segunda-feira, 7 de março de 2022

"Quem disse alguma vez que há deuses lá nos céus?" - Poema de Eurípides


Canaletto [Venice, Venetian Republic (now Italy), 1697–1768], 
Bucentaur's return to the pier by the Palazzo Ducale. An 18th-century view of Venice.

 
Quem disse alguma vez que há deuses lá nos céus?
(Trecho de Belerofonte)


Quem disse alguma vez que há deuses lá nos céus?
Não há, não há, não há. Não deixem que ninguém,
mesmo crente sincero nessas velhas fábulas,
com elas vos engane e vos iluda ainda.
Olhai o que acontece, e dai a quanto digo
a fé que isto merece: eu afirmo que os reis
matam, roubam, saqueiam à traição cidades,
e, assim fazendo, vivem muito mais felizes
que quantos dia a dia pios são e justos.
Quantas nações pequenas, bem fiéis aos deuses,
sujeitas são dos ímpios com poder e força,
vencidas por exércitos que as escravizam.
E vós, se em vez de trabalhar rezais aos deuses,
e deixais de lutar para ganhar a vida,
aprendereis que os deuses não existem. Que
todas as divindades significam só
a sorte, boa ou má, que temos neste mundo. 
 
 in «Poesia de 26 Séculos».
Tradução de Jorge de Sena,
Antologias Universais, Edições ASA, 2002
 
 
Eurípides, dramaturgo grego
 

Eurípides
 
Trágico grego nascido em 480 a. C. e falecido em 406 a. C. na Macedónia.
Segundo os autores cómicos, a sua mãe teria sido hortaliceira. A verdade, porém, é que teve uma excelente educação complementada com leituras dos filósofos e contactos com pensadores de renome.
Dedicou-se exclusivamente à arte e nunca se preocupou com a política.
O seu carácter solitário e sombrio acentuou-se ainda com os ataques constantes dos autores cómicos e com os frequentes desaires da sua carreira literária.
Da sua obra, uma centena de peças, chegaram até nós dezassete tragédias, tidas como autênticas, das quais as mais célebres são: Alcestes, Medeia, Hipólito, Troianas, Andrómaca, Ifigénia em Áulide e Ifigénia em Táuride. É conhecido também o seu drama satírico Ciclope.
Embora não tenha trazido nada de novo à forma exterior da tragédia, o sistema dramático de Eurípides orienta-se para a variedade e o patético e nisto se distingue dos seus predecessores.
Do ponto de vista da estrutura, as peças de Eurípides são de valor bastante desigual, ou nos dá uma intriga bem ligada, como em Ifigénia em Áulide, como, mais frequentemente, nos fornece um desfiar de quadros independentes e sem nexo, como em Andrómaca.
A separação do coro e da ação é muito clara.
É evidente em Eurípides o desejo de comunicar emoções fortes ao espectador e de o manter em contínuo suspense.
Há uma chamada constante à piedade pela exposição do sofrimento moral, da dor física e da miséria.
Apesar de considerado um inimigo sistemático das mulheres, são os caracteres femininos que ele melhor consegue retratar.
O estilo de Eurípides distingue-se, nas partes líricas, pela sua leveza, quase inconsistência; nos diálogos da ação, pela linguagem simples, coloquial.
Eurípides viveu numa altura em que o poder de Atenas diminuía, a democracia se transformava em demagogia, e o ceticismo se espalhava através do ensino dos sofistas. Eurípides procurava, pela boca das suas personagens, contrariar estas tendências, com as suas ideias pessoais e ousadas.
As suas convicções religiosas não são tão fortes como as dos seus predecessores, mas é um defensor convicto da democracia. (Daqui)

 
 
 
Canaletto 

 
Pintor e gravador veneziano, nascido em 1697 e falecido em 1768, Canaletto é o nome pelo qual ficou conhecido Giovanni Antonio Canal. Com grande minúcia na exploração dos contrastes de luz, pintou principalmente paisagens urbanas, tanto de Veneza como de Londres, cidade à qual efetuou diversas viagens a partir de 1746. Entre outros trabalhos, Piazza S. Marco con la basilica di fronte e Casa della vecchia guardia di St James Park são merecedores de referência. (daqui)
 

 

 
 
 

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