Isaac Levitan (Russian landscape painter, 1860-1900), The Quiet Cloister, 1890
A Lenda dos Cisnes
(A Júlio Dantas)
Gedulde Dich, stilles, hoffendes Herze! Was Dir im Leben versagt ist, weil
Du es nicht ertragen könntest, giebt Dir der Augenblick Deines Todes.
Da praia longínqua, na areia dourada,
O Cisne pensava, fitando a Alvorada:
– «Que imensa ventura, na minha mudez,
Se dado me fosse cantar uma vez!
Meu canto seria, na luz do arrebol,
Dos hinos mais altos à glória do Sol...
Não é das gaivotas e gansos do lago
O canto que em sonhos ardentes afago;
É quando nos bosques as aves escuto
Que a inveja confrange minh'alma de luto.
Se a Aurora se lança do cume dos montes,
Até d'alegria murmuram as fontes;
Só eu, passeando o meu tédio supremo,
Nem rio, nem choro, nem canto, nem gemo.
Oh Sol, que já vejo surgindo do Mar,
Tem dó de quem, mudo, não pode cantar!» –
E o Cisne, em silêncio, chorava, escutando
A orquestra das aves que passam em bando.
Das águas rompia a quadriga d'Apolo,
E o pobre a cabeça escondia no colo...
Mas Febo detém-se nas nuvens ao vê-lo,
Com feixes de raios no fulvo cabelo,
E diz-lhe, sorrindo, num halo de fogo:
– «No Olimpo sagrado ouviu-se o teu rogo...» –
E nesse momento a Lira Sem Par
Da mão luminosa deixou resvalar...
O Cisne, orgulhoso da graça divina,
Da Lira d'Apolo as cordas afina,
E rompe cantando... Calaram-se as fontes,
Calaram-se as aves... As urzes dos montes
Tremiam de gozo a ouvi-lo cantar...
E o vento sonhava na espuma do Mar.
O Cisne cantava, tirando da Lira
Um hino que nunca na terra se ouvira;
Não para, nem sente, na sua emoção,
Que a vida lhe foge naquela canção.
Mas quando, entre nuvens, a tarde caía
no enlevo do canto que a essa hora gemia,
E Apolo no seio de Tétis desceu,
O pobre do Cisne, cantando, morreu...
Gemeram as aves; choraram as fontes;
Torceu-se nas hastes a giesta dos montes,
E o mar soluçava na tarde sombria,
Que o manto de luto com astros tecia.
Solícita espera-o, das águas à beira,
Do Cisne, já morto, fiel companheira;
Espera que o Esposo de pronto regresse,
Mas treme e suspira, que a Noite já desce...
As águas luzentes parecem-lhe, ao vê-las,
Um pano d'enterro picado d'estrelas.
Então, no seu luto, sentindo que morre,
Oceanos e praias distantes percorre;
Mergulha nas águas, coleia nas ondas,
Espreita as galeras de velas redondas,
Que ao longe parece que vão a voar...
E o Cisne não volta, não pode voltar!
Chorosa viúva, nas águas desliza,
Levada na fresca salsugem da brisa...
No seu abandono nem sente canseira;
Caminha, caminha, fiel companheira,
Chorando o perdido, desfeito casal...
Tão funda era a mágoa, tão grande o seu mal,
Que o peito sentindo de dor estalar,
– De dor e d'angústia começa a cantar!
E canta com tanta ternura e paixão,
Que a Vida lhe foge naquela canção.
As aves despertam; calaram-se as fontes
Nas hastes tremiam as urzes dos montes;
A Lua escutava; detinha-se a Aurora,
E as vagas gemiam no vento que chora...
Na terra, no espaço, nos astros, no céu,
Mais alta harmonia ninguém concebeu;
E os Deuses recebem, ouvindo-a, a chorar,
A alma do Cisne que expira a cantar...
Desde esse momento, no Olimpo onde entraram,
Em honra dos Cisnes que tanto se amaram,
Das almas que foram leais e sinceras,
se Vénus se mostra, surgindo da bruma,
São eles que tiram, nas altas esferas,
A concha de nácar, cercada de espuma...
Isaak Ilich Levitan (Kybartai (
Lituânia), 1860 -
Moscou/
Moscovo, 1900) foi um pintor russo de origem judaica, que pertenceu ao movimento dos
Itinerantes. Expressou nas suas paisagens a beleza da região do
Volga.
O seu pai Elyashiv Levitán foi um humilde professor de línguas e
tradutor que partiu para Moscovo para permitir que o seu filho Isaac
estudasse na Academia dessa cidade. Isaac ingressou nessa Academia aos
19 anos e pintou o seu primeiro quadro
"Paisagem de Outono" (1880) que
foi comprado pelo colecionador Pável Mijáilovich Tretiakov, com quem Isaac travara uma amizade. Tretiakov ofereceu-lhe uma bolsa para estudar em Paris e foi a única vez que Levitán saiu da Rússia. Na sua viagem conheceu as obras do paisagista
realista Jean-Baptiste Camille Corot, antecessor do
impressionismo e mestre de outro de família judaica:
Camille Jacob Pissarro, famoso impressionista francês. Voltou à sua Rússia
natal e desenvolveu a sua carreira como pintor. Aos 37 anos foi
nomeado membro da Academia de Artes Russa e diretor do departamento de
pintura de paisagens.
O pintor e
Anton Tchekhov (escritor e dramaturgo) foram amigos e admiradores mútuos.
Isaac Levitan morreu aos 40 anos devido a uma doença pulmonar. O chamado "pintor-poeta" deixou milhares de telas. A sua pintura ao ar livre captou com pincelada ligeira e admirável
realismo as subtis gradações da espessa luz solar e as finas
camadas de cor das sombras.
(Daqui)
Isaac Levitan, Oak, 1880
Isaac Levitan, Dacha in spring, gouache and watercolour on board (after 1890)
Isaac Levitan, Autumn. A Manor House, 1894
Isaac Levitan, Sunny Day, Spring, 1876
Isaac Levitan, March, 1895
“A arte deve ligar-se estreitamente com a vida (como função intensiva desta). Fundir-se com ela ou perecer.”
(Vladimir Maiakovski)
Vladímir Vladímirovitch Maiakovski (1893-1930) foi um dos maiores
poetas do século XX, sendo ainda dramaturgo e teórico russo, e
considerado como o poeta da revolução e do futurismo.
Impressionado
pelo movimento revolucionário, ingressou na fação bolchevista do
Partido Social-Democrático Operário Russo quando tinha apenas quinze
anos. Capturado três vezes, foi libertado por falta de provas em duas
dessas ocasiões. No entanto, entre 1909 e 1910, acabou por passar onze
meses na prisão.
Entrou na Escola de Belas Artes, onde conheceu
David Burliúk, o grande mentor da sua iniciação poética. Os dois amigos
fizeram parte do grupo fundador do chamado cubo-futurismo russo, ao lado
de Khlébnikov, Kamienski e outros.
Após a Revolução de Outubro, o
grupo manifestou o seu apoio ao novo regime. Durante a Guerra Civil,
Maiakovski dedicou-se à criação de desenhos e legendas para cartazes
propagandistas. Em 1923, fundou a revista LEF (de Liévyi Front, Frente
da Esquerda), que reuniu a "esquerda das artes", isto é, os intelectuais
(escritores e artistas) que pretendiam aliar a forma revolucionária a
um conteúdo de renovação social.
Maiakovski viajou muito pelo
país e pelo mundo, divulgando a sua arte e aparecendo diante de vastos
auditórios para os quais lia os seus poemas. Entrou repetidamente em
conflito com os "burocratas" e com aqueles que pretendiam reduzir a
poesia a "fórmulas mais simples", chegando a ser pressionado e
perseguido por oficiais, que desejavam instaurar uma literatura
"simplista e dita realista".
Homem de grandes paixões, arrebatado
e lírico, épico e satírico, Vladímir Maiakovski ter-se-á suicidado em
1930, aos 36 anos, com um tiro no peito. Este facto é, no entanto,
disputado por sua filha, Elena Maiakovskaia.
(Daqui)