sexta-feira, 22 de novembro de 2024

"A árvore dos poemas" - Poema de Mario Quintana

 

Leopoldo Gotuzzo (Pintor brasileiro, 1887–1983), Paisagem do Rio de Janeiro, 1938.
 
 

A árvore dos poemas

 
Quando a árvore dos poemas não dá poemas,
Seus galhos se contorcem todos como mãos de enterrados vivos,
Os galhos desnudos, ressecos, sem o perdão de Deus!
E, depois, meu Deus, essa lenta procissão de almas retirantes…

De vez em quando uma tomba, exausta à beira do caminho,
Porque ninguém lhe chega ao lábio o frescor de cântaro,
A doçura de fruto que poderia haver num poema.
Maldita a geração sem poetas que deixa as almas seguirem

Seguirem como animais em estúpida migração!
Quando a árvore dos poemas não dá poemas,
Qual será o destino das almas? 


Mário Quintana, in "Baú de Espantos"
Porto Alegre - Editora do Globo, 1986.

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