Absurdist painting by Michael Cheval
Aparição
A mulher que por mim passou na rua, há pouco,
foi uma coisa diáfana, gentil,
cedo, a pairar
na sombra dum jardim
com flores, em baixo, ajoelhadas,
ao senti-la na altura,
e mandando-lhe o aroma em lágrimas, desfeito,
para mantê-la em uma nuvem branca...
Mulher, coisa diáfana, vaga e bela, sem desenho,
logo fluido animando o colo duma nuvem, nuvem,
num ápice, trucidada pelo vento!
Edmundo Bettencourt
Edmundo de Bettencourt foi um escritor português, nascido a 7 de agosto de 1899, no Funchal, e falecido em 1973, em Lisboa, notavelmente conhecido por interpretar Fado de Coimbra.
Frequentou a Faculdade de Direito de Coimbra, foi funcionário público, até ser despedido por o seu nome figurar entre os milhares designatários das listas do MUD, desenvolvendo, então, a atividade de delegado de propaganda médica. Integrou o grupo fundador de Presença, cujo título sugerira, e em cujas edições publica O Momento e a Legenda. Dissocia-se do grupo presencista em 1930, subscrevendo com Miguel Torga e Branquinho da Fonseca uma carta de dissensão, onde é acusado o risco em que a revista incorria de enquadrar o "artista em fórmulas rígidas", esquecendo o princípio de "ampla liberdade de criação" defendido nos primeiros tempos" (cf. "OModernismo em Portugal", entrevista de João de Brito Câmara a Edmundo de Bettencourt, reproduzida in A Phala, n.° 70, maio de 1999, p.114).
A redação de Poemas Surdos, entre 1934 e 40, alguns dos quais publicados na revista lisboeta Momento, permite antedatar o surto do surrealismo em Portugal, enquanto adesão a um "sistema de pensamento, no que ele tem de fuga à chamada realidade, repúdio dos valores duma civilização e esperança de ação num domínio onde por tradição ela é quase sempre negada" (id. ib., p. 115), embora não seja possível esclarecer com especificidade qual foi o conhecimento que Bettencourt teve da lição surrealista francesa.
Frequentou os cafés Royale Gelo, onde se reuniu a segunda geração surrealista, vindo a publicar seis inéditos no n.° 3 da revista Pirâmide, em cujas páginas, entre 59 e 60, foram dadas à luz algumas das produções do grupo do Gelo.
Publicou ainda esparsamente outros poemas em Momento, Vértice, Búzio. Depois de um silêncio, que deve ser compreendido não como desistência "mas sim [como] uma peculiar forma de revolta que o poeta defende carinhosamente" (cf. MARGARIDO, Alfredo - in Pirâmide, n.° 3, dezembro de 1960), colige toda a sua produção, permitindo a edição, em 1963, dos Poemas de Edmundo de Bettencourt, prefaciados por Herberto Hélder, poeta que, pela primeira vez, faz justiça à originalidade do autor de Poemas Surdos, considerando-o "uma das pouquíssimas vozes modernas entre o milagre do Orpheu e o breve momento surrealista português" (HELDER, Herberto - "Relance sobre a Poesia de Edmundo de Bettencourt", prefácio a Poemas de Edmundode Bettencourt, Lisboa, Portugália, 1963, p. XXXII).
Com efeito, o versilibrismo, o imagismo e certa atmosfera onírica e irreal conferem à sua poesia um lugar de destaque no segundo modernismo, estabelecendo, simultaneamente, a ponte com o vanguardismo de Orpheu e com tendências surrealistas e imagistas verificadas em gerações posteriores à Presença.
Edmundo de Bettencourt. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014. [Consult. 2014-08-11].
Michael Cheval
Michael Cheval é um artista contemporâneo especializada em pinturas e desenhos absurdistas. Em sua definição, "absurdo" é o inverso da realidade, o reverso da lógica. Ela não surge a partir dos sonhos dos surrealistas ou do trabalho do subconsciente. É um jogo de imaginação, onde todos os laços são cuidadosamente escolhidos para a construção de uma trama literária. Qualquer uma das pinturas de Cheval é um mapa de sua jornada em ilusão. Seu trabalho é muitas vezes metafórico e requer um olho afiado para decifrar as alusões muitas vezes ocultos.
Nascido em 1966 em Kotelnikovo, uma pequena cidade do sul da Rússia, União Soviética, Cheval desenvolveu paixão pela arte em sua infância. Quando sua família se mudou para a Alemanha em 1980, o ocidente e a cultura europeia tiveram um grande impacto sobre o jovem artista. Em 1986, mudou-se para o Turquemenistão e se formou na escola Ashgabad de Belas Artes. Absorvendo a filosofia oriental e do caráter da Ásia Central, começou a trabalhar como artista profissional, moldando seu estilo e direção surrealista. Sua decisão de imigrar para os EUA em 1997 iniciou uma nova fase para o artista. Ele voltou-se para a cultura ocidental que muito o inspirou em sua juventude alemã, mas agora com sua própria experiência, filosofia e visão.
Michael Cheval, Roll Over Beethoven, 2014
Michael Cheval, Anna II, 2014
Michael Cheval, Down to Earth
1 comentário:
Apenas para dizer um obrigado pelo seu blog. Bem haja
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