Auguste Roquemont (Pintor luso-suíço da época romântica, 1804-1852),
"Colegiada de Guimarães", s.d., Localização indeterminada.
O que nós vemos das coisas são as coisas
XXIV
O que nós vemos das coisas são as coisas.
Porque veríamos nós uma coisa se houvesse outra?
Porque é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê,
Nem ver quando se pensa.
Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida!),
Isso exige um estudo profundo,
Uma aprendizagem de desaprender
E uma sequestração na liberdade daquele convento
De que os poetas dizem que as estrelas são as freiras eternas
E as flores as penitentes convictas de um só dia,
Mas onde afinal as estrelas não são senão estrelas
Nem as flores senão flores,
Sendo por isso que lhes chamamos estrelas e flores.
13-3-1914
Alberto Caeiro, “O Guardador de Rebanhos”.
In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa.
Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993). - 50.
“O Guardador de Rebanhos”. 1ª publ. in Athena, nº 4. Lisboa: Jan. 1925.
“O Guardador de Rebanhos”. 1ª publ. in Athena, nº 4. Lisboa: Jan. 1925.
Auguste Roquemont, Cena de aldeia ou Chafariz de Guimarães (Tanque do Carmo), 1842.
Óleo sobre tela, 22 x 27,5 cm. Museu Nacional Soares dos Reis, Porto.
"Adultos seguem caminhos. Crianças exploram. Os adultos ficam satisfeitos por seguir o mesmo trajeto, centenas de vezes, ou milhares; talvez nunca lhes ocorra pisar fora desses caminhos, rastejar por baixo dos rododendros, encontrar os vãos entre as cercas."
Neil Gaiman, em "O Oceano no Fim do Caminho" (The Ocean at the End of the Lane), 2013.
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