sábado, 25 de julho de 2020

"Bárbara Bela" - Poema de Alvarenga Peixoto


Elin Danielson-Gambogi (1861-1919), Mother, 1893


 Bárbara Bela


Bárbara bela,
do Norte estrela,
que o meu destino
sabes guiar,
de ti ausente,
triste, somente
as horas passo
a suspirar.
                          Isto é castigo
                                que Amor me dá.

Por entre as penhas
de incultas brenhas
cansa-me a vista
de te buscar;
porém não vejo
mais que o desejo,
sem esperança
de te encontrar.
                          Isto é castigo
                                que Amor me dá.

Eu bem queria
a noite e o dia
sempre contigo
poder passar;
mas orgulhosa
sorte invejosa
desta fortuna
me quer privar.
                         Isto é castigo
                              que Amor me dá.

Tu, entre os braços,
ternos abraços
da filha amada
podes gozar.
Priva-me a estrela
de ti e dela,
busca dois modos
de me matar.
                         Isto é castigo
                                que Amor me dá.



Poeta brasileiro, Inácio José de Alvarenga Peixoto, nascido em 1744, no Rio de Janeiro, morreu a 27 de agosto de 1792, em Ambaca, em Angola, e figura entre os nomes grandes do arcadismo no brasileiro.

Inácio José de Alvarenga fez grande parte da sua vida em Portugal, onde estudou com os jesuítas antes de, em 1760, ir para a Universidade de Coimbra, onde se doutorou em Leis, em 1767. No ano seguinte, começou a utilizar no seu nome literário o sobrenome Peixoto. A partir de 1769 passou a publicar poesia, embora em vida não tenha editado nenhum livro. 

Em Portugal, conviveu com poetas como Basílio da Gama, Caldas Barbosa e Tomás António Gonzaga
Foi juiz em Sintra antes de regressar ao Brasil em 1775, onde exerceu o cargo de ouvidor da Comarca de Rio das Mortes, assim como se dedicou à agricultura e à mineração. Dez anos mais tarde, foi nomeado coronel do 1º Regimento de Cavalaria da Campanha do Rio Verde. Entretanto, em 1781, havia casado com a poetisa Bárbara Heliodora (1759-1819),  a quem dedicou muitos dos seus versos.

Em 1789, juntamente com o seu parente Tomás António Gonzaga, participou no movimento nacionalista Inconfidência Mineira, em protesto contra os pesados impostos que o reino obrigava a pagar. Em consequência disso, foi preso na Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, e condenado à morte. No entanto, três anos mais tarde, acabou por partir para o exílio em Angola, onde morreu pouco depois de chegar, em 1792.

As suas composições poéticas foram reunidas por Joaquim Norberto, em 1865, no livro Obras Poéticas e reproduzidas praticamente um século depois, em 1964, na antologia Poesia de Ouro, um trabalho coordenado por Péricles Eugénio da Silva Ramos. Entretanto, em 1960 havia sido publicada Vida e Obra de Alvarenga Peixoto, a mais completa coleção de cartas e documentos do autor, numa organização de M. Rodrigues Lapa.

Alvarenga Peixoto, que também assinou com os pseudónimos Alceu e Eureste Fenício, enquanto elemento da Arcádia Mineira, terá ainda escrito uma obra chamada Eneias no Lácio, um drama lírico que entretanto desapareceu. (Daqui)

Elin Danielson-Gambogi, Mother's Care, 1891


1 comentário:

Unknown disse...

Maravilhosa obra, maravilhosa lembrança, li aos 10 anos de minha idade e até hj ótimas lembranças, minha filha se chama Bárbara e não me ocorreu pelo poema, mas só gratidão 😉