Adília Lopes, poetisa, cronista e tradutora, é o pseudónimo literário de Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira, nascida em Lisboa a 20 de Abril de 1960. Tem vivido sempre nesta cidade e na mesma casa, habitada pela família de sua mãe desde 1916. Desde 1982 que vive com gatos. «A Adília surgiu com um poema que escrevi no meu diário quando uma gata minha, a Faruk, desapareceu», contou numa entrevista a Carlos Vaz Marques. A mãe foi bióloga, assistente de Botânica na Faculdade de Ciências de Lisboa, e o pai professor de Desenho e sub-diretor da Escola Secundária Pedro de Santarém, em Benfica, Lisboa.
Adília Lopes começou por frequentar dois colégios de freiras, no ensino primário, e acabou a cursar Física, na Faculdade de Ciências de Lisboa, licenciatura que abandonou, quase completa, devido a uma psicose esquizo-afetiva, doença da qual sempre falou abertamente, fosse na sua poesia, crónicas, conferências ou entrevistas a meios de comunicação social. Deixou de estudar por conselho médico e começou a escrever com o intuito de publicar.
Concorre em 1983 a um Prémio de Prosa da APE, para o qual um amigo lhe sugere o pseudónimo por que ficará conhecida, e envia poemas para a editora
Assírio & Alvim, que remete dois deles para o seu
Anuário de Poesia: Autores não Publicados de 1984. Começa uma nova licenciatura, de Literatura e Linguística Portuguesa e Francesa (1983-1988), na Faculdade de Letras de Lisboa, e publica o seu primeiro livro de poemas em edição de autor,
Um jogo bastante perigoso (1985). O primeiro poema do livro evoca
Esther Greenwood, a narradora de
Câmpanula de vidro – um romance autobiográfico onde a poetisa norte-americana Sylvia Plath refletiu a depressão profunda que a afetou.
Ao longo do curso, Adília Lopes publicou outros quatro livros de poesia, entre os quais
O Poeta de Pondichéry (1986) – a sua obra mais traduzida, baseada numa enigmática personagem de
Jacques le fataliste, romance de
Diderot – e
O decote da dama de espadas (1988), reunião de poemas redigidos entre 1983 e 1987, louvado por vários críticos. Terminada a licenciatura, foi bolseira do Instituto Nacional de Investigação Científica (1989-1992), tendo trabalhado no Centro de Linguística da Universidade de Lisboa, no projeto de antroponímia de países de línguas românicas PatRom.
Não escreveu no período de 1987 a 1991 e, de certa forma, inicia nesse ano um novo ciclo, novamente em edição de autor, com
Os 5 livros de versos salvaram o tio, 250 exemplares para distribuição gratuita. Recusado por seis editoras, tem na capa, simbolicamente, a data do primeiro livro (1985), já não em capa branca mas cor-de-rosa.
Entre 1992 e 1997 faz publicar cinco livros de poesia, um dos quais em prosa
(A bela acordada), e especializa-se em Ciências Documentais (1995) na Faculdade de Letras de Lisboa. Trabalhou nos espólios de
Fernando Pessoa,
Vitorino Nemésio e
José Blanc de Portugal, este último padrinho de crisma da autora.
A Adília Lopes foi atribuída, em 1999, uma bolsa de criação literária do IPLB [Instituto Português do Livro e das Bibliotecas], apoio que lhe permitiu trabalhar para o teatro e «arrumar» a sua «arca» de dispersos e inéditos. A companhia de teatro
Sensurround, de
Lúcia Sigalho, levou então à cena um espetáculo baseado em textos seus intitulado
A Birra da Viva, obra central (e única a ser encenada) da trilogia
A Caixa em Tóquio. A bolsa permitiu ainda a publicação de três livros, sendo
Sete rios entre campos (1999), provavelmente, a obra mais autobiográfica de Adília Lopes.
No ano seguinte, foi publicado
Obra, reunião dos quinze livros de poesia de Adília Lopes, com ilustrações de
Paula Rego. A pintora, surpreendida, havia encontrado nos poemas um impressionante paralelo com o seu próprio imaginário: «fizeram-me logo lembrar a minha juventude, com as criadas, as bonecas, as mães ultraprotetoras. Adília Lopes é de um grande romantismo e ao mesmo tempo de um grotesco e de um cómico transbordantes.» Em resposta à cortesia, Adília traduziu para português
Nursery Rhymes (Rimas de Berço), um álbum de gravuras de Paula Rego baseadas nas clássicas rimas infantis inglesas.
Após a publicação de
Obra, Adília Lopes conheceu um relativo sucesso mediático, tendo participado em vários programas de televisão e recebido uma reforçada atenção de muitos críticos literários, embora desde 1998 já incluísse nos seus livros posfácios da autoria de académicos (Osvaldo M. Silvestre, Américo Lindeza Diogo, Manuel Sumares, aos quais se seguiram Elfriede Engelmayer e
Valter Hugo Mãe). É frequentemente inquirida sobre Adília Lopes ser uma personagem ou a própria Maria José.
As principais influências literárias assumidas por Adília Lopes são
Sophia de Mello Breyner Andresen e
Ruy Belo, mas também a
Condessa de Ségur,
Emily Brontë,
Enid Blyton,
Roland Barthes ou
Nuno Bragança. Por sua vez, Elfriede Engelmayer considera Mariana Alcoforado, das
Cartas Portuguesas, como um «subterrâneo pseudónimo» na obra de Adília, ao qual ela regressa episodicamente.
O estilo da poetisa, aparentemente coloquial e
naïf, está repleto de jogos fonéticos, associações livres, rimas infantis e idiomas estrangeiros. Os temas do quotidiano, principalmente femininos e domésticos, são tratados com humor e auto-ironia, candura e crueza, inteligência e intencionalidade: «há sempre uma grande carga de violência, de dor, de seriedade e de santidade naquilo que escrevo». É Adília, católica praticante que por vezes transporta uma profunda religiosidade para o que escreve, que se define a si própria como «tímida desenrascada» ou «freira poetisa barroca».
Colaborou com poemas, artigos ou poemas traduzidos, em diversos jornais e revistas, nacionais e estrangeiros. Está incluída em várias antologias e participou em inúmeros encontros de poesia.