segunda-feira, 27 de julho de 2020

A Ceifeira solitária - Poema de William Wordsworth


Charles Sprague Pearce (Americano, 1851-1914), A Ceifeira 
 

A Ceifeira solitária 


Só ela no campo vi:
solitária de altas serras,
ceifa e canta para si.
Não digas nada, que a aterras!
Sozinha ceifa no mundo
e canta melancolia.
Escuta: o vale profundo
transborda já de harmonia.

Nunca um rouxinol cantou
em sombras da Arábia ardente
ao que exausto repousou
mais grata canção dolente;
ou gorjeio tão extremado
se escutou na Primavera,
cortando o Oceano calado
entre ilhas de Além-Quimera.

Quem me dirá do que canta?
Será que o que ela deplora
é antigo, triste e distante,
como batalhas de outrora?
Ou coisas simples são
do quotidiano viver?
Essas dores de coração,
que já foram e hão de ser?

Seja o que for que cantara
é como infindo cantar,
que a vi cantando na seara,
no trabalho de ceifar.
Sem falar, quieto, eu escutava.
E, quando o monte subia,
no coração transportava
o canto que não se ouvia.


William Wordsworth
Tradução de Jorge de Sena 



Charles Sprague Pearce, Returning from the Fields
 

Desafio

A via bloqueada
instiga o teimoso viajante
a abrir nova estrada

Helena Kolody
(Haicai) 


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