Rafael Bordalo Pinheiro, Jarra, A dança das rãs, rodada e modelada em barro vermelho, 1893.
Peça de inspiração Arte Nova. Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha - Museu da Cerâmica
Citação
"... Cá pelo país está tudo diferente e tudo na mesma. As lutas pelo poder continuam. Os partidos sucedem-se. É que a política é como uma “grande porca”. É na política que todos mamam. E como não chega para todos, parecem bacorinhos que se empurram para ver o que consegue apanhar uma teta."
Rafael Bordalo Pinheiro, 1879
(Ao regressar a Lisboa após uma estadia de quatro anos no Brasil)
Caricaturista, ilustrador, ceramista, autor de banda desenhada, editor, decorador e figurinista, considerado o maior artista plástico português do século XIX, Rafael Bordalo Pinheiro nasceu a 21 de março de 1846, em Lisboa, e faleceu a 23 de janeiro de 1905, na mesma cidade.
Autorretrato de Columbano Bordalo Pinheiro (1857 — 1929),
pintor naturalista e realista português, irmão de Rafael Bordalo Pinheiro)
Oriundo de uma família de artistas, Rafael Bordalo Pinheiro teve uma formação escolar que passou pelo Liceu das Merceiras, onde se matriculou em 1857, no mesmo ano em que nasceu o irmão, Columbano Bordalo Pinheiro, que se viria a revelar um notável pintor.
Retrato de Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro,
filho de Rafael Bordalo Pinheiro,pintado por seu tio
Columbano Bordalo Pinheiro, 1884, óleo sobre madeira.
Rafael Bordalo Pinheiro experimentou representação no Teatro Garrett, inscreveu-se no Conservatório em 1860 e, no ano seguinte, matriculou-se em Desenho de Arquitetura Civil na Academia de Belas Artes, onde também se inscreveu em Desenho Histórico.
Perante um percurso escolar perfeitamente irregular e marcado pela pouca assiduidade, em 1863 foi trabalhar como escriturário na Câmara dos Pares. Em paralelo, desenvolveu o gosto pela arte, como se verificou no Salão da Sociedade Promotora de Belas Artes, onde expôs regularmente aguarelas com motivos populares a partir de 1868.
Perante um percurso escolar perfeitamente irregular e marcado pela pouca assiduidade, em 1863 foi trabalhar como escriturário na Câmara dos Pares. Em paralelo, desenvolveu o gosto pela arte, como se verificou no Salão da Sociedade Promotora de Belas Artes, onde expôs regularmente aguarelas com motivos populares a partir de 1868.
Em 1869 realizou diversas capas de livros e cabeçalhos de jornais e preparou o álbum O Calcanhar d'Achilles [Aquiles], editado no ano seguinte.
Durante a Exposição Internacional de Madrid, de 1871, apresentou os seus trabalhos e, nesse mesmo ano, participou no Almanaque das Gargalhadas.
Em 1872 colaborou com Artes e Letras e foi editado o álbum Apontamentos de Raphael Bordallo Pinheiro sobre a Picaresca Viagem do Imperador do Rasilb pela Europa, que é a primeira banda desenhada portuguesa, que relata em 16 páginas a viagem do Imperador do Brasil D. Pedro II à Europa. Dado o grande sucesso deste álbum, foram feitas mais duas edições no mesmo ano e, deste modo, Bordalo foi um dos pioneiros da BD a nível mundial. Estes três álbuns foram reeditados em 1996 pela Bedeteca de Lisboa por ocasião dos 150 anos do nascimento do autor, realizando-se na ocasião uma exposição sobre as suas Histórias aos Quadradinhos, entre outras iniciativas.
A sua colaboração como ilustrador com a imprensa estrangeira fez-se notar particularmente em 1873, com El Mundo Comico e Ilustración Española y Americana (ambos de Madrid) e o The Illustrated London News (de Londres).
Primeira caricatura do "Zé Povinho" in "A Lanterna Mágica" (1875).
Ano também marcante na sua carreira foi o de 1875: criou o célebre Zé Povinho, que apareceu pela primeira vez nas páginas d'A Lanterna Mágica, periódico que se começou a publicar a 1 de maio, sob direção literária de Guerra Junqueiro e de Guilherme de Azevedo. Também em 1875, a convite do prestigiado jornal O Mosquito, partiu para o Brasil. Colaborou com esse periódico carioca entre 1875 e 1877 e, com o seu encerramento, fundou o Psit!!!, em 1877, que durou escassos meses, tendo criado de seguida O Besouro, publicado entre 1878 e 1879, o ano do seu regresso a Lisboa.
Em 1879 fundou um dos títulos mais representativos em que participou, o célebre O António Maria, com Guilherme de Azevedo, cuja I série se publicou entre 1879 e 1885.
Com o encerramento de O António Maria criou de seguida o Pontos nos II, que se publicou entre 1885 e 1991, reaparecendo uma II série de O António Maria, entre 1891 e 1898. O último jornal que dinamizou foi A Paródia, que contou com a colaboração literária de João Chagas, publicado de 1900 até 1906.
Retomando um hábito tido no Brasil, fez caricatura a partir de quadros célebres, como Zé Povinho na [Última] Ceia e Zé Povinho - Marquês de Pombal, ambos de 1882.
Com a colaboração de Ramalho Ortigão lançou o Álbum das Glórias em 1880 e, no ano seguinte, O António Maria estreou-se como revista teatral.
Rafael Bordalo Pinheiro, As duas soberanias, in A Paródia, 1902
Para além dos periódicos que fundou e dinamizou com caricaturas e ilustrações, colaborou simultaneamente em muitos outros com BD, como aconteceu com as edições de O Comércio do Porto Ilustrado, no qual participou entre 1892 e 1904 com 10 histórias de BD que tiveram a particularidade de ser a cores, reeditadas em 1996 por Carlos Bandeiras Pinheiro. Uma outra BD importante, O Lazareto de Lisboa, surgida em 1881, também foi reeditada, em 2003, pela Frenesi.
Rafael Bordalo Pinheiro, Jarra com tampa, moldada e modelada em barro vermelho, 1888.
Rafael Bordalo Pinheiro, Candelabro renascentista em faiança, 1894
Em 1884 começou a laborar a Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha. De entre as peças fabricadas, destaque para as pequenas figuras de carácter popular e caricatural, como o célebre Zé Povinho, a Ana das Caldas, o Arola ou as versões do John Bull (como penico e escarrador), personagem que surgiu como resposta ao Ultimato Britânico de 1890, sem esquecer as peças de grandes dimensões, como a Talha Manuelina e a Jarra Beethoven.
Rafael Bordalo Pinheiro, Jarra Beethoven, 1895
Prova do seu empenho na fábrica, viajou com o irmão Feliciano em 1888, visitando fábricas em França, Bélgica e Inglaterra, para conhecer técnicas de produção de cerâmica.
Em 1889 decorou o Pavilhão de Portugal na Exposição Universal de Paris, onde as suas cerâmicas foram acolhidas com êxito, tendo sido agraciado com o grau de cavaleiro da Legião de Honra da República Francesa.
Rafael Bordalo Pinheiro, Bule de tipo caricatural, peça moldada e modelada, 1897-1906.
Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha - Museu da Cerâmica
Outras atividades em que se destacou foram a realização de figurinos para peças teatrais, como as que fez para Eduardo Schwalbach a partir de 1897, como O Reino da Bolha, ou a baixela manuelina que desenhou para o visconde de São João da Pesqueira, em 1904.
Implacável com a classe política do país, ninguém foi poupado à pena cáustica de Bordalo, como Hintze Ribeiro, José Luciano de Castro, Mouzinho de Albuquerque, o duque d'Ávila, o conde de Burnay, D. Luís, D. Carlos ou, em particular, António Maria Fontes Pereira de Melo.
Rafael Bordalo Pinheiro, Jarra decorada com folhas de plátano.
Esta peça moldada e modelada em barro vermelho em 1901, está inserida
na fase bordalina de onde saiu a Talha Manuelina.
Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha - Museu da Cerâmica
A cidade de Lisboa tem-lhe prestado diversas homenagens, como a atribuição do seu nome ao largo onde morou, próximo do Chiado, a criação em 1989 do Prémio Municipal "Rafael Bordalo Pinheiro" de Banda Desenhada, Caricatura e Cartoon e, desde 1915, o Museu Rafael Bordalo Pinheiro, no Campo Grande, tutelado pela edilidade desde 1924, que resultou da doação (do edifício e do recheio) por um grande admirador do autor, Cruz Magalhães, que embora nunca o tenha conhecido organizou metodicamente um espólio sem igual sobre o autor. A Casa da Imprensa atribui desde 1990 os Prémios "Bordalo", criados em 1962 com outro nome, que distingue personalidades em várias áreas.
Rafael Bordalo Pinheiro, Floreira, peça rodada e modelada em barro vermelho, 1898.
Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha - Museu da Cerâmica
Em 2005, por ocasião do Centenário da sua morte, realizaram-se diversas iniciativas, com exposições (nomeadamente em Lisboa e no Porto), as edições da Fotobiografia organizada por João Paulo Cotrim (Assírio & Alvim), do Álbum das Glórias (Expresso) e o catálogo A Rolha - Bordalo (Hemeroteca Municipal de Lisboa).
Nas Caldas da Rainha existe uma Casa Museu Rafael Bordalo Pinheiro e uma Escola Secundária tem Rafael Bordalo Pinheiro como patrono.
Nas Caldas da Rainha existe uma Casa Museu Rafael Bordalo Pinheiro e uma Escola Secundária tem Rafael Bordalo Pinheiro como patrono.
Rafael Bordalo Pinheiro. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2014. [Consult. 2014-07-24].
Figura em cerâmica retratando o Zé Povinho,
O Zé Povinho é uma personagem satírica de crítica social, criada por Rafael Bordalo Pinheiro e adoptada como personificação nacional portuguesa.
O Zé Povinho corresponde a uma imagem simbólica do povo, da massa anónima e submissa, plena de atualidade, que aparece nas mais variadas situações, desde os aumentos de impostos e das tarifas dos transportes, aos negócios mal explicados. De origem rural, sorriso afável, cabelo despenteado e usando chapéu braguês, o Zé vai manifestando o seu espanto umas vezes ou em outras mostra que percebe mais do que seria suposto.
Rafael Bordalo Pinheiro, Caixa "Toma", faiança 1904.
Museu Bordalo Pinheiro, Lisboa.
Bordalo Pinheiro definiu assim, o personagem Zé Povinho:
"O Zé Povinho olha para um lado e para o outro e... fica como sempre... na mesma".
"Mas se ele é paciente, crédulo, submisso, humilde, manso, apático, indiferente, abúlico, céptico, desconfiado, descrente e solitário, também não deixa por isso de nos aparecer, em constante contradição consigo mesmo, simultaneamente capaz de se mostrar incrédulo, revoltado, resmungão, insolente, furioso, sensível, compassivo, arisco, activo, solidário, convivente..."
Rafael Bordalo Pinheiro
Os Azulejos
de
Rafael Bordalo Pinheiro
Rafael Bordalo Pinheiro, Painel de azulejos, barro vermelho moldado, 1893-1905.
Inspiração na produção hispano mourisca do século XVI. Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha - Museu da Cerâmica
Rafael Bordalo Pinheiro principia a sua produção em Setembro de 1884, aplicando-o com grande sucesso em grandes superfícies como fachadas e interiores de residências. A durabilidade e impermeabilização das superfícies, características particulares do azulejo, aliadas a efeitos visuais resultantes da imitação de materiais através do azulejo de relevo, deram origem a composições livres de rara beleza.
Rafael Bordalo Pinheiro, Painel de azulejos com borboletas e espiga de trigo, barro vermelho moldado, 1905.
Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha - Museu da Cerâmica
Numa primeira fase mostrou preferência pelos azulejos de padrão, inspirados em motivos da azulejaria hispano-árabe, modalidade que nunca abandonou apesar das novas experiências com nenúfares, borboletas, gafanhotos e gatos, claramente influenciadas pela Arte Nova. A renovação do saber artesanal introduzida por Bordalo abriu as portas do mercado internacional ao azulejo português.
Rafael Bordalo Pinheiro, Painel de azulejos, barro vermelho moldado, 1893-1905.
Gafanhotos sobre espigas de trigo. Cercadura com óvulos de inspiração renascentista.
Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha - Museu da Cerâmica
Além do azulejo artístico, a Fábrica de Faianças fabricou o azulejo comum e produziu tijolos (moldes em madeira reforçados a ferro) e telhas vidradas, revestidas de esmaltes verdes e cor de mel. Começou por fabricar tijolos e telhas para a edificação da própria fábrica e em Abril de 1885 concebe uma telha de menor peso e maior impermeabilidade com determinados apêndices para melhor segurança, em concorrência directa com a telha de Marselha. Foram construídos sete fornos para o cozimento deste material, na sua maior parte em barro vermelho. [ CITI ]
Rafael Bordalo Pinheiro, Azulejos de padrão, nenúfar e rã (Rã no Charco)
Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha . Museu Rafael Bordalo Pinheiro - Divisão de Museus - CML
Rafael Bordalo Pinheiro, Painel com rãs, Finais do século XIX
Rafael Bordalo Pinheiro, Painel Arte Nova Com Rãs, Início sec. XX
Rafael Bordalo Pinheiro, Azulejos, Fábrica Bordalo Pinheiro, s.d.
Rafael Bordalo Pinheiro, Painel de azulejos de inspiração mourisca com escudete de cinco quinas.
Fontes:
Rafael Bordalo Pinheiro – Wikipédia
Rafael Bordalo Pinheiro - Infopédia
Rafael Bordalo Pinheiro - Centro Virtual Camões
Rafael Bordalo Pinheiro (Vidas Lusófonas)
R. Bordalo Pinheiro: biografia - CITI
Museu Bordalo Pinheiro - Museu de Arte
Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha
Faianças Artísticas Bordallo Pinheiro
Museu da Cerâmica
ComJeitoeArte
MatrizNet
Caldas da Rainha
Sem comentários:
Enviar um comentário