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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

"Mediocridade" - Poema de Jules Laforgue


Johan Christian Dahl, View of St. Olav’s Church at Avaldsnes, 1820


Mediocridade 


No infinito coberto de eternas belezas,
Como átomo perdido, incerto, solitário,
Um planeta chamado Terra, dias contados,
Voa com os seus vermes sobre as profundezas.

Filhos sem cor, febris, ao jugo do trabalho,
Marchando, indiferentes ao grande mistério,
E quando um dos seus é enterrado, já sérios,
Saudam-no. Do torpor não são arrancados.

Viver, morrer, sem desconfiar da história
Do globo, sua miséria em eterna glória,
Sua agonia futura, o sol moribundo.

Vertigens de universo, todo o seu só festa!
Nada, nada, terão visto. Partem do mundo
Sem visitar sequer o seu próprio planeta.


em "Litanias da lua. Jules Laforgue"
Tradução de Régis Bonvicino.


Johan Christian Dahl, Copenhagen Harbour by Moonlight, 1846


"Só o amor, e não a razão, é mais forte do que a morte."

terça-feira, 6 de maio de 2014

"À Minha Filha" - Poema de Alberto d'Oliveira



Franz Eybl, Girl Reading, 1850, Oil on Canvas.



À Minha Filha


Vejo em ti repetida,
A anos de distância,
A minha própria vida,
A minha própria infância.

É tal a semelhança,
É tal a identidade,
Que é só em ti, criança,
Que entendo a eternidade.

Todo o meu ser se exala,
Se reproduz no teu:
É minha a tua fala,
Quem vive em ti, sou eu.

Sorris como eu sorria,
Cismas do meu cismar,
O teu olhar copia,
Espelha o meu olhar.

És como a emanação,
Como o prolongamento,
Quer do meu coração,
Quer do meu pensamento.

Encarnas de tal modo
Minha alma fugitiva,
Que eu não morri de todo
Enquanto sejas viva!

Por que mistério imenso
Se fez a transmissão
De quanto sinto e penso
Para esse coração?

Foi como se eu andasse
Noutra alma a semear
Meu peito, minha face,
Meu riso, meu olhar...

Meus íntimos desejos,
Meus sonhos mais doirados,
Florindo com meus beijos
Os campos semeados.

Bendita é a colheita,
Deus confiou em nós...
Colhi-te, flor perfeita,
Eco da minha voz!

Foi o amor, foi o amor,
Ó filha idolatrada,
O sopro criador
Que te tirou do nada!

Deus bendito e louvado,
Ó filha estremecida,
Por te cá ter mandado
A reviver-me a vida! 
 

Alberto d'Oliveira, in "Lar"


  Alberto Oliveira
Alberto d'Oliveira


Alberto d'Oliveira (Porto, 13 de junho de 1873 — São Mamede de Infesta, 23 de abril de 1940) foi um poeta português.
Frequentou a Universidade de Coimbra, onde fundou, com António Nobre, a revista Boémia Nova cuja polémica funcionou como "pedra de toque" para a afirmação dos movimentos simbolista e decadentista em Portugal.
Colaborou da Revista de Portugal, fundada por Eça de Queirós.
Ficou ligado ao movimento neogarrettista, sob a figura tutelar de Almeida Garrett, cujo programa enunciou na coletânea de ensaios Palavras Loucas, onde preconiza, nomeadamente em "Do Neogarrettismo no Teatro" exaltado pelo seu papel na defesa do nacionalismo, na recuperação da literatura popular enquanto fonte genuína da cultura portuguesa, no renascimento do drama e da poesia nacional, o abandono de modelos culturais estrangeiros, a defesa do que é nacional, a recolha da literatura oral de tradição popular, a recuperação do drama e romance histórico, o retorno ao rusticismo e à vernaculidade.
Mais tarde dirigiu o semanário monárquico e integralista Acção Nacional (1921), e dedicou-se, nos últimos anos de vida, à redação de páginas de memórias sobre o período em que foi cônsul no Brasil e sobre figuras literárias com quem privou como Eça de Queirós ou António Nobre.
Também se encontra colaboração da sua autoria nas revistas Jornal do domingo (1881-1888), Branco e Negro (1896-1898) e Atlântida (1915-1920). (Daqui)
 


Galeria de Franz Eybl
Franz Eybl  (01/04/1806 - 29/4/1880) foi um pintor austríaco. 

Franz Eybl, Self-portrait in Hat, 1840,
Oil on Canvas, 70 x 56 cm



Franz Eybl, Eine Schmiede zu Gosau, 1934



Franz Eybl, Girl Tying Her Shoes


Franz Eybl, Portrait of a Girl



Franz Eybl, Reading



Franz Eybl, Portrait of a Lady



Franz Eybl, Frau Nadassy, 1839



Franz Eybl, Bildnis einer Wienerin


Franz Eybl, Nude Reading, 1850


A simpatia pela obra de arte


"Qualquer produto intelectual de valor que se pretende, surta um efeito imediato, vasto e profundo, tem de conter uma secreta harmonia, uma afinidade mesmo entre o destino pessoal do autor e o destino da generalidade dos seus contemporâneos. As pessoas não sabem por que razão atribuem fama a uma obra de arte. Longe de serem connaisseurs, julgam descobrir nela uma centena de virtudes para justificar tal apreço; mas o verdadeiro motivo do seu aplauso é imponderável - é a simpatia."

Thomas Mann, in 'Morte em Veneza'


Thomas Mann

Escritor de língua alemã, Thomas Mann nasceu em Lübeck, em 1875, numa família burguesa opulenta, domiciliada naquela cidade do Schleswig-Holstein. Era irmão do notável escritor Heinrich Mann e o pai de Klaus, Erika, Golo Mann (aliás Angelus Gottfried Thomas), Monika, Elisabeth e Michael Thomas Mann.
Os desejos de liberdade plena cedo o levaram a manifestar-se em favor do regime republicano e da democracia, dando provas claras desse seu liberalismo no romance Os Buddenbrook, uma análise psico-realista da burguesia decadente, que publicou em 1901, quando tinha apenas vinte e cinco anos, e que lhe conferiu considerável notoriedade no mundo da literatura. Neste romance aflora já claramente o jogo das antíteses, traço característico das suas análises psicológicas e psicossociais, como burguês e artista, vida e espírito, doença e génio, coletivo e individual, que vieram a tornar-se evidentes nos romances Tristão (1903), Tónio Kröger (1903) e Morte em Veneza (1912).
Tendo sofrido influência da filosofia de Nietzsche (1844-1900) e de Schopenhauer (1788-1860), Thomas Mann revela-se, de modo especial, como romancista de caracteres doentios e decadentes, e passa a ser considerado como mestre do romance psicológico e da novela psicológica.
No romance Montanha Mágica (1924) faz uma análise exaustiva do tempo que precedeu a 1.a Grande Guerra, numa Europa doente.
No romance Doutor Fausto (1947) volta-se para o tema da discórdia entre o espírito e a vida e leva a ação a desembocar na catástrofe do herói, em paralelo com a calamidade que pouco antes se abatera sobre o povo alemão.
Nas Confissões do Intrujão Félix Krull (1954) Thomas Mann expõe a sua velha dúvida relativamente à arte e revela a existência de traços comuns à arte e à intrujice.
Thomas Mann viveu em Munique, com pequenas interrupções de 1893 a 1933; saiu da Alemanha para a Suíça após a subida ao poder de Adolfo Hitler (1889-1945) e transferiu-se da Suíça para os Estados Unidos da América em 1938, passando, em 1944, a ter nacionalidade americana.
Recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1929 e o Prémio Goethe em 1949.
Morreu em Kilchberg (Zurique) em 1955, aos oitenta anos.
Thomas Mann é autor de uma obra literária vasta e rica, da qual fazem parte, além das já citadas, as seguintes obras:
O Pequeno Senhor Friedemann (1898); Florença (1906); Alteza Real (1909); Senhor e Cão (1919); Mário e o Feiticeiro (1930); Da Próxima Vitória da Democracia (1938); Carlota em Weimar (1939); Esta Guerra (1940); A Alemanha e os Alemães (1947); O Eleito (1951); A Simplória (1953), entre outras.

Thomas Mann. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014. [Consult. 2014-05-06].