domingo, 15 de julho de 2012

"É como se tivesses mãos ou garras" - Poema de David Mourão Ferreira


Gustave Jean Jacquet (French, 1846-1909), The Cello Player, c. 1890
 


É como se tivesses mãos ou garras

I

É como se tivesses mãos ou garras
milhões de dedos braços infinitos
É como se tivesses também asas
libertas do minério dos sentidos
É como se nos píncaros pairasses
quando nas nossas veias é que vives
É como se te abrisses - ó terraço
rodeado de abutres e raízes -
sobre o perene pânico dos astros
sobre a constante insónia dos abismos
E é como se te abrisses e fechasses
sobre a antepalavra do Espírito
É como se morresses quando nasces
É como se nascesses quando expiras

II

Ó claridade Ó vaga Ó luz Ó vento
que no sangue desvendas labirintos
Ó varanda no mar sempre Setembro
Ó dourada manhã sempre Domingo
Ó sereia nas dunas irrompendo
com as dunas e o mar se confundindo
Ó corpo de desperta adolescente
já no centro de incógnitos caminhos
que por fora te aceitas e por dentro
pões em dúvida o sol do teu fascínio
Ó dúvida que avanças mas por entre
volutas de pavor que vais cingindo
Ó altas labaredas Ó incêndio
Ó Musa a renascer das próprias cinzas

III

Só tu a cada instante nos declaras
que renegas a voz de quem divide
Que a única verdade é haver almas
terrível impostura haver países
Que tanto tens das aves o desgarre
como o expectante frémito do tigre
tanto o céu indiviso que há nas águas
quanto o múltiplo fogo que há no trigo
Que és igual e diversa em toda a parte
Que és do próprio Universo o que o sublima
Que nasces que te apagas que renasces
em procura da límpida medida
Que reges o mais puro e o mais alto
do que Deus concedeu às nossas vidas


David Mourão-Ferreira
Ode à Música, Obra Poética, 1948-1988, 
4.º Edição Editorial Presença


Gustave Jean Jacquet, The Recital, 1898



Retrato de Gustave Jean Jacquet 


Gustave Jean Jacquet (Paris, França, 25 de maio 1846 – Paris, França, 1909), foi um pintor de retratos e cenas históricas.
Começou sua formação artística formal na "École des Beaux-Arts" em Paris, onde estudou com o principal pintor académico, William Bouguereau. Em 1865, então com 19 anos, estreou no Salão de Paris com uma pintura alegórica intitulada "O sonho", muito semelhante ao estilo de seu professor. Nos anos seguintes, porém, passou a pintar as cenas históricas que o consagrariam: telas de pequenas dimensões em que ele evocou, com a preocupação consciente do mais ínfimo pormenor, a vida elegante e sumptuosa dos Séculos XVI, XVII e XVIII. 
Como sua carreira progrediu e seu estilo amadurecera, Jacquet viajou por toda a Europa, absorvendo estilos nacionais e coletando artefactos históricos, tapeçarias, armaduras, tecidos e jóias dos períodos retratados em suas telas. 
Em 1868, foi premiado com uma medalha de terceira classe com sua tela "Saída do Exército no século 16". Na mesma época começou a fazer retratos, muitos com as modelos em trajes inspirados nas épocas passadas. 
Em 1875, obteve uma medalha de 1ª classe e, depois da receção positiva na Exposição Universal de 1878, foi condecorado pela "Légion d’honneur" (Legião de Honra) em 1879, uma clara indicação de seu sucesso.


Gustave Jean Jacquet, A Rare Beauty


Gustave Jean Jacquet, A Portrait of a Noble Lady


Gustave Jean Jacquet, Head of a Girl 


Gustave Jean Jacquet, Flora


Gustave Jean Jacquet, Portrait of a Young Beauty, 1875 
 

Gustave Jean Jacquet, The Belle in Blue
 
 
Gustave Jean Jacquet, Young Lady with a Black Hat, 1878
 

Gustave Jean Jacquet, The Reader 


Gustave Jean Jacquet, The Elegant Piper 


Pietro Mascagni: Cavalleria rusticana - Intermezzo


Pietro Mascagni (Livorno, 7 de dezembro de 1863 — Roma, 2 de agosto de 1945) foi um compositor italiano. Sua obra mais conhecida é a ópera Cavalleria Rusticana, escrita em apenas dois meses e baseada num texto do escritor italiano Giovanni Verga. Mascagni foi um expoente do período musical na ópera conhecido como verismo, do qual também foi precursor o compositor Ruggero Leoncavallo, autor da ópera "Pagliacci".


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