Obra de Luís Noronha da Costa
Praia
Os pinheiros gemem quando passa o vento
O sol bate no chão e as pedras ardem.
Longe caminham os deuses fantásticos do mar
Brancos de sal e brilhantes como peixes.
Pássaros selvagens de repente,
Atirados contra a luz como pedradas,
Sobem e morrem no céu verticalmente
E o seu corpo é tomado nos espaços.
As ondas marram quebrando contra a luz
A sua fronte ornada de colunas.
E uma antiquíssima nostalgia de ser mastro
Baloiça nos pinheiros.
Galeria de Luís Noronha da Costa
Sem título, 1970
Sem título, 1969, tinta celulósica sobre platex, 60 x 80 cm
Objeto 67
Luís Noronha da Costa
Luís Noronha da Costa, artista plástico e pintor português, nasceu em Lisboa em 1942.
Fez o curso de arquitetura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. Expôs individualmente pela primeira vez em 1962 (Lisboa, Paris, Munique); em 1966 expôs no Salão de Maio, SNBA, Lisboa, e no ano seguinte realizou uma mostra individual na Galeria Quadrante, Lisboa.
Em 1969 participou na Bienal de S. Paulo e foi-lhe atribuído o Prémio Soquil pela sua atuação na época de 1968-69; aos 27 anos de idade Noronha da Costa "reúne […] um consenso crítico e público muito alargado" no panorama artístico português.
Sensivelmente a partir de 1969 fixa os parâmetros da sua obra
pictórica posterior, frequentemente realizada com pistola de spray. "A orientação metafórica que caracteriza as pesquisas de Noronha da Costa traduziu-se […] numa pintura de imagens (por vezes copiadas de quadros clássicos) como vistas através de um écran desfocante [Sem título, 1969]. A indefinição da imagem é assim […] expressa, numa situação neorromântica que vai às fontes fantasmagóricas do surrealismo" "As imagens parecem […] ir entrando aos poucos num processo de desmaterialização […]; os seus quadros funcionam como écrans e, por isso, as imagens assumem-se sempre,
contra qualquer naturalismo, como afirmação de uma pura virtualidade,
isto é, de um espaço em que todo o acontecimento dá lugar (ou
protagoniza) a um espaço potencial. São por assim dizer, imagens de
imagens. E por serem assim é que nelas se aloja um princípio sistemático
de distância, ou de eco" .
De um modo mais sistemático e apaixonado do que outros, trabalha intensamente "o conjunto de questões que se colocam à pintura ocidental depois da falência do discurso unitário do classicismo", fixando-se num "pensamento discursivo dominado por características românticas: fragmentar, descentrado e subjetivo, individualista, em deriva e apaixonado, múltiplo e obsessivo, muitas vezes irónico e crítico". Irá abordar uma imagética que toma esse formulário em consideração: na sua pintura veremos surgir, por exemplo, "mares solitários avançando sobre praias desertas, mulheres e crianças de penteados e vestidos oitocentistas, veleiros, céus cenográficos e de coloridos intensos".
A sua obra não se circunscreve às artes plásticas, estendendo-se à área do cinema: "além de cinéfilo, Noronha da Costa foi cineasta, autor de alguns dos poucos e dos mais significativos filmes experimentais da vanguarda portuguesa".
Ao longo dos anos participou em inúmeras mostras coletivas, nomeadamente na Bienal de Veneza de 1970 (representação portuguesa), e Alternativa Zero (1977); expôs individualmente de forma regular em Portugal e no estrangeiro, destacando-se a sua longa colaboração com a Galeria Nasoni, a retrospetiva de 1983 na Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, e a exposição de 2003-04 no Centro Cultural de Belém, Lisboa.
Em 1999 foi-lhe atribuído o Prémio Europeu de Pintura pelo Parlamento Europeu e em 2003 venceu o Prémio AICA, Lisboa. (Daqui)
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