sexta-feira, 15 de novembro de 2024

"Pátio" - Poema de Jorge Luis Borges


 
 

Pátio


Com a tarde
Cansaram-se as duas ou três cores do pátio.
A grande franqueza da lua cheia
Já não entusiasma o seu habitual firmamento.
Hoje que o céu está frisado,
Dirá a crendice que morreu um anjinho.
Pátio, céu canalizado.
O pátio é a janela
por onde Deus olha as almas.
O pátio é o declive
Por onde se derrama o céu na casa.
Serena,
A eternidade espera na encruzilhada das estrelas.
Lindo é viver na amizade obscura
De um saguão, de uma aba de telhado e de uma cisterna. 
 
 
Jorge Luis Borges
,
in "Fervor de Buenos Aires", 1ª edição de 1923.
Tradução de Manuel Bandeira
 
 


"Recolha um cão de rua, dê-lhe de comer e ele não morderá: 
eis a diferença fundamental entre o cão e o Homem." 
 

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