Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro, Grupo escultórico "Milagre da Bilha",
peça moldada e modelada em barro branco e vermelho, 1912.
Fábrica Bordalo Pinheiro - Museu da Cerâmica
peça moldada e modelada em barro branco e vermelho, 1912.
Fábrica Bordalo Pinheiro - Museu da Cerâmica
O Poeta em Lisboa
Quatro horas da tarde.
O poeta sai de casa com uma aranha nos cabelos.
Tem febre. Arde.
E a falta de cigarros faz-lhe os olhos mais belos.
Segue por esta, por aquela rua
sem pressa de chegar seja onde for.
Pára. Continua.
E olha a multidão, suavemente, com horror.
Entra no café.
Abre um livro fantástico, impossível.
Mas não lê.
Trabalha - numa música secreta, inaudível.
Pede um cigarro. Fuma.
Labaredas loucas saem-lhe da garganta.
Da bruma
espreita-o uma mulher nua, branca, branca.
Fuma mais. Outra vez.
E atira um braço decepado para a mesa.
Não pensa no fim do mês.
A noite é a sua única certeza.
Sai de novo para o mundo.
Fechada à chave a humanidade janta.
Livre, vagabundo
dói-lhe um sorriso nos lábios. Canta.
Sonâmbulo, magnífico
segue de esquina em esquina com um fantasma ao lado.
Um luar terrífico
vela o seu passo transtornado.
Seis da madrugada.
A luz do dia tenta apunhalá-lo de surpresa.
Defende-se à dentada
da vida proletária, aristocrática, burguesa.
Febre alta, violenta
e dois olhos terríveis, extraordinários, belos,
Fiel, atenta
a aranha leva-o para a cama arrastado pelos cabelos.
António José Forte, in Uma Faca nos Dentes
Prefácio de Herberto Helder
Quatro horas da tarde.
O poeta sai de casa com uma aranha nos cabelos.
Tem febre. Arde.
E a falta de cigarros faz-lhe os olhos mais belos.
Segue por esta, por aquela rua
sem pressa de chegar seja onde for.
Pára. Continua.
E olha a multidão, suavemente, com horror.
Entra no café.
Abre um livro fantástico, impossível.
Mas não lê.
Trabalha - numa música secreta, inaudível.
Pede um cigarro. Fuma.
Labaredas loucas saem-lhe da garganta.
Da bruma
espreita-o uma mulher nua, branca, branca.
Fuma mais. Outra vez.
E atira um braço decepado para a mesa.
Não pensa no fim do mês.
A noite é a sua única certeza.
Sai de novo para o mundo.
Fechada à chave a humanidade janta.
Livre, vagabundo
dói-lhe um sorriso nos lábios. Canta.
Sonâmbulo, magnífico
segue de esquina em esquina com um fantasma ao lado.
Um luar terrífico
vela o seu passo transtornado.
Seis da madrugada.
A luz do dia tenta apunhalá-lo de surpresa.
Defende-se à dentada
da vida proletária, aristocrática, burguesa.
Febre alta, violenta
e dois olhos terríveis, extraordinários, belos,
Fiel, atenta
a aranha leva-o para a cama arrastado pelos cabelos.
António José Forte, in Uma Faca nos Dentes
Prefácio de Herberto Helder
Retrato de Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro, 1884, por Columbano Bordalo Pinheiro
A pintura pertence ao Museu do Chiado de Lisboa.
Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro (Lisboa, 20 de Julho de 1867 - Caldas da Rainha, 8 de Setembro de 1920) foi um ilustrador, ceramista, caricaturista, bem como criador de banda desenhada e de cartazes.
Era filho de Rafael Bordalo Pinheiro e sua esposa, Elvira Ferreira de Almeida, e sobrinho de Columbano Bordalo Pinheiro.
Era filho de Rafael Bordalo Pinheiro e sua esposa, Elvira Ferreira de Almeida, e sobrinho de Columbano Bordalo Pinheiro.
Caricatura de Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro
Iniciou a sua atividade de ilustrador numa publicação de seu pai, Pontos nos ii (1885-1891). Para além desta, também trabalhou nas revistas O António Maria (1879-1885;1891-1898), A Paródia (1900-1907), que dirigiu após a morte do pai, Ilustração Portugueza (1903-1923), Atlântida: mensário artístico, literário e social para Portugal e Brasil (1915-1920), Miau! (1916) e O Gafanhoto.
Caricatura de Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro
Foi presidente do Grupo de Humoristas Portugueses e professor na Escola Industrial Rodrigues Sampaio e na Escola Industrial Fonseca Benevides.
Colaborou com o pai na Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha. Após a morte dele (em 1905) sucedeu-lhe na gestão da fábrica, abandonando a atividade de ilustrador e dedicando-se em exclusivo à cerâmica. Em 1908 fundou uma nova fábrica, inicialmente denominada de "São Rafael" e mais tarde denominada Fábrica Rafael Bordalo Pinheiro. É característica da sua produção a aliança entre os modelos tradicionais e as tendências da corrente Arte Nova.
Foi retratado em 1884 num óleo sobre madeira da autoria de seu tio, Columbano Bordalo Pinheiro
Tem no Museu Militar de Lisboa alguns painéis de azulejos representando cenas do golpe de estado do 1º de Dezembro de 1640 e o mesmo período da Restauração.
Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro (1867-1920), ilustração para a capa da revista A Parodia,
número 5, 1.º ano, de 11 de Fevereiro de 1903.
Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro (1867-1920), ilustração para a contracapa da revista A Parodia,
número 5, 1.º ano, de 11 de Fevereiro de 1903.
Foi retratado em 1884 num óleo sobre madeira da autoria de seu tio, Columbano Bordalo Pinheiro
Tem no Museu Militar de Lisboa alguns painéis de azulejos representando cenas do golpe de estado do 1º de Dezembro de 1640 e o mesmo período da Restauração.
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