terça-feira, 10 de julho de 2012

"Ao Cair das Folhas" - Poema de António Nobre


Gustave Courbet (French, 1819-1877), Hunter on Horseback, 1864 



Ao Cair das Folhas 
                                                                          
                                                                                 À minha irmã Maria da Glória 
 
Pudessem suas mãos cobrir meu rosto,
fechar-me os olhos e compor-me o leito,
quando, sequinho, as mãos em cruz no peito,
eu me for viajar para o Sol-posto.

De modo que me faça bom encosto
o travesseiro comporá com jeito.
E eu tão feliz! – Por não estar afeito,
hei-de sorrir, Senhor, quase com gosto.

Até com gosto, sim! Que faz quem vive
órfão de mimos, viúvo de esperanças,
solteiro de venturas, que não tive?

Assim, irei dormir com as crianças
quase como elas, quase sem pecados…
E acabarão enfim os meus cuidados.

Clavadel, outubro, 1895.

António Nobre
, in Despedidas (1895 - 1899), Porto, 1902 
 
 
Obras de Gustave Courbet
 
Gustave Courbet, Self-Portrait with Striped Collar
 

Gustave Courbet, The Desperate Man


Gustave Courbet, The Wounded Man


Gustave CourbetThe Source


Gustave Courbet, Woman with a Parrot


Gustave CourbetPortrait of Jo the Beautiful Irish Woman


Gustave Courbet, Seated woman in the terrace


Gustave Courbet, The hunt


Gustave Courbet, Sitting on cushions dog


Gustave Courbet, The Valley of the Loue


Gustave Courbet, Young Girl Arranging Flowers


Gustave Courbet, Hollyhocks in a Copper Bowl


"Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. E, no entanto, o leitor se desgasta, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três desertos."  - Nelson Rodrigues 


Nelson Falcão Rodrigues (Recife, 23 de agosto de 1912 — Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 1980) foi um importante dramaturgo, jornalista e escritor brasileiro, tido como o mais influente dramaturgo do Brasil. 
Nascido no Recife, Pernambuco, mudou-se em 1916 para a cidade do Rio de Janeiro. Quando maior, trabalhou no jornal A Manhã, de propriedade de seu pai. Foi repórter policial durante longos anos, de onde acumulou uma vasta experiência para escrever suas peças a respeito da sociedade. 
Sua primeira peça foi A Mulher sem Pecado, que lhe deu os primeiros sinais de prestígio dentro do cenário teatral. 
O sucesso mesmo veio com Vestido de Noiva, que trazia, em matéria de teatro, uma renovação nunca vista nos palcos brasileiros. 
A consagração se seguiria com vários outros sucessos, transformando-o no grande representante da literatura teatral do seu tempo, apesar de suas peças serem tachadas muitas vezes como obscenas e imorais. 
Em 1962, começou a escrever crónicas desportivas, deixando transparecer toda a sua paixão por futebol. Veio a falecer em 1980, no Rio de Janeiro. 

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