem pontos,
E pode quem conta os contos,
Mil pontos acrescentar;
Fica um rebanho de tontos
Sem nenhum adivinhar.

Com Deus e o rei não brincar,
É servir e obedecer,
Amar por muito temer
Mas temer por muito amar,
Santo temor de ofender
A quem se deve adorar!

Até aqui pode bastar,
Mais havia que dizer;
Mas eu tenho que fazer,
Não me posso demorar,
E quem sabe discorrer
Pode o resto adivinhar.


Bárbara Heliodora
(1759-1819)


Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira


Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira nasceu em 1759, não se sabe exatamente o dia, em São João del-Rei, Minas Gerais, Brasil. Foi uma poetisa, mineradora e ativista política brasileira.

Foi esposa de Alvarenga Peixoto, advogado, poeta e inconfidente, com quem partilhou a vida e boa parte do destino. Inicialmente viveram juntos e só se casaram em 1781. Desta união nasceram quatro filhos.

Os historiadores da época contam que Bárbara Heliodora exercia grande influência sobre seu marido e participava ativamente das ideias e planos da Inconfidência Mineira. Faleceu em 24 de maio de 1819, em São Gonçalo do Sapucai, aos 60 anos.

Deixou publicado a obra Conselhos aos meus filhos (embora figure na obra de Alvarenga Peixoto, críticos literários como Alfredo Bosi, atribuem à Bárbara Heliodora).

À poetisa também é atribuída a escrita de um soneto oferecido à filha Maria Ifigênia que morrera em 1795, aos 15 anos de idade, num acidente a cavalo entre o arraial de São Gonçalo e a vila da Campanha da Princesa da Beira.


Retrato de Maria Ifigênia, em óleo sobre tela.
(Foi encontrado nos porões da antiga Fazenda Boa Vista
em São Gonçalo do Sapucaí.) 


Soneto
 
                                                              À filha Maria Ifigênia 

Amada filha, é já chegado o dia,
em que a luz da razão, qual tocha acesa,
vem conduzir a simples natureza:
- é hoje que o teu mundo principia.

A mão, que te gerou, teus passos guia;
despreza ofertas de uma vá beleza,
e sacrifica as honras e a riqueza
às santas leis do Filho de Maria.

Estampa na tua alma a Caridade,
que amar a Deus, amar aos semelhantes,
são eternos preceitos da Verdade.

Tudo o mais são ideias delirantes;
procura ser feliz na Eternidade,
que o mundo são brevíssimos instantes.


Bárbara Heliodora


Émile Friant (1863 - 1932), Les souvenirs, 1891


“Tem mais presença em mim o que me falta.”

(Manoel de Barros)


quinta-feira, 23 de julho de 2020

"Tristão e Isolda" - Lenda Medieval de origem Céltica


Edmund Leighton, Tristan, Isolde and King Mark in The End of the Song, 1902


Tristão e Isolda


Tristão e Isolda é uma lenda medieval de origem céltica, que constitui uma das mais belas histórias de amor alguma vez concebidas. As primeiras versões escritas datam do século X. Os trovadores anglo-normandos de língua francesa e a rainha Leonor da Aquitânia contribuíram para a sua difusão na Europa.

Conta-se que Tristão ficou órfão, despojado injustamente da sua herança por vassalos de seu pai. Foi recolhido pelo tio, o rei Marco, da Cornualha, que o ajudou a tornar-se num Cavaleiro da Távola Redonda.


Évrard d'Espinques, Tristan and Isolde on their way to Cornwall, (15th century)


Tristão venceu a batalha contra o gigante Morolt, mas ficou gravemente ferido. Os seus ferimentos só poderiam ser curados pela magia da Rainha da Irlanda, grande inimiga do seu tio. Antes de se dirigir ao castelo da Rainha, Tristão disfarçou-se de músico, tomou o nome de Tãotris e tornou-se professor de música da princesa Isolda, a Loura. Tristão, já curado, matou um cruel dragão, em Weisefort, na Irlanda, e voltou para o castelo de seu tio Marco, a quem descreveu a beleza de Isolda com a qual o jovem tinha ficado impressionado.

 
John William Waterhouse, Tristan and Isolde with the Potion, c. 1916


O rei Marco ficou contente com as palavras do sobrinho, que o inspiraram a encontrar uma solução para acabar com a velha inimizade entre os dois reinos. Mandou, então, um emissário ao reino da Irlanda para que pedisse, em seu nome, a mão de Isolda. A Rainha da Irlanda concordou com o casamento e organizou um banquete. Para que nascesse uma paixão forte e duradoura entre Marco e Isolda, a Rainha mandou fabricar uma poção mágica do amor para lhes servir.

John Duncan, Tristan and Isolde, 1912


Durante o banquete, por descuido, os copos que tinham a poção mágica foram trocados e servidos a Tristão e Isolda, que se apaixonaram imediatamente. No entanto, a cerimónia do casamento entre Marco e Isolda prosseguiu.


Edward Burne-Jones (préraphaélite), Le roi Marc et la belle Iseult, 1862
Birmingham Museum and Art Gallery


Tristão e Isolda, vivendo uma paixão incontrolável, decidiram encontrar-se às escondidas para viver o seu amor.

 
Hugues Merle, Tristan and Isolde, c. 1870

Um dia, foram surpreendidos pelo rei Marco, que, magoado com a traição, os expulsou do castelo.


Ferdinand Leeke, Tristan and Isolde

Os enamorados vaguearam durante muito tempo, sem qualquer ajuda, até que chegaram a um ponto de grande pobreza e debilidade física.

Rogelio de Egusquiza, Tristan and Isolde, 1912


Compadecido, Marco recolheu Isolda no castelo e enviou Tristão para bem longe, em França, onde este chegou a casar-se com uma outra jovem, filha do Duque da Bretanha, também chamada Isolda. A jovem, que era conhecida como Isolda, a das Mãos Brancas, nunca conseguiu ver retribuído o amor que sentia por Tristão e este nunca consumou o casamento, dado que continuava fiel ao seu primeiro amor.


Giovanni dal Ponte (1385 – ca. 1438, Florence), Two couples - Paris and Helen, Tristan and Isolde, 1410s


Passado algum tempo, Tristão ficou ferido noutra batalha e pediu à sua amada Isolda, a Loura, que tinha herdado os dotes mágicos de cura da Rainha da Irlanda, que viesse socorrê-lo. Combinaram então que, se o navio, que tinha enviado com o emissário, voltasse com velas brancas, a resposta de Isolda, a Loura, seria afirmativa; mas, se as velas fossem negras, ela não poderia vir. Isolda, a das Mãos Brancas, com ciúmes, resolveu vingar-se da indiferença do marido, dizendo-lhe que o navio tinha chegado com as velas negras porque Isolda tinha falecido durante a viagem.


Rogelio de Egusquiza, Tristan and Isolde, 1910


Tristão não suportou a perda de Isolda e morreu de desgosto. Quando Isolda, a Loura, encontrou Tristão sem vida, sentiu uma grande dor e morreu também de desgosto, abraçada ao corpo de Tristão. Foram enterrados lado a lado. Diz a lenda que das sepulturas nasceram duas árvores que cresceram entrelaçadas para que nunca fossem separadas.

Eugénie Servières, Geneviève and Lancelot at the Tombs of Isolde and Tristan, c. 1814


Tristão e Isolda, é também um drama lírico em três atos, com texto e música da autoria do compositor alemão  Richard Wagner (1813-1883), publicado em 1865. O assunto é o da lenda medieval, acima referida.
A música obedece a uma estrutura surpreendente que, através de um cromatismo muito vincado, dá expressão admirável à paixão, à ternura e à dor, sentimentos que dominam o desenrolar da ação. (Daqui)


Wagner's composition of Tristan und Isolde

Prelude & Liebstod from Tristan und Isolde
 Leonard Bernstein (conductor)
Boston Symphony Orchestra
Herbert James Draper, Tristan und Isolde, 1901


 "Não sei se a vida é maior que a morte, mas o amor é maior que ambas." 

(Frase de Tristão no 'Romance de Tristão e Isolda' )
Joseph Bédier, in "Le Roman de Tristan et Isolde", Paris, Henri Piazza éditeur d'art, 1900, 
illustré de compositions de Robert Engels


quarta-feira, 22 de julho de 2020

22 de Abril - Dia Internacional da Terra


Fotografia "The Blue Marble" (A Bolinha Azul)
obtida durante a missão Apollo 17, em 1972.


(Legenda original: Vista da Terra, assim como foi avistada pela tripulação da Apollo 17 viajando em direção à Lua. Esta fotografia translunar da costa estende-se desde a região do Mar Mediterrâneo até à calota polar da Antártica, no Polo Sul. Esta é a primeira vez que a trajetória da Apollo possibilitou a fotografia da calota polar sul. Nota-se as pesadas nuvens cobrindo o Hemisfério Sul. Quase toda a costa da África é claramente visível. A península arábica pode ser vista na borda nordeste de África. A grande ilha a leste da costa da África é Madagascar. O continente asiático está no horizonte a nordeste.)


Jacinto-dos-campos florescem em abril tornando a floresta pintada de tons de azul, em Hallerbos,
conhecido como a "Floresta Azul", na Bélgica.


Dia Internacional da Mãe Terra


Em 12 de abril de 1961, o jovem cosmonauta russo Iuri Gagarin (1934-1968), a bordo da nave Vostok-1, foi o primeiro humano a viajar pelo Espaço. A missão, uma volta em torno da Terra numa órbita a 315 km de altitude, durou 1 hora e 48 minutos. Comentou, fascinado: "A Terra é azul!".
A partir desta primeira missão espacial, muitas outras se têm sucedido.

Em 1990, a pedido do astrofísico e escritor Carl Sagan, a sonda Voyager 1 foi programada para obter várias fotografias do Sistema Solar. Uma delas mostra a Terra vista à distância de 6 mil milhões de km.


Pálido Ponto Azul(14 de fevereiro de 1990) - Fotografia de Image by NASA/JPL - Caltech


No dia 14 de fevereiro de 1990, a sonda Voyager 1 viu a Terra a uma distância de quase 6 mil milhões de quilómetros, captando uma visão do nosso planeta que foi mais tarde descrita pelo cientista Carl Sagan, por “Pálido Ponto Azul. (Daqui)

A propósito da referida foto Carl Sagan escreveu:

"A Terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica. (...) é um espécime solitário na grande e envolvente escuridão cósmica (...) um pálido ponto azul. (...) Gostemos ou não, por enquanto, a Terra é o único lugar onde podemos viver (...)."


Pôr do sol em Honeymoon Bay, na Tasmânia, na Austrália


"Para além de ser o nosso lar, o nosso planeta é extremamente belo.
Quem nunca se extasiou perante a beleza de um pôr do sol? Gosto muito do pôr do sol. Vamos ver um... Um dia eu vi o pôr do sol quarenta e três vezes!"
- Antoine de Saint-Exupéry, O Principezinho


A Pirâmide de Ball é uma agulha vulcânica e roca que forma um ilhéu desabitado no mar de Tasman,
no sudoeste do oceano Pacífico


Para além da beleza do pôr do sol, dos glaciares, do céu, do arco-íris, temos uma natureza pródiga na sua diversidade animal, vegetal e mineral, em montes e planícies, em rios e mares... Somos uns privilegiados.
Daí a nossa grande responsabilidade de preservar e estimar o único lar que conhecemos, este pálido ponto azul.
No dia 22 de abril de 1970, foi criado, pelo senador norte-americano Gaylord Nelson o Dia da Terra.


Os recifes de coral têm uma grande biodiversidade.


A data foi criada em 1970, pelo senador norte-americano Gaylord Nelson que resolveu realizar um protesto contra a Poluição da Terra, depois de verificar as consequências do desastre petrolífero de Santa Barbara, na Califórnia, ocorrido em 1969.

Inspirado pelos protestos dos jovens norte-americanos que contestavam a guerra, Gaylord Nelson, desenvolveu esforços para conseguir colocar o tema da preservação da Terra na agenda política norte-americana.
A população aderiu em força à manifestação e mais de 20 milhões de americanos manifestaram-se a favor da preservação da terra e do meio ambiente.

Foi reconhecido pela ONU em 2009 que instituiu o referido Dia da Terra como o Dia Internacional da Mãe Terra.


Chaminés de fada no Parque Nacional do Cânion Bryce, no Utah (2007)


Desde essa data, no dia 22 de abril milhões de cidadãos em todo o mundo manifestam o seu compromisso na preservação do ambiente e da sustentabilidade da Terra.


Monte Everest, na fronteira China-Nepal, o ponto mais alto do planeta


O objetivo principal deste dia é consciencializar todos os povos sobre a importância e a necessidade de conservar os recursos naturais do planeta e defender a harmonia entre todos os seres vivos. Só assim será possível assegurar às gerações presentes e futuras qualidade de vida ambiental, social, económica, cultural, estética. (Daqui)

Acúmulo de lixo plástico (detritos marinhos) flutuando na costa norte de Honduras
(Caroline Power Photography)


"O mundo tornou-se perigoso porque os Homens aprenderam a dominar a Natureza antes de se dominarem a si mesmos."

(Albert Schweitzer)


Albert Schweitzer, 1955, por Rolf Unterberg


Albert Schweitzer foi um teólogo, filósofo, músico, organista e médico missionário alemão nascido em 1875, em Kaysersberg (atualmente parte da França), e falecido em 1965, em Lambaréné no Gabão, na África. Estudou nas universidades de Estrasburgo (1893–1899), Paris e Berlim. Como médico missionário fundou o seu próprio hospital no Gabão. Recebeu o Prémio Nobel da Paz em 1952, pelo esforço a favor da Irmandade das Nações. Escreveu algumas obras sobre os Livros do Novo Testamento.




O Silo Global de Sementes de Svalbard foi criado em 2008, próximo da localidade de Longyearbyen, no arquipélago Ártico de Svalbard, a cerca de 1300 km ao sul do Polo Norte.
É um gigantesco silo, com uma estrutura inteiramente subterrânea, para conservar ex-situ sementes (banco de sementes) de plantas cultiváveis de todo o mundo.