quinta-feira, 19 de março de 2020

"As Mãos do Meu Pai" - Poema de Mário Quintana


Mary Stevenson Cassatt, American (1844 - 1926), Portrait of Alexander J. Cassatt
and His Son, Robert Kelso Cassatt, 1884
 


As Mãos do Meu Pai


As tuas mãos têm grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já cor de terra
 — como são belas as tuas mãos —
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram
na nobre cólera dos justos...

Porque há nas tuas mãos, meu velho pai,
essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam
nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas...

Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?
Ah, Como os fizeste arder, fulgir,
com o milagre das tuas mãos.

E é, ainda, a vida
que transfigura das tuas mãos nodosas...
essa chama de vida — que transcende a própria vida...
e que os Anjos, um dia, chamarão de alma... 


Mário Quintana, in 'Esconderijos do Tempo'


Cat Stevens - Father and Son


"Meu pai sempre dizia: não levante a sua voz, melhore os seus argumentos." 


Carl Larsson (1853 – 1919, Swedish), Self-portrait with Brita, 1895


Dia do Pai

Dia dos Pais (Brasil) ou Dia do Pai (Portugal) é uma data comemorativa que homenageia anualmente a figura familiar paterna (pai). A data varia de acordo com os países. No Brasil é celebrado no segundo domingo de agosto, em Portugal é no dia 19 de março, nos Estados Unidos e Inglaterra é celebrado no terceiro domingo de junho, nos países ocidentais geralmente coincide com o dia cristão em que se comemora dia de São José, Pai de Jesus Cristo.

Evoca-se também, como origem dessa data a Babilónia, onde, há mais de 4 mil anos, um jovem chamado Elmesu teria moldado em argila o primeiro cartão. Desejava sorte, saúde e longa vida a seu pai, o rei babilónico Nabucodonosor. (Daqui)


terça-feira, 17 de março de 2020

"Minha Mãe" - Poema de Machado de Assis


Pierre-Auguste Renoir, Mme. Charpentier and her children, 1878,

Minha Mãe
(Imitação de Cowper)

Quanto eu, pobre de mim! quanto eu quisera
Viver feliz com minha mãe também!

C. A. DE SÁ

Quem foi que o berço me embalou da infância
Entre as doçuras que do empíreo vêm?
E nos beijos de célica fragrância
Velou meu puro sono? Minha mãe!
Se devo ter no peito uma lembrança
É dela que os meus sonhos de criança
Dourou: — é minha mãe!

Quem foi que no entoar canções mimosas
Cheia de um terno amor — anjo do bem
Minha fronte infantil — encheu de rosas
De mimosos sorrisos? — Minha mãe!
Se dentro do meu peito macilento
O fogo da saudade me arde lento
É dela: minha mãe.

Qual anjo que as mãos me uniu outrora
E as rezas me ensinou que da alma vêm?
E a imagem me mostrou que o mundo adora,
E ensinou a adorá-la? — Minha mãe!
Não devemos nós crer num puro riso
Desse anjo gentil do paraíso
Que chama-se uma mãe?

Por ela rezarei eternamente
Que ela reza por mim no céu também;
Nas santas rezas do meu peito ardente
Repetirei um nome: — minha mãe!
Se devem louros ter meus cantos d’alma
Oh! do porvir eu trocaria a palma
Para ter minha mãe! 
Obras Completas
O Almada & Outros Poemas

Editora Globo 1977