Conheço esse Sentimento
Conheço esse sentimento
que é como a cerejeira
quando está carregada de frutos:
excessivo peso para os ramos da alma.
Conheço esse sentimento
que é o da orla da praia
lambida pela espuma da maré:
quando o mar se retira
as conchas são pequenas saudades
que doem no coração da areia.
Conheço esse sentimento
que é o dos cabelos do salgueiro
revoltos pelas mãos ágeis da tempestade:
na hora quieta do amanhecer
pendem-lhe tristemente os braços
vazios do amado corpo do vento.
Conheço esse sentimento
que passa nos teus olhos e nos meus
quando de mãos dadas
ouvimos o Requiem de Mozart
ou visitamos a nave de Alcobaça.
Pedro e Inês
a praia e a maré
o salgueiro e o vento
a verdade e o sonho
o amor e a morte
o pó das cerejeiras
tu.
e eu.
quando está carregada de frutos:
excessivo peso para os ramos da alma.
Conheço esse sentimento
que é o da orla da praia
lambida pela espuma da maré:
quando o mar se retira
as conchas são pequenas saudades
que doem no coração da areia.
Conheço esse sentimento
que é o dos cabelos do salgueiro
revoltos pelas mãos ágeis da tempestade:
na hora quieta do amanhecer
pendem-lhe tristemente os braços
vazios do amado corpo do vento.
Conheço esse sentimento
que passa nos teus olhos e nos meus
quando de mãos dadas
ouvimos o Requiem de Mozart
ou visitamos a nave de Alcobaça.
Pedro e Inês
a praia e a maré
o salgueiro e o vento
a verdade e o sonho
o amor e a morte
o pó das cerejeiras
tu.
e eu.
Rosa Lobato Faria,
in 'Dispersos'
Rosa Lobato de Faria
A estreia no cinema ocorreu em 1973 em Perdido por Cem..., seguindo-se na Sétima Arte interpretações em Paisagem Sem Barcos (1983), Jogo de Mão (1984), O Barão de Altamira (1986), O Vestido Cor de Fogo (1986), Aqui na Terra (1993), Tráfico (1998) e A Mulher Que Acreditava Ser Presidente dos Estados Unidos da América (2003).
Rosa Lobato de Faria fez sucesso como atriz de teatro, cinema e televisão e como autora de canções. Quatro das suas letras venceram o Festival da Canção e foram à Eurovisão, e duas marcaram presença no Festival da OTI. No Festival Eurovisão estiveram presentes as músicas "Amor de Água Fresca", interpretada por Dina em 1992, "Chamar a Música", cantada por Sara Tavares, em 1994, "Baunilha e Chocolate", com voz de Tó Cruz, em 1995, e "Antes do Adeus", por Celia Lawson, em 1997. Ganhou ainda por duas vezes o prémio da Grande Marcha Popular de Lisboa, nas únicas vezes em que concorreu.
Rosa Lobato de Faria escreveu o argumento de duas telenovelas Passerelle (1987) , a meias com Ana Zanatti, para a RTP e Telhados de Vidro (1994), para a TVI. Escreveu também o guião de quatro séries de televisão, três da RTP- Nem o Pai Morre... (1987), Pisca-Pisca (1988) e Tudo ao Molho e Fé em Deus (1994)-, e uma da TVI, Trapos e Companhia (1995). Colaborou também em diversos programas do humorista Herman José, mais recentemente, protagonizou as séries humorísticas A Minha Sogra é uma Bruxa (2003) e Aqui Não Há Quem Viva (2006).
Já com uma longa carreira noutras áreas culturais, em 1995 estreia-se na escrita de romances com O Pranto de Lúcifer, seguindo-se, sucessivamente, Os Pássaros de Seda (1996), Os Três Casamentos de Camilla S. (1997), Romance de Cordélia (1998), O Prenúncio das Águas (1999), A Trança de Inês (2001), O Sétimo Véu (2003), Os Linhos da Avó (2004), A Flor do Sal (2005), A Alma Trocada (2007), A Estrela de Gonçalo Enes (2008) e As Esquinas do Tempo (2008).
Com O Prenúncio das Águas, Rosa Lobato de Faria ganhou o Prémio Máxima de Literatura em 2000. Tem obras traduzidas em alemão e francês. Mas, para além do romance, a autora também publicou poesia, como a antologia Poemas Escolhidos e Dispersos (1997) e A Gaveta de Baixo (1999), um longo poema acompanhado por aguarelas de Oliveira Tavares, e Os Melhores Poemas Para Crescer (2007).
Em finais de 2002, estreou no teatro a peça Sete Anos, a primeira escrita por Rosa Lobato de Faria. Paralelamente a todas estas atividades, deu aulas de dicção na Universidade e ensinou Poesia Portuguesa num curso de formação de atores.
Rosa Lobato de Faria. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014. [Consult. 2014-08-07]
Oliveira Tavares, Sem Titulo, Acrilico s/tela 60x73cm
Oliveira Tavares
OLIVEIRA TAVARES nasceu em Lisboa em 1961. Viveu e trabalhou em Bruxelas e Paris. Reside actualmente na Ericeira, Portugal. Frequentou o curso de Engenharia do Instituto Superior Técnico de Lisboa, o Curso de Desenho no A.R.C.O. e o Curso de História de Arte na Sociedade Nacional de Belas-Artes. Workshop de Gravura com Bartolomeu Cid dos Santos – Casa das Artes – Tavira. Membro da Sociedade Nacional de Belas-Artes. Quando se contempla um quadro de Oliveira Tavares, a nossa atenção concentra-se nas personagens provenientes de imagens mais antigas, de Velasquez a Vermeer. Mas um segundo olhar revela-os, muitas vezes, transformados, transfigurados, atéreos. Depois, o nosso olhar vai ainda mais longe e aparece então uma pintura abstracta, geométrica ou gestual. A partir de agora, a cor evidencia-se, com as suas pulsações particulares. Não se trata, por consequência, de uma pintura histórica, mas de uma pintura de recordação. Uma lembrança profundamente enraizada no presente, nas novas possibilidades de expressão descobertas no séc. XX. (Daqui)
Oliveira Tavares, Abraço
Edgardo Xavier, Crítico de artes plásticas, A.I.C.A / Portugal, Estoril, 2002
"Tão disciplinada como a linguagem estética dos clássicos e tão apta a reflectir as pulsões de um artista livre e emocionado, esta pintura remete-nos para a polivalência humana em todo o seu esplendor. Exercício de apropriação de um real que se desdobra e domina, os trabalhos de Oliveira Tavares surpreendem o observador com o inesperado convívio de formas que se avultam ou diluem no magma dos seus registos.
Importa referir que é na diversidade de impulsos, cores, texturas e na multiplicidade de ritmos propiciatórios que as distintas partes da obra se articulam, como se de um puzzle se tratasse ou como se houvesse intenção de pôr em paralelo as porções heterogéneas do todo. O resultado tem a ver com o sucesso da procura de grafismos ou de elementos que estabeleçam o equilíbrio e sejam capazes de transmitir harmonia. Radica nesta dinâmica o principal da pesquisa a que se vem dedicando este artista plástico desde o seu início.
Muitas destas presenças são-nos familiares. Corpos, cabeças, rostos e mãos pertencem a outros enquadramentos e, na origem, narram histórias diferentes. Aqui são como que evocações do afecto, elegias ou meras referências que operam como pontos de partida para um novo e actual discurso, espécie de repto a que o autor responde com a sua própria caligrafia pictórica. Adequando as imagens previamente seleccionadas ao clima que pretende comunicar, aceitando-as na sua força peculiar ou alterando o sentido da sua integração no presente contexto, o pintor interage com o mote para aceder a uma criatividade pessoal.
A virtude primordial desta linguagem reside, quanto a nós, no facto de coexistirem, no mesmo espaço, pelo menos duas atitudes opostas. Com efeito, oscilando entre o rigor inerente à reprodução fiel e a inquieta divagação que culmina no equilíbrio destes contrários, Oliveira Tavares a si mesmo se retrata e justifica. Ei-lo, consequentemente, em sua riqueza de sensibilidades e técnicas, seu temperamento, seu amor pela figuração e a sua apetência pela liberdade, de tradução muitas vezes gestual.
A Arte também se entende como um vasto repositório de informação e, num tal contexto, estas telas afirmam a ductilidade integradora deste caminhar de séculos em busca da unidade virtual para que tendem o passado, o presente e o futuro sempre que, ultrapassando os preconceitos, concluimos pertencer ao mesmo universo de valores. São meramente formais as diferenças quando se coloca o homem na origem e no destino do acto criador!
O cromatismo intenso que percorre as áreas dos poucos planos envolventes e a utilização de vocábulos para ler, estar ou significar, acabam por assumir plasticidades ricas que abrem para uma multiplicidade de leituras esta pintura intemporal. A obra surge-nos, assim, como algo que se irá fruindo, com crescente profundidade, como função da simples persistência do olhar."
Ilustração do Livro “A Gaveta de Baixo”, de Rosa Lobato de Faria
"A poesia tem comunicação secreta com o sofrimento do homem."
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