terça-feira, 1 de março de 2022

"Neurastenia" - Poema de Florbela Espanca


Ludwig Michalek (Austrian,1859-1942), Auf der Reise (On the Journey), 1886 



Neurastenia 


Sinto hoje a alma cheia de tristeza!
Um sino dobra em mim Ave-Maria!
Lá fora, a chuva, brancas mãos esguias,
Faz na vidraça rendas de Veneza ...

O vento desgrenhado chora e reza
Por alma dos que estão nas agonias!
E flocos de neve, aves brancas, frias,
Batem as asas pela Natureza...

Chuva... tenho tristeza! Mas porquê?!
Vento... tenho saudades! Mas de quê?!
Ó neve que destino triste o nosso!

Ó chuva! Ó vento! Ó neve! Que tortura!
Gritem ao mundo inteiro esta amargura,
Digam isto que sinto que eu não posso!!... 
in "Livro de Mágoas",  2019, pp. 28-29
 
 
 

O «Livro de Mágoas», a primeira obra de Florbela Espanca a ver as bancas das livrarias, é editado em Junho de 1919 por Raul Proença, ao tempo um intelectual e crítico literário conceituado e influente, que reconhece o talento da jovem poetisa, quando ela lhe envia um caderno contendo onze poesias de «Trocando Olhares» e apropriadamente chamado «Primeiros Passos», em Julho de 1916. Depois de os poemas serem corrigidos pelo crítico, Florbela escreve-lhe, de novo, acerca das críticas que ele lhe fizera e enviando mais alguns sonetos, que viriam a integrar o «Livro de Mágoas». Como em toda a sua produção poética publicada em vida, os sonetos aparecem alterados, por vezes, drasticamente.

No «Livro de Mágoas», dedicado ao seu pai, o seu melhor amigo, e à alma que considera irmã da sua, o seu irmão, Florbela centra-se na temática da mágoa, da dor e da saudade, inserindo-se, desde o início da obra, num contexto decadentista e, por vezes, turtuoso. À obra, que abre com uma epígrafe a Eugénio de Castro e a Verlaine, não falta o tom finissecular, dado pela tendência para chorar e lamentar-se que se manifesta ao longo da obra, que inclui sonetos como «Vaidade», «Neurastenia», «Castelã» e «Em Busca do Amor».

Abordando igualmente a temática do sonho, Florbela define para si um espaço poético único, isto é, faz do «Livro de Mágoas» um espaço poético com características muito peculiares. Quere-o, no fundo, como um espaço de comunicação entre os tristes e magoados, intenções que lembram António Nobre e o seu «», e que a poetisa expõe logo no primeiro soneto, «Este livro…».

Apesar de desconhecida no meio literário da época, pode-se dizer que o sucesso de Florbela foi assinalável, já que a sua primeira obra, tal como a segunda, esgotaria rapidamente. (Daqui)
 
 
 
Ludwig Michalek, My Mother (Evening Mealtime)


"Em época de paz, os filhos enterram os pais, enquanto em época de guerra são os pais que enterram os filhos."

Heródoto, in Histórias
 
 
Estátua de Heródoto diante do Parlamento Austríaco (daqui)
 

O historiador grego Heródoto nasceu em Halicarnasso, na Ásia Menor, por volta de 484 a. C., e morreu em Túrio cerca de 425 a. C. A vontade de se instruir, cedo manifestada, foi satisfeita com viagens por todo o mundo grego e ainda pela Pérsia e pelo Egito.

A obra de Heródoto é intitulada Histórias, de uma palavra grega que significa «informação». Este título serviu posteriormente para designar o próprio género literário. A obra está dividida em nove livros, cada um dos quais tem o nome de uma das musas. Este conjunto de nove livros está dividido em duas partes: Antes das Guerras Médicas - Livros I-IV (correspondentes às musas Clio, Euterpe, Tália e Melpómene); Guerras Médicas - Livros V a IX (correspondentes a Terpsícore, Érato, Polímnia, Urânia e Calíope).

A obra de Heródoto é um manancial de ensinamentos. Antes da decifração dos hieróglifos, a sua obra era o único documento sobre o antigo Egito Antigo
Embora não possa ser posta em dúvida a sua sinceridade, é incontestável que as suas fontes são muito díspares. Viu muito, mas também diz muito por ouvir dizer. Além disso, falta-lhe o espírito crítico: mistura anedotas com factos importantes, põe em dúvida alguns acontecimentos, mas aceita outros igualmente pouco críveis.

A religião, a moral e o patriotismo dão particular grandeza à obra de Heródoto. Por outro lado, Heródoto é um admirável contador. As narrações e os discursos são encantadoramente naturais e as descrições são coloridas e precisas. O estilo é cheio de doçura e simplicidade, e para isso ajuda muito o uso da língua jónica. (daqui)

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