Julien Dupré (French, 1851 - 1910)
Não, não é cansaço
Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.
Não. Cansaço por quê?
É uma sensação abstrata
Da vida concreta -
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...
Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.
(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)
Porque oiço, veja
Confesso: é cansaço!...
Álvaro de Campos,
(Heterónimo de Fernando Pessoa, 1888 - 1935)
in Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa.
Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993). - 111.
Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.
Não. Cansaço por quê?
É uma sensação abstrata
Da vida concreta -
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...
Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.
(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)
Porque oiço, veja
Confesso: é cansaço!...
Álvaro de Campos,
(Heterónimo de Fernando Pessoa, 1888 - 1935)
in Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa.
Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993). - 111.
Julien Dupré, Retrato
Julien Dupré foi um pintor naturalista francês, nasceu no dia 17 de março de 1851 e morreu no dia 15 de abril de 1910.
Enveredou pela carreira de pintor desde muito jovem. Frequentou as Belas Artes nas oficinas de Désiré François Laugée, Isidore Pils e Henri Lechmann.
Na linha de Jean-François Millet e de Jules Breton, especializou-se na pintura realista a par de Léon Lhermitte, Jules Bastien-Lepage e Pascal Dagnan-Bouveret. Tornou-se um dos melhores pintores de cenas campestres e de animais.
Dupré era muito exigente com a sua arte, observava com delicadeza e verdade a vida dos trabalhadores rurais que reproduzia com fidelidade nas suas telas. Possuía um dom muito apurado para jogar com as cores, a luz e as sombras de molde a dar vida, força e movimento aos seus quadros.
Em vida, foi alvo de variadas homenagens e recebeu numerosos prémios e galardões, nomeadamente a Medalha de Ouro na Exposição Universal de Paris e a Legião de Honra atribuída pelo governo francês.
Julien Dupré, In the Fields
Julien Dupré, Working on the Farm
Julien Dupré, The Young Milkmaid
Julien Dupré, Milkmaids in the Field
Pintura de Julien Dupré
Pintura de Julien Dupré
Pintura de Julien Dupré
Pintura de Julien Dupré
Julien Dupré, In the Fields
Julien Dupré, The Farm
Pintura de Julien Dupré
Pintura de Julien Dupré
Pintura de Julien Dupré
Pintura de Julien Dupré
Julien Dupré, A Cow in a Landscape
Julien Dupré, Working on the Farm
Pintura de Julien Dupré
Assim como falham as palavras quando queremos exprimir qualquer pensamento,
Assim falham os pensamentos quando queremos pensar qualquer realidade.
Mas, como a essência do pensamento não é ser dita, mas ser pensada,
Assim é a essência da realidade o existir, não o ser pensada.
Assim tudo o que existe, simplesmente existe.
O resto é uma espécie de sono que temos,
Uma velhice que nos acompanha desde a infância da doença.
Assim como falham as palavras quando queremos exprimir qualquer pensamento,
Assim falham os pensamentos quando queremos pensar qualquer realidade.
Mas, como a essência do pensamento não é ser dita, mas ser pensada,
Assim é a essência da realidade o existir, não o ser pensada.
Assim tudo o que existe, simplesmente existe.
O resto é uma espécie de sono que temos,
Uma velhice que nos acompanha desde a infância da doença.
1-10-1917
Alberto Caeiro, in “Poemas Inconjuntos”
(Heterónimo de Fernando Pessoa)
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